O poder do Terço

O Terço aparece como desejo da Igreja, sobretudo nos mais pobres, de rezar os salmos da Bíblia, que são 150. Como só os nobres sabiam ler, rezavam-se 150 Avé-Marias. Passou a chamar-se Rosário quando se pensou em oferecer a Maria, com esta oração, uma coroa de rosas, visto que a ideia vem da Inglaterra, que tem como símbolo a rosa. Passou a chamar-se “Saltério dos pobres” ou “Saltério da Virgem Maria”. Com o tempo, foram acrescentados os mistérios do Rosário, para que a convivência com a Bíblia se torne mais viva e eficaz no coração dos humildes.
No tempo da heresia dos cátaros, ou albigenses, em Muret, França, são Domingos recebeu a revelação, em 1213, que ensinar o Rosário ao povo os ajudaria a sair da ignorância sobre os Mistérios de Jesus, visto que esta heresia compreendia pessoas muito nobres e cultas e só com formação se poderia vencer. São Domingos envia os seus frades para estudar teologia e prega o Rosário, com os seus mistérios, aos pobres, convertendo muita gente e conseguindo do meio dos hereges as primeiras mulheres dominicanas.
Infelizmente, o rei mandou matar as pessoas, pois achava que a ideia de são Domingos era lenta de mais e vários interesses políticos e económicos estavam em causa… E o genocídio aconteceu, com muito desgosto para são Domingos.
Maria vem confirmar a importância deste esforço dominicano aparecendo em Lourdes, em 1858, e falando dos mistérios do Rosário, que são alma do Rosário. O mesmo acontece noutras aparições, que culminam com Fátima, onde, em 13 de outubro, ela se intitula “Senhora do Rosário”, já venerada na igreja paroquial de Fátima, e que um dia sorriu à Lúcia.
Por causa da Batalha de Lepanto, em 1571, no dia 7 de outubro, Pio V, que mandara rezar o Rosário para pedir a vitória, que aconteceu, instituiu a festa da Senhora do Rosário. Bento XV pediu ao povo cristão que rezasse o Rosário para acabar a I Guerra Mundial e a resposta vem com o Anjo da Paz e a Senhora da Paz em Fátima, em 1917. A mesma ideia encontramos no pontificado de são João Paulo II, que considerará o Rosário a sua oração preferida.
É interessante verificar que a padroeira das missões, Teresa de Lisieux, foi curada num dia 13 de maio pela Virgem das Vitórias, que lhe sorriu no seu quarto.
O Rosário deixou de ser o “Saltério dos pobres” para ser o meio fácil e acessível para se rezar a Bíblia, na escola e regaço de Maria.
Com o frade dominicano Alano de la Roche (séc. XV), Maria deixou várias promessas a quem rezasse o Rosário e Luís Grignon de Monfort deixa-nos um tratado sobre ele. Passou a ser o distintivo do ser católico e encaminha as pessoas à contemplação e à Eucaristia. É um meio que serena a alma. E está provado que combate a depressão. Afugenta o demónio. Cura a alma e aproxima-nos do céu. Enlaça-nos com os homens. Faz-nos Igreja viva.
Em Yaffi, Nazaré, em Israel, no século XIX, aconteceu uma história que ouvi da boca do pároco desta cidade onde nasceu S. Tiago de Compostela: num colégio que ainda ali existe, uma menina caiu num poço, que estava vazio por ser verão. Em vão pediu socorro, até que, ao darem por falta dela, descobriram-na na profundidade imensa do poço onde caíra. A madre, hoje venerável, recebeu a luz de retirar da cintura o seu grande terço, que ainda hoje ali está junto do poço, e invocou Maria, atirando o Rosário como âncora de salvação. A menina disse que viu o Rosário descer suavemente e uma linda senhora estendeu a mão e a elevou para espanto de todos. Hoje o poço está numa capela-santuário a 5 km de Nazaré, juntamente com o terço que Maria usou para salvar a menina, cujas fotos de adulta e documentos sobre o facto se encontram ali devidamente expostos.
Em Inglaterra, há uma igreja que apresenta um baixo-relevo sobre Maria, que, confrontando-se com o demónio diante de uma balança, coloca pequenas contas sobre um prato da balança. As contas de Maria significavam os terços que o homem, no prato da balança, rezava. E Maria conseguia a vitória sobre a sua alma.
No mês do Rosário, Fátima, missões, dos santos do Carmelo que nos falam do escapulário como forma complementar do Rosário, de consagração a Maria, também presente em Fátima e Lourdes, de Teresa de Ávila nos seus 500 anos de nascimento a partir do dia 15, de Teresinha de Lisieux… tudo é um convite para fazermos do Rosário, mais do que uma devoção, um convívio e um encontro com Deus uno e trino, no regaço de Maria, coroada de rosas e estrelas…
Vitor Espadilha