Museu para guardar a memória da Casal e de outras indústrias

Ferreira Rodrigues

Ferreira Rodrigues

Professor universitário e antigo vereador, Manuel Ferreira Rodrigues propõe a criação
de um museu da indústria em Aveiro.

O historiador aveirense Manuel Ferreira Rodrigues, docente na Universidade de Aveiro e antigo vereador do pelouro da Cultura em Aveiro, defendeu a criação de um museu da indústria em Aveiro, projeto que, como referiu ao nosso jornal, vem sendo trabalhado pelo Rotary clube de Aveiro, do qual é sócio, e que foi apresentada no recente almoço de homenagem ao industrial João Casal.
O projeto para a criação de um museu da indústria em Aveiro envolve uma equipa multidisciplinar. “Sendo um projeto para um museu de indústria, tem de envolver muitas entidades oficiais, as autarquias, a Universidade, as empresas e as associações empresariais, para além do contributo individual de várias pessoas, entre as quais eu me incluo”, explica.
Manuel Ferreira Rodrigues entende que um museu industrial “deve ser um centro de memória da indústria, não numa perspetiva de nostalgia, mas como uma plataforma de complemento de saberes de várias áreas. Deve ter um espaço de promoção da competitividade e da inovação”.
Sobre a escolha da homenagem ao industrial João Casal para apresentar publicamente o projeto, o historiador realçou que a Casal foi uma empresa com “enorme qualidade e inovação” na região. “Em muitos aspetos, a fábrica Casal foi líder não só à escala nacional mas também a nível mundial”, disse, dando como exemplo o facto de ter tido “uma escola de formação de aprendizes, escola de inspiração alemã, onde foram aplicadas didáticas da prática, e em que muitos dos seus alunos são atualmente empresários ou excelentes técnicos, a maior parte deles na área da mecânica”.
Para este docente universitário, “é absolutamente inconcebível deixar morrer a memória de uma experiência extraordinária e que não se deixe às próximas uma memória das empresas de grande gabarito que aqui existiram”. Ainda que o espaço da fábrica Casal já não possa servir para acolher o futuro museu da indústria, este autor de inúmeras obras sobre a história da aveirense sublinha há muitos elementos ligados à marca: “Para além de temos muitos objetos e imagens (fotografias), temos ainda uma colecção com cerca de trinta motorizadas Casal, bem como a família Casal e muitos milhares de trabalhadores que passaram por essa fábrica”.

Museu com pólos temáticos
O futuro museu deverá ter diversos pólos, de modo a preservar e valorizar a memória de outros setores industriais que desempenharam papel relevante na região aveirense, como explicou Manuel Ferreira Rodrigues ao realçar que no princípio do século XX o concelho de Aveiro chegou a ter dez fábricas de cerâmica, cinco das quais de louça e decoração e as outras cinco para a construção civil. “A cerâmica é uma das tradições e por isso não a podemos esquecer num futuro museu da indústria, tal como a indústria da chicória que foi muito importante no início do século XX em Aveiro”, afirma. Assim, “o museu da indústria pode ter vários pólos na região, alguns dos quais podem ser instalados em municípios limítrofes”.
Mas mais importante que reavivar as memórias do passado “é preservar o que ainda existe”. Nesse sentido, Manuel Ferreira Rodrigues apela a todos os trabalhadores da Casal, e de outras empresas, para que “não destruam documentos ou imagens que tenham em casa”, até porque “há os arquivos municipal e distrital”, e que assumam uma “responsabilidade moral e cívica perante as gerações futuras”. “O museu será aquilo que nós, como comunidade, queiramos que seja”, rematou.
Cardoso Ferreira