Evitar a esperança vã

Questões Sociais 1. As oposições e os descontentes políticos atribuem as dificuldades actuais aos governos do Dr. Santana Lopes e do Dr. Durão Barroso. Há cerca de dois anos atribuíram-nas aos governos do Engº António Guterres e, mais atrás, aos do Prof. Cavaco Silva. Se continuarmos a recuar, deparamos repetidamente com o mesmo fenómeno.

As oposições e os descontentes políticos chegam a dar a entender que a contestação do governo tem força bastante para se resolverem os problemas do país.Ou, então, que basta fazer algo diferente do governo anterior para que as soluções aconteçam.

Esta maneira infantil de viver a política acha-se profundamente enraizada entre nós. Recebeu um forte impulso com a chamada “geração de 70” (1870) e continua a minar toda a racionalidade política.

2. Ao contrário desta visão maniqueísta e imediatista, impõe-se-nos reconhecer que os nossos males colectivos têm causas mais profundas e implicam actuações coerentes, nessa conformidade, quaisquer que sejam o mérito e o demérito de cada governo. Aliás, na própria “geração de 70”, não foi descurada esta abordagem que mereceu uma especial atenção de Antero de Quental.

As causas profundas das nossas dificuldades (ou da nossa decadência, como referia Antero) não podem ser abordadas nesta breve nota. Em contrapartida, justifica-se lembrar três causas, mais palpáveis, de natureza social e financeira. São elas: a insuficiência dos rendimentos do país face às necessidades e aspirações da população; o crescimento das necessidades e aspirações a um ritmo superior ao dos rendimentos; e uma dinâmica promotora de desigualdades, divisões e pobreza.

3. Será vã a esperança de solução dos problemas do país, à margem destas três realidades. E, em boa verdade, elas nunca foram assumidas nem na esfera governamental, nem na partidária nem nos movimentos ou instituições da sociedade portuguesa.

Para que tais realidades sejam contrariadas com um mínimo de eficácia impõe-se que não só as “principais” forças políticas mas também os movimentos e instituições, com maior e mais profunda implantação na sociedade, procurem e saibam, ser verdadeiramente responsáveis, justo e solidários.