Jesus (foi) é assassinado

Em cima da linha Estamos na semana da celebração dos grandes acontecimentos da história da salvação. Coloco-me perante Alguém que fez da sua vida uma entrega sem restrições. Jesus, o “desejado das nações” é rejeitado, é abandonado, é condenado à morte. A mensagem chega-nos de toda a parte, até mesmo dos longos panos roxos pendurados por tudo quanto é vila e cidade para atrair turismo: Jesus morreu!

Como é possível?! Por que razão morreu Jesus?

Não morreu de doença, não morreu de velhice, de acidente ou vítima de um qualquer enfarte de miocárdio. Não morreu por ter de morrer, nem muito menos para satisfazer o plano prefixado por um deus sádico. A morte de Jesus resulta da sua atitude perante a vida e as realidades existenciais.

Jesus não tinha de morrer tão cedo. Ele ensinou o perdão de Deus aos homens; mas “esqueceu-se” de uma outra realidade: Os homens não querem perdoar, não sabem perdoar e não perdoam! E, vai daí, não O deixaram viver. Menos de três anos chegaram para Ele ser posto fora.

A Sua forma de estar na vida, a Sua maneira de inquietar, o mal-estar constante que a Sua palavra e o Seu comportamento provocavam, faziam prever tudo isto. Consciente e convicto da sua missão, não se vende aos poderosos, não se deixa seduzir pela “fachada” dos fariseus e dos escribas, não aceita o confronto com meias-verdades, não faz opção pelas conveniências. A frontalidade é o seu escudo, a subserviência não entra nos seus planos, a hipocrisia é desmascarada em toda a linha, o legalismo religioso é condenado, o espectáculo é desmantelado e substituído pela autenticidade.

Que pena Jesus ter sido assim! Podia ter sabido viver, podia ter dado um jeitinho, poder-se-ia ter calado perante os grandes, poderia ter ladeado o confronto com os legalistas da religião, poderia ter evitado expulsar de forma violenta os vendilhões do Templo, poderia ter sido condescendente, não desafiando religião estabelecida, poderia ter passado por cima de tudo isso, até porque – Ele sabia – a Cruz estava ali tão perto! Mas não! Por isso…

E quem pode apontar os culpados?

Não existem! São todos! Foi o povo! Foram os outros! Eu nunca faria tal coisa! Hoje não aconteceria coisa igual!

Não é verdade! Hoje Cristo seria condenado à morte ao fim de poucos dias, ou poucas semanas. Muita coisa mudou, muitos processos evoluíram, muitas situações se alteraram, mas o ser humano continua refinado na sua hipocrisia: queremos verdade e frontalidade, mas quando nos deparamos com elas, não aguentamos o impacto, porque, na prática, elas são inconvenientes e incómodas. Não se proclama por aí que nem todas as verdades se devem dizer?! …

O que tem acontecido e continua a acontecer hoje àqueles que têm a coragem de se afirmar?

Perseguição, mais ou menos violenta e aberta aqui, mais camuflada acolá, marginalização, isolamento e bloqueio, na sociedade civil como na Igreja. Os exemplos estão aí à vista de quem sabe olhar as coisas com olhos de ver.

– Quem singra facilmente na vida?

– Deixem-me dizer: Uma vez, tinha eu os meus vinte anos, ainda estudante de Teologia, alguém me disse: “Se não queres problemas, sê hipócrita”. Decidi para sempre não me deixar envenenar pela cobardia, pelo medo, pela graxa, pela sabujice e pela hipocrisia; assumi a luta e a guerra que resulta de tal postura.

Cristo assumiu gritar as verda-des que não se podem dizer; mas é Ele mesmo quem diz: “A verdade vos libertará’.

Hoje, temos medo, mesmo em Igreja, de assumir e gritar as verdades, porque é mais cómodo e é preciso saber viver com o povo. Também hoje é a hipocrisia que continua a assassinar Cristo, enquanto uns “inocentes” vão lavando as mãos, e muitos mais se alheiam, abanando a cabeça.

Mas a RESSURREIÇÃO vai acontecer ainda que não seja a vontade de todos!