Fazer, não só dizer

Querubim Silva Padre. Diretor

Querubim Silva
Padre. Diretor

A impressão com que fico é que há “diversões políticas”, para desviar a atenção das questões sérias que o OE levanta: na educação, na saúde, na cultura, na política familiar… O “humor negro” é a pretensão de iludir o povo com “pão e circo”.
“Jesus Cristo, como aliás todos nós, tem um só pai e uma única mãe, não dois pais sem nenhuma mãe, nem duas mães sem nenhum pai. Isto não é religião, nem ideologia; é genética e biologia” – escreve o Padre Gonçalo Portocarrero.
E prossegue na mesma linha de estremar águas, esclarecendo aquilo que parece ser aproveitar-se da situação para, considerando o povo como ignorante, espargir uma punção mágica que tolde os espírito e venda facilmente a confusão.
“O outro erro é a insinuação de que haja alguém que «também» tenha dois pais. Ninguém há que os tenha, porque todos os seres humanos, sem exceção, são filhos dos seus progenitores, que são sempre uma mulher e um homem. Da mesma forma como é uma falsidade dizer que Cristo tinha dois pais, é igualmente mentirosa a afirmação de que alguém tenha dois progenitores do mesmo sexo. Por mais que a lei civil permita uma tal aberração, só é viável a geração havida de um homem e de uma mulher. Isto não é religião, nem ideologia; é genética e biologia” – conclui Portocarrero.
A desculpa esfarrapada de que não se pretende ofender a Igreja nem os crentes, mas simplesmente dizer que há “famílias” diferentes, que sempre as houve, para justificar uma lei contranatura que consagra a união de pessoas do mesmo sexo, não colhe.
O mesmo autor acrescenta: “Claro que a deputada tem tanta razão como teria quem, afixando cartazes com a imagem dela, neles escrevesse a frase «Em Portugal há políticos corruptos» e depois, em jeito de desculpa, dissesse que não pretendia ofender a deputada, nem o Bloco de Esquerda, mas apenas mostrar às pessoas que sempre existiu corrupção entre os políticos e que, portanto, essa não é uma realidade nova, nem recente…”.
Não irá aparecer, um dia destes, um cartaz com a morte de Jesus, para publicitar a eutanásia? É bem provável! Sobretudo enquanto nós, cristãos, crentes, perseverarmos na rota de uma privatização da Fé, omitindo a nossa voz na praça pública, enquanto tivermos vergonha de gritar que democracia não é igual a “vale tudo”.
Estas leis só são aprovadas porque colhem votos. E onde estão os cristãos, ao escolherem quem os represente no areópago da República? E onde estão os eleitos que tantas vezes se confessam de formação cristã e católica? “Dizer e não fazer é um engano” – advertiu o Papa Francisco. É “um engano que nos leva exatamente à hipocrisia”. “Ser cristão significa fazer: fazer a vontade de Deus”. A concluir, o Papa convidou a rezar a fim de que “o Senhor nos dê esta sabedoria de compreender bem onde está a diferença entre o dizer e o fazer e nos ensine o caminho do fazer ajudando-nos a segui-lo, porque a via do dizer nos leva ao lugar onde estão os doutores da lei, os clérigos que gostavam de se vestir e parecer como reizinhos”. E remata: Mas “esta não é a realidade do Evangelho!”.