Há dias, numa celebração cujos textos bíblicos sugeriam que se falasse da oração, perguntei a algumas pessoas porque se reza. As respostas foram variadas. Todas em função de se alcançar alguma coisa, desde proteção até saúde. Tudo se resumia a petições, que são válidas, claro. Mas ninguém passou daí. Por isso se entende que, chegando à igreja, muita gente comece a recitar preces e assim ficam até ir embora. Mas não fazem oração no sentido em que esta implica estar respirando Deus. Embora Ele não fale naquele momento, de modo sensível, como quando estamos a falar com alguém, a verdade é que a Sua voz vai se fazer sentir ao longo do dia e da vida. Deus atua, mas de modo silencioso.
Rezar tem, primordialmente, duas intenções: a primeira é que eu rezo para aprender a amar. É assim mesmo. Quem faz verdadeira oração de encontro com Deus enche-se de Deus, porque Deus é Amor, e adquire atitudes de Deus, que é o Amor, que vai da doação plena aos que amamos, atender os necessitados, até perdoar sem reservas o inimigo e dar a vida, se for preciso. Toda a gente que reza manifesta que faz progresso na oração quando, analisando a sua capacidade de amor, repara que cresceu no amor. Eu posso não gostar de uma pessoa por causa do que ele me fez, mas posso amar essa pessoa. Amor não é só sentimento. Amor é doação. Muita gente se casa porque gosta, mas não ama. Na hora de se darem… separam-se, porque já não gostam um do outro. A oração exercita a nossa capacidade de amar, pois coloca-nos em contacto com o amor por essência, que é o próprio Deus. Rezar e não amar significa que não rezamos, como diz S. Tiago na sua carta. Rezamos mal, pois foi só para satisfazer as nossas paixões. Penso que o cristianismo leva essa riqueza da oração ao mundo. Mas não entranhou na vida da Igreja. Pois reza-se pouco no sentido de rezar de verdade, e por isso se ama tão pouco, também. Quem não tiver disposição interior para aprender a amar não estará disposto a fazer verdadeira oração.
Em segundo lugar, eu rezo para aprender a aceitar e fazer a vontade de Deus. É no que Deus quer que está toda a minha alegria. Se eu rezo é para saber o que é que Ele quer de mim. Estar atento para agradar a Deus em todas as coisas. Isso leva à luta contra os nossos pecados habituais. Leva-nos ao cumprimento fiel e fidelíssimo do dever, leva-nos a estar atentos ao próximo, leva-nos a viver os momentos como dom, desde os alegres até os dolorosos. Leva-me a aceitar a dor, a doença e a morte com espírito de missão.
Quem reza aprende a dizer “ámen”, “faça-se”, “fiat”, e a submeter-se à vontade de Deus. Claro que também pede e suplica, mas sempre condicionados ao que Deus quer de nós. Daí, o valor do Santíssimo Sacramento exposto. Ajuda a atualizar a nossa consciência de estarmos diante do Deus Amor, aprendendo a Amar, numa séria revisão de vida… e a dizer o nosso “sim”, numa doação total de nós mesmos, aos planos de felicidade que Deus sonhou para nós.
Vitor Espadilha