Freguesias, escolas, centros de saúde, exames, um vendaval

Penso que as decisões de quem governa, quando têm consequências inevitáveis, são ponderadas, embora às vezes não pareça. Podem é receber luz apenas de um lado e acabam por ficar coxas e sempre agressivas de direitos de cidadãos normais.

O país está cansado por ver que quem chega ao poder já traz no saco, como primeiro objectivo, mudar o que os outros fizeram. Também é verdade que, se fosse para ficar tudo na mesma, não era necessário mudar os governos. Mas há modos e limites.

Ao bom senso do povo não é fácil dar-lhe a volta, quando vê que muito dinheiro se deita fora com mudanças pouco pensadas; e, não raro, muitas coisas que agora se fazem, ontem eram criticadas pelos mesmos políticos quando estavam fora do poder.

A alternância, que devia ser uma normalidade positiva e esperançosa, não passa, na maioria dos casos, de um ajuste premeditado de contas e de corrida a novos interesses.

As mudanças e alterações, agora anunciadas, sucedem-se em catadupa e muitas delas provocam, como seria de prever, dúvidas e forte contestação. Eliminação de freguesias, encerrar de escolas, desactivação de maternidades e urgências, exames que incomodam alunos preguiçosos e desequilibram estatísticas europeias… Soltou-se o vendaval.

Acontece – é o caso das escolas com um número reduzido de alunos – que a procura de melhores condições para a educação justifica que o problema se ponha, não porém sem acautelar as consequências previstas. Eliminar freguesias por esse país fora, em maior número no interior desertificado do país, merece especial cuidado e atenção. A nossa terra é a nossa terra. A sua grandeza não tem que ver com o número de habitantes. A gente da cidade não tem terra, nem raízes, nem história. Isso são coisas do povo atrasado. A Igreja tem igual problema com as paróquias pequenas, mas não pensa resolver o problema eliminando-as. Há outros caminhos que não tocam com os sentimentos. E, quando um dia tudo for evidente, as soluções inevitáveis aceitam-se.

Das maternidades, de há muito se vem falando. Agora, é o serviço das urgências nos centros de saúde e nos hospitais. Os políticos locais da cor do regime já se mexem por via dos compromissos eleitorais, mas há sempre maneira de os calar. Calam-se depressa e logo mudam de tom e de razões. É a vida… O povo atingido é o elo fraco e acaba por depor armas. Não é fácil entender. Se o dinheiro dos impostos é igual, porque têm uns tudo ao pé da porta e se queixam sempre, e outros nem sabem onde o têm e se calam…

Contenção das despesas, exigências do orçamento? Isto tem muito que se lhe diga e o povo pergunta sempre porque é que por um lado se esbanja tanto com os interesses de poucos e, por outro, se poupa tanto, mas sempre a desfavor dos mesmos.

Agora, nem dá para acreditar. Menos exames para o 12º ano! A cortar, diz-se, que seja nos de Português e Filosofia. Deixem-me brincar um pouco, porque a brincar se castigam os costumes. Para menor escândalo corta-se em primeiro lugar o exame de Filosofia. O Português acabará por si, que a hora agora é do Inglês. Filosofia, pode cortar-se já. O choque tecnológico dispensa essa banalidade que não entra nos raciocínios que levam a um progresso competitivo. Ele nem há um prémio Nobel da Filosofia… E, depois, se os jovens se habituam a pensar, a concluir e a aprofundar teorias que outrora deram revoluções, lá se vão as juventudes partidárias…

É preciso que o povo conte nas mudanças anunciadas e noutras que o atingem. Ou ele agora, para os novos democratas já não ordena, nem muito nem pouco?

Teremos de ser sempre os mais pobres, os mais ignorantes, os eternos dependentes?