Comunidades com coração misericordioso

Continuamos isolados nas nossas casas, o melhor modo de nos protegermos e protegermos os outros desta horrível doença do coronavírus Covid-19 que a todos atinge. Mesmo distantes fisicamente, façamo-nos próximos dos irmãos através da oração e do acompanhamento humano e espiritual. O tempo é propício para pensarmos como é na realidade a nossa comunidade cristã ou religiosa.

Se cada um tivesse a fotografia da comunidade cristã da sua paróquia, que imagens, que traços apareciam? E se fosse em vídeo, que caminhos, que passos percorridos?

Reparemos na fotografia da comunidade cristã de Jerusalém, tal como aparece na liturgia da Palavra deste segundo domingo da Páscoa: uma comunidade de irmãos, que vive em comunhão fraterna; uma comunidade assídua ao ensino dos apóstolos; uma comunidade que celebra liturgicamente a sua fé; uma comunidade que partilha os bens; uma comunidade que dá testemunho.

Trata-se de uma descrição da comunidade ideal, que pretende servir de modelo à Igreja universal e às Igrejas locais. Pensa na tua comunidade cristã e procura ver se é uma comunidade à maneira da comunidade de Jerusalém, nestes cinco elementos.

A tua comunidade cristã é uma comunidade de irmãos que vivem no amor, ou é um grupo de pessoas isoladas, em que cada um procura defender os seus interesses, mesmo que para isso tenha de magoar os outros?

Como comunidade assídua ao ensino dos apóstolos, a tua comunidade cristã é uma comunidade que se constrói à volta da Palavra de Deus, que escuta e que partilha essa Palavra?

A tua comunidade cristã é uma comunidade que celebra liturgicamente a sua fé? A celebração eucarística é um rito aborrecido, a que se assiste por obrigação, ou é uma verdadeira experiência de encontro com o Jesus do amor e do dom da vida, uma experiência de amor partilhado com os irmãos de fé?

A tua comunidade cristã é uma comunidade de partilha do amor, do serviço, do dom da vida, uma comunidade que dá testemunho?

Deixa-te também iluminar pelo Evangelho de hoje, pelo Cristo vivo que ressuscita em ti, que é paz para ti, pelas atitudes de Tomé tantas vezes semelhantes às tuas, e retoma o caminho sempre novo da fé e da vida nova.

Hoje é também o Domingo da Misericórdia de Deus. Como nos diz o Papa Francisco, «a Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo o Evangelho».

Diante do que se passa atualmente em todo o mundo e também junto de nós, todos sofremos ao vermos imagens de morte e desespero, todos sintonizamos igualmente com inúmeros gestos de solidariedade e de esperança. Temos necessidade de palavras e gestos de paz e reconciliação, de ternura e perdão, de fidelidade e confiança, de amor e misericórdia. Não nos podemos contentar em rezar ao nosso Deus “misericordioso, lento na cólera, cheio de fidelidade e lealdade”. Procuremos perdoar, ter um olhar e uma escuta de bondade sobre os outros, refrear os nossos impulsos de cólera, ser fiéis aos nossos compromissos e leais nas nossas palavras e nos nossos atos, enfim, ser pessoas com coração misericordioso.

Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org