Crise de crescimento ou fascinação do vazio?

Teilhard de Chardin, um homem de ciência, que sofreu muito por ter a ousadia de ver para além do que viam muitos do seu tempo, dizia que, quando ganhamos tranquilidade no meio do bulício exterior que nos envolve, quer estejamos sós, quer com gente que sintoniza connosco, facilmente nos damos conta de que a humanidade se encontra numa larga travessia de crise de crescimento.

Sublinho o cuidado com que explicita, que um tão lúcido e consequente diagnóstico necessita de tranquilidade interior e de distanciamento, que permitam observar as pessoas e os acontecimentos que tecem a história, e comparar, valorar e perscrutar o sentido que as coisas vão tendo ou vão perdendo, pela sua caminhada no tempo.

Cada vez se pensa menos e, muita gente, quando pensa, no seu horizonte não cabem mais que os interesses materiais a satisfazer ou a defender. Sem conteúdos reflectidos que as alimentem, as vidas tornam-se cada vez mais vazias, os sentimentos mais superficiais, os interesses mais conflituosos, as pessoas menos pessoas.

A crise de crescimento, numa óptica positiva, pressupõe luta, compreensão e enfrentamento dos conflitos, pessoais e sociais, pressupõe avaliação das situações, projectos em acção, resistência para não desistir. Em tudo isto é importante que haja um crescimento que se oriente para a maturidade.

O cientista jesuíta, na sua visão de lince, olhou o mundo e a humanidade a partir da riqueza ímpar da sua origem, apreciou a sua caminhada histórica com as vicissitudes por que foi e vai passando, e anteviu, por fim, um ponto alto sempre em realização e aperfeiçoamento, a denunciar crescimento e afirmação. A crise significa, assim, a permanente tendência para a harmonia inicial que conta, por certo, com a colaboração inteligente e permanente de pessoas, conscientes da sua missão e livres para nela se inserirem sem constrangimentos.

Pessoas conscientes e livres não se inventam, nem são uma espécie rara que, por condão, apenas comporta uns tantos privilegiados. A consciência e a liberdade são dons com que a natureza brinda a todos. Há que cultivá-los e torná-los úteis e construtivos, o que não se compadece com uma sociedade de palpites e opiniões de rua, de prémios sem cultura nem trabalho, de ganhos por acaso, da obsessão do económico a fazer a cobertura de todos os valores.

Uma sociedade a desfazer-se por falta de resistências morais e éticas não será nunca parte da solução, mas será, antes, parte da sua própria crise.