Turquia: Papa afirmou a possibilidade do diálogo e condenou os fundamentalismos

Papa Francisco e Bartolomeu I

Papa Francisco e Bartolomeu I

Viagem de três dias marcada por preocupação com refugiados, a crise no Médio Oriente, aproximação à Igreja Ortodoxa e gestos de respeito pelo Islão.

O Papa encerrou no domingo, em Istambul, uma visita de três dias à Turquia, a sexta viagem internacional do pontificado, na qual deixou vários apelos contra o terrorismo e o fundamentalismo, lembrando as vítimas das guerras no Médio Oriente.
Francisco foi recebido pelas autoridades políticas do país em Ancara, começando por sublinhar o papel da Turquia como “ponte” entre dois continentes e a sua responsabilidade no combate ao extremismo, particularmente visível na ação do ‘Daesh’, o autoproclamado Estado Islâmico.
“Particularmente preocupante é o facto de que, sobretudo por causa de um grupo extremista e fundamentalista, comunidades inteiras – especialmente de cristãos e yazidis, mas não só – tenham sofrido, e ainda sofram, violências desumanas por causa da sua identidade étnica e religiosa”, declarou, no segundo discurso da viagem, no ‘Diyanet’, a Presidência para os Assuntos Religiosos – a mais alta autoridade islâmica sunita na Turquia.
Tal como fizera no palácio presidencial de Ancara, onde o terrorismo e as perseguições contra minorias religiosas na Síria e Iraque, Francisco recordou as centenas de milhares de pessoas que foram tiradas “à força das suas casas” e “tiveram de abandonar tudo para salvar a sua vida e não renegar a fé”.
O segundo dia da viagem, já em Istambul, começou com uma visita à Mesquita Azul, onde à imagem de Bento XVI, o Papa se descalçou e se manteve em “adoração silenciosa”, virado para Meca, durante mais de um minuto (ver notícia na pág. 20).
Mais tarde, na única celebração pública para a comunidade católica, Francisco desafiou os vários membros da Igreja, nos seus diversos ritos, a construir a “unidade” entre si, rejeitando qualquer postura “defensiva”.
A reta final da viagem centrou-se no diálogo com o Patriarcado Ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), em vários encontros ecuménicos com Bartolomeu I, «primus inter pares» no mundo ortodoxo, a quem o Papa pediu que o abençoasse a si e à “Igreja de Roma”. Os dois responsáveis, que sublinharam os avanços rumo à “comunhão plena” entre as duas Igrejas, mostraram a sua preocupação com o Cristianismo no Médio Oriente, numa declaração conjunta. Francisco e Bartolomeu I denunciaram a “dramática situação dos cristãos e de todos aqueles que sofrem no Médio Oriente”, que exige “não só uma oração constante mas também uma resposta apropriada por parte da comunidade internacional”. “Não podemos resignar-nos com um Médio Oriente sem os cristãos, que ali professaram o nome de Jesus durante dois mil anos”, sustentam.
Antes, na igreja patriarcal de São Jorge, onde Francisco se associou à festa de Santo André, patrono do Patriarcado de Constantinopla, o Papa denunciou o “pecado gravíssimo” da guerra, recordando as vítimas dos países vizinhos, numa alusão indireta à ação dos jihadistas do Daesh. “Algumas nações vizinhas estão marcadas por uma guerra atroz e desumana” declarou.
Simbolicamente, o programa concluiu-se com um encontro privado entre o Papa e um grupo de jovens e adolescentes refugiados, criticando “o triste resultado de conflitos exacerbados e da guerra, que é sempre um mal e nunca constitui a solução dos problemas, antes pelo contrário, cria outros”.
Esta foi a sexta viagem internacional do atual pontificado e a quarta visita de um Papa à Turquia.