Fraternidade, alegria ou nostalgia

É um dado curioso a existências de confrarias laicas, embora algumas delas não dispensem o nome ou o patrocínio de algum santo, às vezes, de modo menos feliz, unido a outro título. Ligam-se a tradições e a costumes locais, como a comida e os hábitos da região, ou outros valores, de igual sentido, que se querem promover e defender.

Uma confraria é, por sua natureza, uma associação de confrades ou “irmãos”, que se congregam, em clima de convívio e estima mútua, à volta de um objectivo comum. Também se chamam irmandades ou associações de irmãos, designação que se mantém nas de carácter religioso, as quais se denominam, ao mesmo tempo, igualmente confrarias.

A tradição e a natureza canónica das confrarias cristãs marca a sua dimensão cultual. São destinadas à promoção e solenidade do culto cristão, em razão de um mistério sagrado, como as Confrarias do Senhor ou do Santíssimo Sacramento, ou relacionadas com a devoção e as festas dos santos para a sua maior solenidade, ou com os defuntos para as suas exéquias e sufrágios, como as Confrarias das Almas. Muitas delas aliam o culto à acção social, como as Irmandades das Misericórdias.

A Igreja vem-se empenhando na dignificação destas associações de leigos cristãos. Algumas deixaram-se corroer, ao longo do tempo, por tradições e acções que entraram na rotina e esqueceram a sua dimensão de confrarias ou irmandades. Por força do seu estatuto ou “compromisso”, serão sempre associações de “irmãos” na fé, que visam, pelas acções que realizam, favorecer, apoiar e promover o espírito de fraternidade entre as pessoas do lugar. Todo este esforço de dignificação se vem traduzindo na actualização dos estatutos, beleza e cuidado das insígnias, participação de senhoras na associação, purificação de hábitos carregados da ferrugem do tempo. No horizonte, está sempre o estímulo a que sejam ou voltem a ser irmandades que promovem a fraternidade cristã nas populações.

Missão difícil esta, não obstante o seu alcance e urgência. Questões de partilhas, discussões de extremas, murmurações de rua separam pessoas e geram ódios e divisões, difíceis de sanar. O espírito fraterno ajuda a curar e a relativizar muitas destas mazelas humanas.

As confrarias laicas, pelo seu nome, não podem esquecer também este ideal de fraternidade. Sementes de divisão proliferam nos ambientes, por opções partidárias, simpatias desportivas, vaidades e bairrismos locais e, por vezes, até por razões religiosas. Fazer fraternidade é aproximar as pessoas, gerar paz e consenso, respeito e harmonia. É dignificar cada um pelo que é, e mostrar que a diversidade pode enriquecer a todos. O motivo de encontro, que leva a iniciativas de acção, pode ser o jantar regular em comum, o vinho da região, o bacalhau ou o leitão. Tudo isto, porém, pouco significa, se o horizonte dos confrades não for mais longe, como promover, pelo convívio e a acção, a fraternidade entre todos e no seu meio.

A fraternidade será sempre alegria ou nostalgia que nos vai no coração.