Invasão dos penachos

Zona das Barrocas. O vento de Aveiro é propício à dispersão da cortaderia

Zona das Barrocas. O vento de Aveiro é propício à dispersão da cortaderia

Em setembro e outubro a erva-das-pampas está em floração e há quem veja alguma beleza nisso. Mas trata-se de uma planta invasora.

 

Por estes dias, principalmente nos descampados, a paisagem aveirense enche-se de uma planta que tem alguma beleza, quando lhe bate o sol e ondula ao vento. Há quem a leve para casa e a ponha em jarras – ou jarrões, dado o seu tamanho. Mas trata-se de uma planta invasora.
A cortaderia ou erva-das-pampas, também conhecida por “penachos”, proveniente do Chile e da Argentina, “está em floração, daí dar mais nas vistas”, adianta Rosa Pinho, diretora do Herbário da Universidade de Aveiro, que explica que o nome “cortaderia” se deve facto de as suas folhas serem cortantes. A planta foi introduzida em Portugal “como planta ornamental”, mas hoje está fora de controlo, com proliferação muito rápida nos últimos dez anos, encontrando-se “pela Beira Litoral, Douro Litoral, Minho, Trás-os-Montes, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Baixo Alentejo e Algarve”. Só escapa interior norte e centro de Portugal.
A erva-das-pampas é uma espécie oportunista, porque se instala em “locais onde a vegetação nativa foi eliminada”, e representa uma “séria ameaça a alguns habitats da Rede Natura 2000” (áreas designadas para conserva habitats e espécies selvagens raras, ameaçadas ou vulneráveis).
Rosa Pinho explica como a planta se propaga: “É uma espécie que produz muitas sementes. Uma planta feminina pode produzir até 1 milhão de sementes, que são dispersas pelo vento, originando focos de invasão em locais distantes da planta mãe. Aveiro é uma cidade litoral, ventosa, propícia à sua dispersão. Depois de germinar a planta cresce vigorosamente e forma aglomerados densos que dominam a vegetação herbácea e arbustiva”.
Nos terrenos com cortaderias, é mais difícil a circulação de animais, devido às folhas cortantes, e tornam-se mais escassos os recursos para outras espécies de plantas.
Para combater a planta (ver ao lado como se faz o controlo) é necessário uma mudança de legislação. “Embora conste do Decreto-Lei 565/99, que lista as espécies exóticas de fauna e flora introduzida em Portugal, não está assinalada como espécie invasora. O Decreto-Lei já tem 16 anos e neste momento está desatualizado. Esta espécie é sem dúvida uma das alterações, pois é comprovadamente invasora”, assegura Rosa Pinho. Em Aveiro, tirando casos isolados de terrenos privados, em que os proprietários atuam pontualmente, nos terrenos de domínio público nada tem sido feito para controlar ou erradicar esta espécie.
J.P.F.

 

Nome vulgar: Erva-das-pampas
Nome científico: Cortaderia selloana
Família: Poaceae (Gramineae)
Nativa: Argentina e Chile
Floração: Setembro e outubro

 

Como controlar a erva-das-pampas

CONTROLO FÍSICO
Arranque manual. Método preferível para plantas jovens em solos arenosos. Em terrenos mais compactos, o arranque deverá ser realizado na época das chuvas. Deve garantir-se que não ficam raízes de maiores dimensões no solo, já que estas recuperam facilmente.
Arranque mecânico. Aplica-se a plantas de maiores dimensões.
Corte e posterior remoção da parte radicular, quando não é possível o arranque. O corte pode ser realizado com motosserra ou moto roçadora e a remoção da parte radicular pode ser feita com recurso a equipamento manual e/ou mecânico.
Corte das panículas. Deve ser realizado antes da dispersão das sementes. As panículas devem ser colocadas em sacos duplos para serem posteriormente destruídas ou aguardar a sua degradação.
CONTROLO FÍSICO E QUÍMICO
Corte combinado com aplicação de herbicida. Corte dos caules tão rente ao solo quanto possível e aplicação de herbicida (princípio ativo: glifosato) nos novos rebentos.
CONTROLO QUÍMICO
Aplicação foliar de herbicida em plantas jovens.
No caso de controlo físico é necessário o uso de equipamento de proteção, já que as folhas são cortantes. No caso do controlo químico é necessário mais informação em relação aos locais onde pode ser feito, quantidades e procedimentos, para evitar que outras espécies sejam afetadas.