24 virtudes para os colaboradores do Papa (incluindo qualquer um de nós)

Em dezembro de 2014, quando apresentava os votos de boas festas aos seus mais próximos colaboradores, o Papa elencou 15 doenças e tentações da Cúria Romana (CV de 31 de dezembro de 2014). Passado um ano, novo encontro de boas festas. Mas desta vez Francisco apontou as 24 virtudes necessárias para voltar ao essencial na Igreja. Como se destinam a todos os que colaboram com a Igreja, convém conhecê-las. E praticá-las. 

 

O Papa apresentou no dia 21 de dezembro, no Vaticano, um “catálogo de virtudes” para quem trabalha na Cúria Romana, promovendo uma cultura de “honestidade” e “exemplaridade” para “evitar os escândalos” que ameaçam a credibilidade da Igreja. No tradicional encontro de Natal com os seus mais diretos colaboradores, Francisco quis recordar algumas “virtudes necessárias” para quem presta serviço na Cúria e “para todos aqueles que querem tornar fecunda a sua consagração ou o seu serviço à Igreja”. O Papa observou que “é um elenco que parte em concreto da análise acróstica da palavra «misericórdia»”, como fazia o padre Ricci (1552-1610) na China. As iniciais de doze das virtudes compõem a palavra “Misericórdia”.

Missionariedade e pastoralidade
Idoneidade e sagacidade
Spiritualità e humanidade
Exemplaridade e fidelidade
Racionalidade e amabilidade
Inocuidade e determinação
Caridade e verdade
Onestà e maturidade
Respeitabilidade e humildade
Doviziosità e atenção
Impavidez e prontidão
Affidabilità e sobriedade

 

Missionariedade
e pastoralidade
A missionariedade é aquilo que torna a Igreja fértil e fecunda; é a prova da eficácia, eficiência e autenticidade do deu trabalho. A fé é um dom, mas a medida da nossa fé prova-se também pelo modo como somos capazes de a comunicar. Cada batizado é missionário da Boa Nova primariamente com a sua vida, o seu trabalho e o seu testemunho jubiloso e convincente. Pastoralidade sã é virtude indispensável especialmente para cada sacerdote. É o compromisso diário de seguir o Bom Pastor que cuida das suas ovelhas e dá a sua vida para salvar a vida dos outros.
Idoneidade
e sagacidade
A idoneidade requer o esforço pessoal por adquirir os requisitos necessários para se exercer da melhor maneira as próprias tarefas e atividades, com inteligência e intuição. É contra recomendações e subornos. A sagacidade é a prontidão de mente para compreender e enfrentar as situações com sabedoria e criatividade. Idoneidade e sagacidade constituem também a resposta humana à graça divina: «Fazer tudo como se Deus não existisse e, depois, deixar tudo a Deus como se eu não existisse».

 

Espiritualidade
e humanidade
A espiritualidade é a coluna que sustém qualquer serviço na Igreja e na vida cristã. É aquilo que nutre toda a nossa atividade, sustenta-a e protege-a da fragilidade humana e das tentações diárias. A humanidade é o que encarna a veridicidade da nossa fé. Quem renúncia à sua humanidade, renuncia a tudo. É a humanidade que nos torna diferentes das máquinas e dos robôs que não sentem nem se comovem. Quando temos dificuldade em chorar a sério ou rir com paixão, começou o nosso declínio e o nosso processo de transformação de «homens» noutra coisa qualquer.

 

Exemplaridade
e fidelidade
Exemplaridade para evitar os escândalos que ferem as almas e ameaçam a credibilidade do testemunho. Fidelidade à consagração, à vocação.

 

Racionalidade
e amabilidade
A racionalidade serve para evitar os excessos emocionais e a amabilidade para evitar os excessos da burocracia e das programações e planificações. São dotes necessários para o equilíbrio da personalidade. Todo o excesso é indício de qualquer desequilíbrio.

 

Inocuidade
e determinação
A inocuidade [de inócuo, que não prejudica, inofensivo] é que nos torna cautelosos no juízo, capazes de nos abstermos de ações impulsivas e precipitadas. É a capacidade de fazer emergir o melhor de nós mesmos, dos outros e das situações, agindo com cuidado e compreensão. É fazer aos outros aquilo que querias que fosse feito a ti. A determinação é o agir com vontade decidida, visão clara e obediência a Deus.

 

Caridade
e verdade
Duas virtudes indissolúveis da vida cristã: «Testemunhar a verdade na caridade e viver a caridade na verdade». A caridade sem verdade torna-se ideologia da bonacheirice destrutiva e a verdade sem caridade torna-se justicialismo cego.

 

“Onestà” (honestidade)
e maturidade
A honestidade é a retidão, a coerência e o agir com absoluta sinceridade connosco mesmos e com Deus. Quem é honesto não age retamente apenas sob o olhar do supervisor ou do superior. O honesto não teme ser apanhado de surpresa, porque nunca engana quem nele se fia. O honesto nunca domina sobre as pessoas ou sobre as coisas que lhe foram confiadas. A honestidade é a base sobre a qual assentam todas as outras qualidades. Maturidade é o esforço para alcançar a harmonia entre as nossas capacidades físicas, psíquicas e espirituais. É a meta e o bom êxito dum processo de desenvolvimento que não termina jamais nem depende da idade que temos.

 

Respeito
e humildade
O respeito é dote das pessoas nobres e delicadas; das pessoas que procuram sempre ter em justa consideração os outros, a sua função, os superiores e os subordinados, os problemas, os documentos, o segredo e a confidencialidade; das pessoas que sabem ouvir atentamente e falar educadamente. A humildade é a virtude dos santos e das pessoas cheias de Deus, que quanto mais sobem de importância tanto mais cresce nelas a consciência de nada serem e de nada poderem fazer sem a graça de Deus.

 

“Doviziosità” [generosidade]
e atenção
Quanto maior confiança tivermos em Deus e na sua providência, tanto mais seremos generosos [“doviziosità” é uma palavra inventada pelo Papa a partir de “dovizia”, abundância, riqueza] de alma e mais seremos mãos abertas para dar, sabendo que quanto mais se dá, mais se recebe. Na realidade, é inútil abrir todas as Portas Santas de todas as basílicas do mundo, se a porta do nosso coração está fechada ao amor, se as nossas mãos estão fechadas para dar, se as nossas casas estão fechadas para hospedar e se as nossas igrejas estão fechadas para acolher. A atenção é o cuidado dos detalhes e a oferta do melhor de nós mesmos sem nunca cessar de vigiar sobre os nossos vícios e faltas.

 

Impavidez
e prontidão
Ser impávido (audaz, intrépido) significa não se deixar amedrontar perante as dificuldades. Significa agir com audácia e determinação e sem indolência. Como bom soldado. Significa saber dar o primeiro passo sem demora, como Abraão e Maria. Por sua vez, a prontidão é saber atuar com liberdade e agilidade, sem apegar-se às coisas materiais que passam. Estar pronto significa estar sempre a caminho, sem se sobrecarregar de coisas inúteis, sem se fechar nos próprios projetos, sem se deixar dominar pela ambição.

 

“Affidabilità” (fiabilidade)
e sobriedade
Fiável é aquele que sabe manter os compromissos com seriedade e disponibilidade quando está a ser observado mas sobretudo quando está sozinho; é aquele que ao seu redor irradia uma sensação de tranquilidade, porque nunca atraiçoa a confiança que lhe foi concedida. A sobriedade – última virtude deste elenco mas não na importância – é a capacidade de renunciar ao supérfluo e resistir à lógica consumista dominante. A sobriedade é prudência, simplicidade, essencialidade, equilíbrio e temperança. Quem é sóbrio é uma pessoa coerente e essencial em tudo, porque sabe reduzir, recuperar, reciclar, reparar e viver com o sentido de medida.

 

Edição de J.P.F. com Ag. Ecclesia e Rádio Vaticano.