Um caminho a andar com alegria e paciência

Todos vamos verificando, de modo muito claro, que as mudanças sociais e, sobretudo, as mudanças culturais têm uma enorme influência nos comportamentos das pessoas, dos grupos e das populações. Ia a dizer que quase determinam, irreversivelmente, o modo de agir, de pensar e de viver, tal é o seu peso. Por si, certamente que não determinam, mas apenas condicionam. De outro modo, seríamos autómatos cegos, sem qualquer liberdade ou capacidade para influir no processo que nos afecta e mesmo para o condicionar.

As coisas vão acontecendo e tocando na vida das pessoas, sem que muitas delas se apercebam que estão sendo moldadas por dentro de um jeito que nem pensam. No seu interior, podem coexistir costumes, tradições e valores que ainda têm influência e uma parte do seu mundo vivencial, que já se processa sob outros ritmos e batutas.

A gente mais nova, porque tem ainda pouca história, já nasce ou nasceu na mudança; e, por isso, suporta cada vez menos a influência dos outros por via de autoridade, rejeitada como sinal de ordem e de permanência de critérios. Porém, a sua vida, toda ou quase toda, é soprada e modelada por agentes exteriores que se impõem, apenas porque não aparecem a pressionar. É influência dos afectos, das conveniências, dos gostos, dos sonhos e desejos, que aparece, em forma de propostas descomprometidas, mas sempre aliciantes, tentadoras e mais fáceis.

O mundo dos que ainda se inquietam ou devem inquietar com o que se está passando (penso em muitos pais, educadores, agentes pastorais ou outros de responsabilidade) tanto se sente empurrado para o desconforto e para a incapacidade de reagir, como para se acomodar a atitudes interiores de aceitação acrítica. Há ainda os que, sem visões maniqueístas, procuram manter o discernimento que permite distinguir o que nas mudanças há de bem a reconhecer e a aproveitar, e o que nelas é ambíguo ou mesmo negativo, para ir sempre mais além e influir num novo processo, válido e com futuro.

É evidente que ninguém pode reagir sozinho, nem pela força do seu braço. Entra aqui a necessidade, cada vez maior, de se associar, de fazer parcerias, de criar espaços de confronto e de partilha, para não ter de fugir do mundo ou de se isolar – o caminho mais rápido para alguém se tornar um inútil amargurado ou um pateta inconsciente.

A Igreja, como todas as instituições mais ligadas à vida das pessoas, está neste mundo em mudança, perante um desafio que os responsáveis não podem iludir, nem deixar que se desvaneça a esperança que a animou com o Vaticano II. Ela tem riqueza interior e experiência histórica que lhe permitem entrar, sem risco de maior, neste mundo diferente. A sua vocação, ao contrário da tendência normal, é menos de conservar do que de encarar outros mundos, com sua mensagem imutável, identificada com uma Pessoa que iluminou a história, venceu o tempo, permanece nova e portadora de vida nova.

Não se pode esconder o perigo e a tentação de apenas manter ou de se gastar tempo a exorcizar, quando este é pouco para criar e inovar. A criatividade e a inovação, porém, não são possíveis sem um compromisso pessoal com a verdade em que se crê, até às últimas consequências e, ao mesmo tempo, com a vida que se vive, na dimensão de alegria e de encontro, de sofrimento e de procura, com uma visão optimista do mundo.

Pequenos passos, grupos coesos de gente livre, o mesmo rumo e o sentido na acção, paciência a toda a prova, permitem saborear, desde agora, a certeza de que, se não se pode mudar o mundo, que apaixona e desnorteia, pode-se viver nele com alegria, esperança e amor, abrindo caminhos novos, convidativos e possíveis para quem os quiser andar. As pessoas que o comandam semeiam gestos de solidariedade e de paz.

As pessoas determinantes, hoje, são cada vez mais as que testemunham esperança e deixam pelo caminho gestos de solidariedade e de paz que todos possam entender.