Somos transformados em Deus ou preferimos outros endireitas?

A missão profética marca o segundo domingo do Advento. É um apelo à conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e à nossa vida. Esta missão é uma exigência para todos os batizados, chamados, particularmente neste tempo, a dar testemunho da salvação que Jesus Cristo veio trazer. Cada um de nós é missão, todos somos missão, a Igreja é missão, nunca é demais repetir esta identidade em Ano Missionário que estamos a celebrar.

O Evangelho apresenta-nos o profeta João Baptista, que nos convida a uma transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às prioridades da nossa vida.

Para que Jesus possa caminhar ao nosso encontro e apresentar-nos uma proposta de salvação, é necessário que os nossos corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a confiar-nos.

No Evangelho, todos os grandes responsáveis estão em cena: o poder central, com o imperador Tibério e o seu prefeito Pôncio Pilatos; o poder local, com Herodes, Filipe e Lisânias; o poder religioso, com os sumo-sacerdotes Anás e Caifás. Em face deles, um homem despojado, sem qualquer poder humano, João, filho de Zacarias.

Três anos mais tarde, estará um outro homem, despojado, em face dos mesmos poderosos, com as mãos trespassadas pelos pregos: Jesus, filho de Maria.

Dos poderosos nada resta de essencial. Mas João permanece hoje pela sua vida autêntica e pela Palavra de Deus que foi dirigida no deserto: “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”.

Esta voz ressoa aos nossos ouvidos, não já nos desertos de areia, mas no deserto dos nossos corações, muitas vezes demasiado desertos de esperança, de alegria, de amor. Há sempre entre nós passagens tortuosas que tornam tão difícil a comunhão, montanhas demasiado altas que impedem de nos vermos, ravinas demasiado profundas que impedem a reconciliação e a paz.

A voz de João ressoa ainda aos nossos ouvidos, para que a Palavra possa penetrar sempre nos nossos corações. João desapareceu, mas a Palavra eterna, feita carne, está sempre presente, porque Jesus ressuscitou, está vivo para sempre. A morte já não tem poder sobre Ele, nem qualquer outro poder, político, militar, económico e mesmo religioso!

Esta Palavra é-nos dada a nós, hoje. Quando deixamos a Palavra iluminar o nosso caminho e comemos o Pão da Vida na Eucaristia, é Jesus vivo que vem endireitar os nossos caminhos e preencher as nossas ravinas interiores.

Para que isso aconteça mesmo, é preciso deixar que seja Deus a endireitar os nossos caminhos. Ou preferimos outros endireitas?

Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org