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Aproximar-se para servir – a voz da Rufina

Aproximar-se para servir – a voz da Rufina

Como sabem, o Papa Francisco, inspirado na Família de Nazaré, escolheu para o  106º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, o tema: “Forçados como Jesus Cristo a fugir.”

São vários os subtemas que dão forma e completam este tema, contudo, escolhi falar sobre o subtema: “Aproximar-se para servir”, uma vez que esta minha escolha está intimamente ligada com o trabalho diário que venho desenvolvendo, voluntariamente,  com Migrantes e Refugiados, ao longo de quase 12 anos, muito em jeito de Acolhimento, Escuta, Compreensão, Aprendizagem mútua, e, principalmente, de não permitir que contem apenas como números para as estatísticas, pois, são “Pessoas como tu, como eu, como nós.”

Durante todos esses anos, foi fundamental perceber como a aproximação diária e o servir, independentemente da religião, da cultura, da língua, dos costumes,  permitiram vencer medos e preconceitos de parte a parte; aliás, obstáculos que  impedem fortemente de nos aproximarmos e de servimos com Amor, e, como conseguiram quebrar barreiras, valorizar o desconhecido, o diferente e fazer Caminho juntos.

Assim, perante uma situação que parece não ter fim e que tende a agravar-se e a aumentar,  é , pois, urgente, que, sem medo e sem preconceitos, nos aproximemos e que consigamos  ver em cada um dos Migrantes e dos Refugiados, o rosto de Jesus Cristo e ter a bondade e a humildade de abrirmos o nosso coração, num servir constante e generoso, capaz de envolver todos(as) num Amor que dignifique e adoce, e, que, igualmente, ajude a sarar as feridas tão profundas que trazem desenhadas no rosto e no olhar.

Sem dúvida, um Amor que seja capaz de, verdadeiramente, lhes devolver, a Dignidade, a Confiança, a Paz e a Esperança de uma vida melhor.

Rufina Garcia

Secretariado Diocesano da Pastoral Social e da Mobilidade Humana de Portalegre Castelo Branco

Na casa do Pai: Inocêncio Mendonça

Na casa do Pai: Inocêncio Mendonça

Com tristeza e de forma inesperada a OCPM, soube do falecimento de Inocêncio Mendonça, antigo colaborador do Secretariado Diocesano de Migrações de Viseu. A 3 de julho de 2020, nosso amigo, partiu para a casa do Pai, vítima de doença rara diagnosticada, em menos de 1 mês.

Inocêncio Mendonça de 80 anos, após uma vida de emigração na Alemanha, partilhada com a sua esposa Rosalina, companheira dedicada, integrou com a sua esposa Rosalina Mendonça e o Padre António Matos a equipa do Secretariado Diocesano de Migrações de Viseu de 1994 a 2016.

Que Deus o recompense da sua bondade e empenho pelos migrantes. Condolências à viúva e familiares. Em Fátima rezo por ele e eles. Com a amizade e a bênção episcopal de † António Vitalino, carmelita, bispo emérito de Beja, e até junho de 2020 membro da CEPSMH, responsável pelas migrações

Recentemente fomos surpreendidos com a notícia do falecimento do senhor Inocêncio da Costa Mendonça. Não poderíamos deixar passar esta oportunidade sem endereçar a todos os seus familiares as nossas condolências, nomeadamente à sua esposa, a senhora Rosalina Mendonça. O senhor Inocêncio Mendonça durante muitos anos integrou o Departamento das Migrações da nossa Diocese. Foi também ele e a restante equipa, a sua esposa e o senhor Pe. António Gomes de  Matos, que acolheram os atuais membros e os apresentaram à equipa nacional da Obra Católica das Migrações, não esquecendo que também nos acompanharam na nossa primeira participação na peregrinação internacional, em Fátima, onde pudemos constatar a consideração e o carinho que todos os Departamentos das Migrações das diversas Dioceses tinham pelo senhor Inocêncio Mendonça. Paz à sua alma!” Diác. Carlos Alexandre, SDPM Viseu

Já falta um no nosso grupo… Bem, falta fisicamente, mas estará connosco de outra forma.
Grande amigo Mendonça – a lucidez aliada à simplicidade e ao sentido de pertença e de serviço, foram sempre um excelente testemunho. Aprendi bastante com ele e diverti-me também. Tão amigos! Um entendimento 5 estrelas!
Estamos mais pobres. As Migrações estão mais pobres – a Igreja de Viseu está mais pobre.
Até breve, meu amigo! Maria Viterbo, SDPM Porto
Ficamos muito tristes com o falecimento do Amigo Mendonça depois de tantos anos em missão conjunta ao serviço da Pastoral das Migrações. Os nossos sentidos pêsames à Esposa e toda a família. Está em Deus, descanse em Paz. Olga e Zé Barata. SDPM Guarda
Paz à sua alma e, sentidas condolências à família! Pe. António Estevinho Pires, Bragança-  antigo secretário diocesano de migrações
Fiquei muito triste com a notícia da partida do nosso amigo Mendonça! Convivemos na equipa de Migrações e encontrei este casal, um Domingo de Ramos,numa das minhas idas a Viseu! Que descanse em paz! Beijinho à esposa. Maria Olivia Palhares, SDPM Viana do Castelo
Na esperança imploro a Deus que o acolha de braços abertos na pátria da ternura. Terminou a sua migração ! Louvo a Deus pelo muito que ele deu à igreja que peregrina na migração. Condolências. Pe. Rui Pedro,Missionário no  Luxemburgo. antigo director da OCPM
Presença alegre nos nossos encontros. Que Cristo o receba na sua paz. Diácono Francisco Santos, SDPM Aveiro
Triste notícia. Como diz a Maria, partiu um dos nossos.. Habituei-me, ano, após ano, anualmente, a reencontrar o Sr. Mendonça e testemunhar o seu trabalho no âmbito diocesano das migrações. É triste, mas, mais triste ainda, quando parte um dos que se importavam e cuidava dos que mais precisam. Sentidas condolências à família. Não esquecerei a sua simpatia e o seu sorriso. Que descanse em paz na casa do Pai. Maria Luisa Correia, Caritas Portuguesa
Bem o recordo dos encontros em que participei, continua a sua missão apenas de uma outra forma. Albertina Afonso, SDPM Porto
Que o Senhor lhe dê o eterno descanso! Os meus sentimentos à família, de modo especial à esposa. Rosalina Catarino SDPM Porto

“Queremos deixar aqui registado o nosso agradecimento, não só à Obra Católica e seus diversos diretores, mas também aos membros do episcopado que nos acompanharam nos nossos trabalhos. Uma Palavra amiga de reconhecimento a todos os membros dos secretariados diocesanos, que connosco estabeleceram laços de amizade e colaboração estreita.

Assinalamos ainda que a  nossa acção pastoral nesta área poderia ter ido muito mais longe, se as paróquias estivessem mais sensíveis aos problemas das migrações e do retorno de tantos que chegaram e não receberam o acolhimento esperado. O nosso esforço e preocupação foi servir a Igreja na pessoa dos Migrantes. A Obra Católica Portuguesa das Migrações celebrou já 50 anos de serviço prestimoso aos cerca de 5 milhões de migrantes espalhados pelo mundo e é do conhecimento público que, em épocas de grandes fluxos de migrações, foi a Igreja sempre a primeira a acompanhar a diáspora e a tomar iniciativas de apoio…” Inocêncio Mendonça – Abril 2016

 

 
Na casa do Pai: Padre Norberto Portelinha

Na casa do Pai: Padre Norberto Portelinha

 

Com pesar recebemos a notícia de falecimento, do Padre Norberto Portelinha … mas acreditamos que na casa do pai foi acolhido, com a mesma festa e generosidade com que fez questão de receber os agentes pastorais, que em 2013, participaram no Encontro Nacional de Secretariados Diocesanos de Migrações, em Vila Real.

45 anos de serviço dedicado a Pastoral das Migrações, de modo inesquecível à Diáspora portuguesa. Unidos em oração…

 

https://agencia.ecclesia.pt/portal/vila-real-faleceu-o-padre-norberto-portelinha

Manto de Luz de 12 para 13 de maio 2020

Manto de Luz de 12 para 13 de maio 2020

Evento, marcado na rede social Facebook, assinala início de uma “atípica peregrinação de maio”

Nunca, em mais de 100 anos de história, uma peregrinação se fez sem peregrinos. Nunca até amanhã, às 21h30, quando da Capelinha das Aparições, em Fátima, for iniciada mais uma peregrinação aniversario das aparições da Cova da Iria.

“Este é um momento doloroso: o Santuário existe para acolher os peregrinos e não o podermos fazer é motivo de grande tristeza; mas esta decisão é igualmente um ato de responsabilidade para com os peregrinos, defendendo a sua saúde e o seu bem-estar”, avança o reitor do Santuário de Fátima numa mensagem dirigida a todos os peregrinos, na qual lhes pede para ficarem em casa, sublinha o padre Carlos Cabecinhas, diretor do Santuário mariano.

Para uma noite “atípica” o santuário de Fátima propõe a iniciativa «Manto de Luz», já amanhã.

Na noite de 12 de maio, a partir das 21h30, “rezemos a oração do Rosário e acendamos uma vela, colocando-a na nossa janela. Unidos pela fé, participemos nesta grande Procissão das Velas, criando, a partir de nossa casa, um manto de luz, sob a proteção da Senhora do Rosário de Fátima”.

O evento criado na rede social Facebook conta já com mais de 5 mil pessoas a dizerem “presente”.

Como habitualmente os serviços de comunicação do Santuário vão disponibilizar transmissão em direto a partir da sua presença no Youtube ou na página www.fatima.pt

Programa sem peregrinos

No dia 13, a habitual oração do Rosário começa às 9h00, na Capelinha das Apariçõ2es e às 10h00 será celebrada a Missa da Solenidade de Nossa Senhora de Fátima, presidida pelo cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima. As celebrações desta primeira Peregrinação Internacional Aniversária, que evoca a primeira Aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria, termina com a Procissão do Adeus.

A decisão do Santuário surge no contexto da situação de pandemia que o país e o mundo atravessam e foi comunicada numa mensagem de vídeo do bispo de Leiria-Fátima, cardeal D. António Marto, no passado dia 6 de abril.

A Peregrinação Internacional de maio é a primeira grande peregrinação deste ano pastoral em que o Santuário convida os peregrinos a «Dar graças por viver em Deus» e assinala a primeira aparição de Nossa Senhora aos três Pastorinhos em maio de 1917.

Paróquias com imagem de Nossa Senhora pelas ruas

Nas redes sociais e nas páginas oficiais de muitas paróquias, de norte a sul do país, as comunidades cristãs mobilizam-se para a “passagem da imagem de Nossa Senhora” pelas ruas das localidades que se “esperam vazias”. Os crentes são incentivados a “irem à janela, colocar a sua vela, e rezar a Nossa Senhora a oração do terço”.

Imagem: Santuário de Fátima

Educris|11.05.2020

http://www.educris.com/v3/noticias/9494-fatima-propoe-manto-de-luz-para-a-noite-de-12-de-maio?fbclid=IwAR3mMdzHWqM1pg09pF9w-YAGhtCGmE4v4nAH5DJufq1P2_gIlwyRXb4cpwU

Covid-19: Instituições de Bragança promovem ação de solidariedade

Covid-19: Instituições de Bragança promovem ação de solidariedade

DR

Bragança, 28 Abr 2020 (ECCLESIA) – O projeto «Pontes de Inclusão E7G», “preocupado com a saúde dos seus participantes e suas famílias”, levou a cabo a ação «Gel For All» com o objetivo de fazer chegar frascos de gel desinfetante a uma “grande parte dos participantes do projeto”

Estiveram envolvidas seis entidades da zona de Bragança na concretização desta ação e o projeto «Pontes de Inclusão E7G», para além de ser o “responsável pela iniciativa”, tratou de toda logística de distribuição do gel desinfetante pelas comunidades de etnia dos Formarigos, Rossas e Sarzeda e pelo grupo de imigrantes que estão a estudar na cidade de Bragança e que integram a plataforma «Jovens sem Sofá»”, realça uma nota enviada à Agência ECCLESIA.

A distribuição decorreu nos dias 23 e 24 de abril e foram distribuídos cerca de 250 frasco de Gel com um valor de mercado superior a 1.250€, acompanhados de um folheto sobre as indicações de prevenção do Covid-19, lê-se no comunicado.

LFS

https://agencia.ecclesia.pt/portal/covid-19-instituicoes-de-braganca-promovem-acao-de-solidariedade/

Quarentena forçada. Quaresma reforçada!

Quarentena forçada. Quaresma reforçada!

Padre Amaro Gonçalo Ferreira Lopes

Foto Agência Ecclesia

Penso que a nós, pastores, não nos basta comunicar aos fiéis algumas regras de procedimento, de tipo higiénico-sanitário ou litúrgico. Isso é bem-vindo e faz falta. Mas é preciso mais; é preciso oferecer ao santo povo de Deus uma interpretação cristã do momento crítico que estamos a viver, uma leitura dos sinais, para realmente crescermos na fé, caminharmos na esperança e testemunharmos o amor. Precisamos de oferecer percursos e recursos alternativos, para que a ausência e a distância física da Igreja se torne presença espiritual de uma comunidade que tece os seus laços de fé de modo mais profundo, permanecendo unida como ramos na videira. Deste modo, aproveitaremos este tempo especial da quarentena forçada, como tempo favorável para uma Quaresma reforçada e, portanto, para uma Páscoa verdadeiramente de renascimento e de vida nova.  Vai neste sentido, a Mensagem, que dirijo aos meus paroquianos, que é fruto da minha leitura e das leituras destes dias.

Mensagem do Pároco de Nossa Senhora da Hora

Queridos irmãos e irmãs:

A Quaresma de 2020 está a ser marcada excecionalmente pela pandemia do COVID-19.

Talvez a experiência deste mal comum nos revele a importância do bem comum, hoje tão esquecido e escarnecido. Desta emergência pode, de facto, extrair-se uma bela lição de solidariedade: “a tua vida é também a minha vida, e eu próprio, com as minhas forças, colaboro na construção do bem comum”.

Por isso mesmo, evitemos abrir brechas na barragem de contenção comum do coronavírus, com escolhas irresponsáveis, e obedeçamos às disposições restritivas, comportando-nos com cautela e responsabilidade, pensando cada um para si mesmo: “ao proteger-me, protejo os mais fracos, os mais expostos: idosos, adultos frágeis, crianças doentes”. As restrições, obrigações e recomendações práticas, que a Direção Geral de Saúde, ou outras entidades do Estado, atentas ao bem comum, nos fazem, são mesmo para ser assumidas e levadas a sério.

Não deixemos, porém, que a pandemia deste vírus nos arraste para as trevas do medo, de modo que o necessário distanciamento físico não nos afaste ainda mais dos outros, transformando o próximo, o irmão, o outro, em “inimigo” ou “concorrente” do mercado ou do super-mercado. Em vez do medo, esta pandemia desperte em todos nós o santo temor de Deus, isto é, o sentido da minha responsabilidade, pois tenho de responder diante de Deus pelo que faço da minha vida e da vida dos meus irmãos.

É esse o sentido de qualquer cancelamento, mesmo com sacrifício pessoal e comunitário, de muitas iniciativas que fazem parte do programa habitual das nossas vidas e até do programa espiritual da Quaresma (cf. Apêndice com medidas).

 I. Não cancelemos a Quaresma

Por nada deste mundo, esta Quaresma deve ser cancelada. Não há “férias”, nem suspensão da graça e do dever da nossa relação fiel com Deus e com os outros. Pelo contrário, a Quaresma dos cristãos é claramente reforçada na sua necessidade e oportunidade, pelas medidas e condicionamentos desta imperativa “quarenta sanitária geral”.

Começámos a Quaresma, na quarta-feira de Cinzas, escutando o grito de conversão, no apelo veemente do profeta Joel: “ordenai um jejum, reuni o povo, proclamai uma solenidade (…)  Os sacerdotes comecem a dizer: «poupai, Senhor, o vosso Povo, não nos entregueis ao opróbrio e ao escárnio das nações»” (Jl 2,12-18). O nosso profeta Jonas desafiou, no mesmo estilo, os habitantes de Nínive, a uma quarentena, para evitar o extermínio de toda a cidade. Pediu jejum e oração, como meios e sinais de conversão. E até o Rei se associou a este apelo, revestindo-se simbolicamente de um traje grosseiro, sentando-se sobre a cinzas (cf. Jn 3,1-10).

Creio que podemos acolher estes tempos de insegurança e precariedade, diante do “inimigo” que nos ameaça, como as verdadeiras cinzas, que impomos sobre a nossa vida, para assumirmos finalmente os nossos limites, atravessarmos os desertos do silêncio e da sobriedade, e assim nos encontrarmos e encaminharmos juntos em direção à luz fulgurante da Páscoa. Se acolhermos estas cinzas feitas de limites, renúncias, medos, cansaços, doença, sofrimento, morte, então poderemos entrar numa consciência maior, a de sermos envolvidos e responsáveis uns pelos outros. Esta é a base do viver civil e do viver cristão. Em cada um de nós está o traço de cada pessoa; em cada vida entram, de variadas maneiras, todas as vidas humanas.

É este, pois, um tempo favorável (cf. 2 Cor 6,2) para compreendermos como o contágio do vírus do pecado, isto é, do nosso egoísmo, da nossa indiferença em relação aos outros e da nossa distância em relação a Deus, não é menos contagioso e perigoso, no plano mais alto da nossa vida cristã, que o COVID-19. É agora mais fácil perceber como cada ação ou omissão pessoais têm sempre efeitos sociais. Por isso, até o mais escondido pecado pessoal é também e sempre um pecado social. Mudemos de vida. O mundo não muda se eu não mudar!

Gostaria que vivêssemos este tempo, não como um insuportável intervalo nas nossas vidas, mas como um tempo de graça, que nos revela, com clareza, as ambiguidades, os erros e pecados da nossa vida pessoal e comunitária, mas que também evidencia os sinais do amor humano-divino, que é sempre mais forte do que o pecado e a morte.

 

II. Reconheçamos os sinais da nossa desordem

A globalização, com particular evidência e violência, manifesta os sintomas profundos das suas graves anomalias. Colocámos de pé um sistema social onde a última palavra, no fim, parece ser dada ao negócio, e não ao bem comum, onde a política não tem força suficiente para fazer coisas óbvias. O inesperado vírus Wuhan perturba os hábitos de todos, do mundo rico em particular: despovoa as praças, deixa os aviões no chão, cria novos muros, obriga a diminuir as relações sociais no trabalho, na escola ou em clubes desportivos, refreia o comércio, aumenta o medo pessoal e coletivo, gera psicose, desencadeia a corrida para acumular alimentos, impede empresas de trabalhar a alta velocidade e provavelmente porá em risco tanta mobilidade. E assim por diante… basta abrir qualquer site de informações para inventariar os danos do pequeno vírus.

 

III. Captemos os sinais da graça de Deus

Como em tudo, há males que vêm por bem. E precisamos de aprender a ler o que Deus escreve direito, por estas linhas tortas deste nosso tempo: não podemos viver transformando tudo em bens económicos. Em momentos como estes, damo-nos conta de que o rei capitalista vai nu, e que também se vive de contemplação, de beleza, de relações, de sapiência. Vivemos também de vidas doadas para curar os outros, como são aquelas destes heróis modernos que são os médicos e os enfermeiros, que sufocam o medo para dedicar-se com abnegação a quem está frágil e doente.

Eis uma série de pequenas-grandes melhorias do COVID19, que vale a pena reconhecer:

  1. O desenvolvimento de pesquisas médicas, que envolve investigadores e todo o mundo num esforço coletivo louvável.
  2. A abnegação de muitos trabalhadores, no campo da saúde, que saudamos e agradecemos.
  3. A moderação da linguagem e a superior qualidade do discurso das figuras públicas: políticos, atores, políticos, jornalistas e jogadores de futebol.
  4. A relativização da importância do espetáculo desportivo, que se tornou em tantos casos uma religião de substituição, com as suas «liturgias», os seus «deuses», os seus «papas» e as suas «catedrais».
  5. Uma desintoxicação do excesso da publicidade, que perde relevo e interesse, em favor da informação.
  6. O tratamento sério de assuntos que realmente interessam, na comunicação social. Não é tempo de conversa fiada.
  7. A intriga e a bisbilhotice diminuem em benefício do apelo e do testemunho.
  8. Governos e instituições estão finalmente a trabalhar de maneira concertada na luta contra as notícias falsas.
  9. Afrouxam os cordões das bolsas de muitas instituições económicas e financeiras em todo o mundo, percebendo-se que a vida vale mais que o lucro.
  10. E, por último, mas não menos importante, o humor está a crescer nos meios de comunicação e redes sociais e, acima de tudo, na autoironia. É um bom antídoto contra o medo.

 

IV. Aproveitemos uma dúzia de oportunidades virtuosas

Sugiro aos meus paroquianos algumas oportunidades virtuosas, decorrentes da atual pandemia, para a vivência desta Quaresma de 2020:

  1. Exercitemos a virtude pessoal da humildade, reconhecendo que não sou omnipotente nem superior às forças da natureza, vencendo a presunção de que não sou mais imune e mais civilizado que todos os outros. A minha existência não depende apenas de mim; não sou eu o dono da vida. Basta um vírus para a colocar em risco.
  2. Cultivemos a humildade científica e tecnológica, perante os seus grandes progressos, que são dons a cultivar e a agradecer, mas não são deuses a adorar. A saúde e o bom funcionamento, hoje, das células do meu corpo são um dom a redescobrir; nada é dado como adquirido ou devido. O que nos salva, pois, não é o poder económico, ou o progresso da ciência ou as maravilhas da técnica, mas sim o amor de uns pelos outros.
  3. Ponhamos em prática uma fraternidade solidária, como antivírus contra a superficialidade, a indiferença, a autossuficiência e o narcisismo, que tantas vezes me fazem pôr a mim próprio no centro de tudo; e por isso mesmo, esquecendo que tudo é dom. Isto implica redescobrir os outros como irmãos, conscientes de que todos dependemos de todos. Percebemos como o curso normal da vida depende de tantas relações sociais ocultas. Afinal ninguém se basta a si próprio e, nesta barca, do mundo globalizado em que vivemos, ninguém se salva sozinho. Todos somos responsáveis pela bem de todos.
  4. Valorizemos a família e a nossa casa como lugares mais seguros. O facto de se passar mais tempo ‘em casa’, neste “recolher obrigatório” não é necessariamente uma penitência e pode ser uma bênção. Aprofundemos a qualidade do diálogo e da presença em família. Mantenhamo-nos em contacto com os ausentes, os emigrantes, os distantes, os doentes, os idosos, em nossa casa, nos hospitais e lares. São estes que mais sofrem as medidas de contenção da propagação do vírus.
  5. Redescubramos a importância dos afetos, com aqueles que nos são mais próximos, com os que partilham a mesma casa, o mesmo meio de transporte, o mesmo espaço de trabalho. A solidão forçada ensina-nos o valor e o preço das relações humanas. A imposta distância superior a um metro revela-nos a beleza e a nostalgia das distâncias breves.
  6. Eduquemo-nos para uma certa abstinência dos afetos, corrigindo os excessos e a banalização de alguns gestos, como os beijos e abraços. Isto pode ajudar-nos a valorizar a importância de uma gestualidade comunicativa autêntica, de uma comunicação não verbal, que também vive e convive a partir do silêncio, da discrição, e até de um simples olhar atento.
  7. Optemos por um estilo de vida mais sóbrio, menos focado no consumo, mais centrado no essencial. Nem só de pão, vive o Homem e muito menos vive da moda, dos corantes e conservantes e de produtos açucarados ou manipulados.
  8. Libertemo-nos do desejo alienante de uma vida vivida em regime de diversão contínua. É uma boa oportunidade para corrigir um certo estilo de vida pagã, que se contenta com “pão” na mesa e “circo” na praça.
  9. Redescubramos a beleza e a riqueza da leitura, também da Bíblia ou da meditação diária do Evangelho, para desenvolver a abertura do coração a Deus e o encontro pessoal com Cristo.
  10. Aprendamos a fazer do nosso “quarto” lugar e aposento de oração, aproveitando esta oportunidade para rezarmos um pouco mais, e a sós, para meditarmos, para exercitarmos a oração do coração, para além da recitação das orações feitas de cor e rezadas nas nossas Igrejas. Este é o momento de cada um reentrar em si, de voltar à interioridade, ao seu coração, que se abre diante do mistério da vida e do mistério de Deus. Ao lavar as mãos, por exemplo, rezemos o Pai-Nosso, purifiquemos o nosso coração, dizendo estas ou palavras semelhantes: “lavai-me, Senhor, de toda a iniquidade e purificai-me de todo o pecado” (Sl 50,2).
  11. Façamos da nossa casa uma “casa de oração” e da nossa família uma verdadeira “Igreja Doméstica”. Se não pudermos participar na Eucaristia, para nos protegermos a nós e aos outros do contágio do Maligno, podemos viver este “jejum” para despertar em nós a nossa fome do Pão da Vida. Se não podemos adorar no Templo, aproveitemos para o fazer, a partir do mais íntimo de nós mesmos, “em espírito e em verdade” (Jo 4,23). Não deixemos passar o nosso Domingo “vazio de Deus”. Abençoemos a mesa, com uma breve oração. Se pudermos, ao domingo, rezemos um pouco mais em família. E por que não sentarmo-nos todos, em família, para acompanhar a transmissão da Missa pela TV ou pelas redes sociais?
  12. Vivamos mais a graça do tempo presente, sem querer controlar absolutamente tudo; façamos tudo como se tudo dependesse de nós e confiemos tudo às mãos de Deus, como se tudo dependesse d’Ele.

 

Tenho muito claro para mim: quem não aproveitar esta inesperada Quaresma de 2020 certamente não aproveitará Quaresma nenhuma da sua vida. Porque esta é mesmo Quaresma. É uma Quaresma para todos, crentes e não crentes. Pelo que agora sim, “todos aqui renasce(re)mos”.

 

V. Oremos

Finalmente, proponho-vos a recitação diária desta prece, sugerida pelo Papa Francisco a Nossa Senhora, entre nós invocada como Senhora da Hora, de todas as horas e desta hora especialmente. Não nos cansemos de rezar.

Ó Maria,
Nossa Senhora da Hora:
Tu resplandeces sempre no nosso caminho
como sinal de salvação e de esperança.

Confiamo-nos a Ti, saúde dos enfermos,
que junto da Cruz foste associada à dor de Jesus,
mantendo firme a tua fé.

Tu, Salvação do Povo de Deus,
sabes bem do que mais precisamos
e estamos seguros de que proverás
para que, tal como em Caná da Galileia,
possa voltar a alegria e a festa
depois deste momento de provação.

Ajuda-nos, Mãe do Divino Amor,
a conformar-nos com a vontade do Pai
e a fazer aquilo que Jesus nos disser,
Ele que tomou sobre si os nossos sofrimentos
e carregou as nossas dores
para nos conduzir, por meio da cruz,
à glória da Ressurreição. Ámen

À Vossa proteção nos acolhemos,
Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas,
nós que estamos na provação,
e livrai-nos de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita!

Padre Amaro Gonçalo Ferreira Lopes
Senhora da Hora, 12 de março de 2020