Paixão e luta

JOÃO GONÇALVES
Padre. Pastoral Sócio-Caritativa

A entrega a uma causa grande pressupõe sempre uma alta convicção, uma luta por vezes com dor, e uma enorme capacidade para se deixar “dominar”. Alguns profetas bíblicos – e não só – relatam até, com algum dramatismo, a luta e a vitória, com sabor a “derrota”: numa luta desigual, e Tu venceste!
Só que as derrotas deste género significam grandes vitórias: deixar-se levar, deixar-se vencer por Deus, é vitória garantida! Quantas vezes muitos de nós não terão sentido que “é preciso perder… para depois e ganhar”. A aparente derrota, porque nos põe no nosso lugar, diz-nos que o caminho da realização pessoal está encontrado; depois, é só alimentar, reforçar a dinâmica, e avançar…
Há pessoas privadas de liberdade por um tempo, mais ou menos longo – acho que é sempre demasiado longo! – que, tendo perdido temporariamente o uso de algumas dimensões da liberdade, entenderam que foi preciso tanto…para poderem voltar à vida: perder, para ganhar!
Algo de parecido se passa com as chamadas que Deus faz a cada um: entusiasmo, sombras, dúvidas, convicções, lutas, tempos de trevas e de luzes… até se chegar à dimensão de um sim, sempre misturado com dúvidas, mas na grande certeza da identificação da Voz que chamou. Tal como Maria, que aceitou uma proposta quase impossível… mas que mereceu um sim consciente, que A fez “Bendita entre todas”!
Neste Domingo, dia da Igreja Diocesana de Aveiro, pudemos ver e sentir a alegria daquele grupo de Jovens que soube entender a chamada, disse sim, e agora vai partir: não para o totalmente desconhecido, para algo que tem tanto de aventura como de coragem! Valentes Jovens! Precisamos de ver a vossa determinação, e de conhecer os vossos rostos, de os ver felizes, mesmo com uma lágrima, que era também de alegria! Tão belo!…
E esta gente nova ensina-nos que “é preciso perder…. pra depois se ganhar… acreditar!” E a minha vocação torna-se nova e refrescada, com estes sinais de generosidade, porque de Fé.
O Plano Diocesano de Pastoral, para o próximo ano, vai introduzir-nos no essencial da Fé professada: a Caridade, a dedicação e a entrega os débeis das nossas Comunidades; vai levar-nos a lutas, que depois se verão em resultado de vitórias, porque de dedicação e de doação, de atenções e de dádivas de bens materiais, espirituais, e sempre de afectos, isto é, de amor.
As Pessoas privadas de liberdade nas nossas Prisões; as Pessoas marcadas pela dor, pelo sofrimento, pela solidão, ao saberem que neste ano todas as Comunidades, e cada um de nós, vão dar mais tempo, e distribuir por toda a gente carinho e afecto… ficam a alimentar esperanças de uma real proximidade, em que todos vamos ganhar!
Se me perguntarem se tenho muito ou alguma coisa para dar…eu posso não ter logo ali a resposta directa! Mas sempre posso dizer, com toda a verdade: “Tenho muito que amar!”…