A verdade

Querubim Silva Padre. Diretor

Querubim Silva
Padre. Diretor

Os direitos liberdades e garantias, uma vez reconhecidos, não me parece que velar pelo respeito dos mesmos, garanti-los a todos, seja uma daquelas áreas em que se tenham de procurar consensos políticos. O respeito e a defesa da democracia não podem estar sujeitos a consensos políticos. Portanto, é uma falácia pôr o problema nesse pé. Há de haver, por isso, alguma confusão na cabeça do senhor Presidente da República, quando diz que o consenso “infelizmente, para já, não é possível na educação”.
Na mesma altura, e em Paris, o senhor Primeiro Ministro deixou antever a questão por encerrada, depois de, no seu entender, se ter ultrapassado o burburinho gerado à volta do assunto, como se a arrogância de um Ministro e de uma Secretária de Estado pudessem abafar a razão. Ignoram, por certo, a força da verdade. Nunca ouviram, certamente, as palavras do saudoso D. António Marcelino, precisamente referidas a esta tentativa descarada de assassínio da liberdade, da liberdade de escolha, da liberdade de educação: “Não morremos, nem que nos matem”. Porque a história julgará os prevaricadores. E os defensores da democracia poderão ser silenciados, mas ressurgirão das cinzas!
Finalmente caíram as máscaras. O argumento da delapidação do erário às mãos dos “gananciosos” caiu, pela sua mentira, pela sua inconsistência. Como bem escreveu Alexandra de Almeida Ferreira: “Vamos a números: os contratos de associação já tinham sido revistos e atribuem uma verba de 80.500 euros por turma. Ao Estado custa cerca de 100 mil euros. Os números são oficiais e serviram de base ao relatório do Tribunal de Contas. São estes, não outros. Sem o argumento dos euros a que se agarrou este Governo, agora sim, valem os outros: o da liberdade de escolha para quem não pode pagar o Liceu Francês. O argumento da proximidade para quem não pode pagar os Maristas. O argumento da qualidade para quem não pode pagar o St. Julian’s.”
Caíram as máscaras, porque o problema não é de consensos, nem de impacto orçamental. Foi o próprio Governo que o reconheceu, como escreve ainda a mesma colunista: “Finalmente, o Governo diz que afinal a questão não é economicista. Então resta a outra, a ideológica. É isto que fazem as decisões puramente ideológicas: têm em conta a vontade arbitrária do legislador, que se dispensa de racionalidade e de argumentação fundamentada. Que destrói a ideia de que podemos e devemos governar em função de critérios vários mas sempre com a coisa pública em mente: as pessoas e não os caprichos de uma certa classe política.”
Para culminar, remata Alexandra Almeida: “O Presidente disse este fim-de-semana que na Educação seria difícil consensos. Devia ser fácil. A razão antes da demagogia.” E, porque “não há machado que corte a raiz ao pensamento”, continuaremos de pé, até que se desfaçam as geringonças ideológicas e a educação seja em função dos alunos, das pessoas, das famílias, e não em função de ideologias totalitárias ou de corporativismos atávicos.