Abrir o coração a todos os irmãos

A liturgia do 20.º Domingo do Tempo Comum reflete sobre a universalidade da salvação. Deus ama cada um dos seus filhos e a todos convida para o banquete do Reino.

Na primeira leitura, Deus garante ao seu Povo a chegada de uma nova era, na qual se vai revelar plenamente a salvação de Deus. No entanto, essa salvação não se destina apenas a Israel: destina-se a todos os homens e mulheres que aceitarem o convite para integrar a comunidade do Povo de Deus.

No Livro de Isaías, eis o que diz o Senhor: «Respeitai o direito, praticai a justiça, porque a minha salvação está perto e a minha justiça não tardará a manifestar-se».

Vivemos num mundo de contradições. Por um lado, a troca de ideias, de experiências, de notícias, o contacto fácil, rápido e direto com qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo, contribuem para nos abrir horizontes, para nos ensinar o respeito pela diferença, para nos fazer descobrir a riqueza de cada povo e de cada cultura.

Por outro lado, o egoísmo, a autossuficiência, o medo dos conflitos sociais, o sentimento de que um determinado estilo de vida pode estar ameaçado, provocam o racismo e a xenofobia e levam-nos a fechar as portas àqueles que querem cruzar as nossas fronteiras à procura de melhores condições de vida. Não é, evidentemente, uma questão simples e que possa ser objeto de demagogia. Para mais nesta situação de pandemia que vivemos…

No entanto, Deus convida-nos a abrir o nosso coração à universalidade, à diferença. Os outros homens e mulheres, estrangeiros, diferentes, com outra cor de pele, com outra língua, com outros valores ou com outra religião, são irmãos nossos, que devemos acolher e amar.

Termina hoje a Semana Nacional da Mobilidade Humana, que tem a ver com os migrantes, os homens do mar, os ciganos e os refugiados. A Igreja é a comunidade do Povo de Deus. Todos os seus membros são filhos do mesmo Deus e irmãos em Jesus, embora pertençam a raças diferentes, a culturas diferentes e a extratos sociais diferentes.

A Palavra de Deus convida-nos a viver na justiça, na igualdade e no direito. A nossa atitude só pode ser de hospitalidade, de acolhimento cordial e de respeito amoroso. Aí está o Evangelho, no exemplo da mulher cananeia, a nos sugerir esta forma de acolhimento do estrangeiro. Acolhimento que só pode ser assumido na profunda confiança da fé.

Que a Solenidade da Assunção de Maria, que ontem celebrámos, continue a ser inspiradora desta atitude sempre renovada de abertura e acolhimento a todos os próximos, nossos irmãos.

Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org