Como usar a Bíblia

LER A BÍBLIA EM 100 EPISÓDIOS
Piero Stefanie e Luciano Zappella
Paulus
15 euros

 

O que este livro nos propõe é uma aproximação à Bíblia através das grandes temáticas. É preciso reconhecer que, apesar de todos os esforços (note-se que a Diocese de Aveiro tem insistido neste campo, com as sucessivas propostas de lectio divina, isto é, leitura orante dos textos bíblicos, principalmente dos evangelhos), os católicos ainda estão muito distantes da Bíblia e quase todos os esforços de aproximação começam com conhecimentos introdutórios e não com um mergulho direto no texto bíblico, como é o caso deste livro.

Piero Stefanie (professor na Universidade de Ferrara, Itália, e presidente da “Bíblia – Associação laical de cultura bíblica”) e Luciano Zappella (presidente do Centro Cultural Protestante de Bergamo, Itália) propõem uma introdução à Bíblia lendo os textos de doze grandes temas, geralmente presentes do primeiro ao último livro da Bíblia. São eles: Episódios de nascimento; Amor entre encanto, sedução e violência; Famílias atormentadas: pais, filhos, irmãos; O trabalho humano; Sofrimento, velhice, morte; Os chamamentos de Deus; As obras e as ordens de Deus; O Deus da Aliança; A oração; Riqueza e pobreza; O exercício do poder e a justiça social; Da história ao mundo que virá.
Em cada um destes temas são propostos cerca de uma dezena de textos. Tomemos como exemplo o décimo capítulo, “Riqueza e pobreza”. Surgem os textos de bênçãos (“as consequências positivas da Aliança”) e de maldições (as consequências negativas) do Deuteronómio, as riquezas de Salomão, as reflexões de Eclesiastes sobre as riquezas, as denúncias de Amós sobre a irresponsabilidade dos ricos e a moral dupla, a parábola de Jesus sobre o rico e o pobre Lázaro, as reflexões de Tiago sobre a exploração dos trabalhadores, as Bem-aventuranças de Jesus e, por fim, um texto sobre “um encontro que transforma a vida”, ou seja, Jesus e o rico Zaqueu.
A justificação para este tipo de abordagem, antológica, digamos assim, surge logo na introdução. “Considerada sem cortes nem reducionismos, a Bíblia contém um amplo reportório de arquétipos religiosos, culturais e antropológicos, das autênticas formas da história e do ser-se da história. É um facto que na Bíblia existe uma pluralidade de vozes: há universalismo e particularismo, fé e incredulidade, erotismo e ascetismo, submissão e religião, paz e guerra, pessimismo e otimismo. Como também é um facto incontornável que as personagens bíblicas não são modelos de uma moral ideal e imaculada, mas seres humanos multiformes que não escondem as próprias debilidades, os próprios limites, as próprias contradições” (pág. 7). A Bíblia é o livro da vida e do encontro de Deus com a humanidade. Por isso, está lá tudo.