Dezanove sorrisos e meio

À Luz do Dia É impossível ficar indiferente quando alguém nos faz um sorriso aberto e sincero. Ninguém é imune àquela que foi considerada a mais subtil das expressões humanas e, mesmo sem termos consciência, todos reagimos a um sorriso. São muito raros os que permanecem gelados e, quando acontece, revelam uma insensibilidade quase chocante.

Em matéria de reacções bizarras, aliás, abro aqui um parêntesis para referir as inúmeras vezes que nos cruzamos em elevadores com pessoas impassíveis e incapazes de cumprimentar à entrada ou à saída. Confesso que esta casta de gente olimpicamente alheia à presença física dos outros me incomoda e perturba sempre. Ou seja, não consigo nunca deixar de reparar na falta de educação daqueles que entram e saem de um cubículo, que sobe e desce carregado de pessoas, como se não as vissem nem ouvissem. E fecho o parêntesis.

Pode acontecer não devolver-mos um sorriso por excesso de distracção ou por uma preocupação súbita mas, na realidade, reparamos sempre que alguém nos sorri.

O sorriso é uma linguagem silenciosa, que diz tanto ou mais do que as próprias palavras e traduz muito daquilo que em nós permanece mudo ou, de alguma forma, secreto.

As pessoas também se revelam pela naturalidade e facilidade com que sorriem.

Mais ou menos frequentes, na realidade existem sorrisos polidos, elegantes, irónicos, francos, acolhedores, sedutores, felizes, tímidos, cúmplices, generosos, defensivos, corajosos, comovidos, desarmantes, e por aí adiante. Dizem os especialistas que há 19 tipos de sorriso e que cada um convoca músculos diferentes e transmite ao cérebro mensagens distintas. Ou seja, antes de ser um sinal afectivo, é um mecanismo cerebral, pois tudo começa por um estímulo da parte anterior do hipotálamo, uma glândula situada na base do cérebro. Os cientistas citados pela revista Psychologies esclarecem que, tal como uma onda, esta excitação inicial transmite um fluxo nervoso ao sistema límbico, que é, por definição, o lugar das emoções. Assim sendo, o tónus muscular relaxa e desenham-se as expressões faciais de simpatia, prazer ou contentamento.

Curisosamente, se o estímulo começar na parte posterior do hipotálamo, as reacções faciais são de zanga, ira ou desprazer. Há sorrisos famosos e eternos, como o de Mona Lisa; e há outros completamente anónimos, mas que nos tocam e são capazes de transformar uma situação banal num momento especial. Olhando para esta casta de sorrisos possíveis e imaginários, até posso concordar que existam 19 tipos de sorrisos, mas atrevo-me a juntar mais um: o meio sorriso, sempre tão misterioso e atraente.