O mundo estremeceu de emoção: do ventre dos destroços de morte, erguem-se flores e velas de esperança e vida; do seio dos clamores do sangue, ressoam suaves melodias de reconciliação e de perdão.
“Eu não sou extraordinário, não sou herói, não sou excecional… Apenas me impus a mim próprio não guardar ódio” – confessava aquele jovem marido, que perdera a sua esposa no massacre de Paris, deixando-lhe nos braços um filhinho de dezassete meses. Reconhecendo embora a sua fragilidade e a possibilidade de ser tentado a explodir, alguma vez, de raiva, testemunhava que a única arma que se lhe oferecia adequada para responder a este vulcão de ódio era o perdão. A melhor lição que poderia ensinar ao seu filho, seria ajudá-lo a crescer sem ressentimentos, moldando-lhe um coração de paz.
Arrepia esta coragem! Emociona a serenidade de um rosto que acaba de perder “metade da sua vida”, com o encargo redobrado de ser pai e mãe de uma criança de colo. É um rosto vivo da Misericórdia de Deus, mesmo que O não conheça. É uma interpelação chocante a tantos de nós que franzimos o rosto enquanto congeminamos vinganças contra pequenas indelicadezas, sobre insignificantes erros ou afrontas.
Como se pode ensinar a paz ou o ódio, a partir dos horrendos fenómenos do terrorismo! Não passou despercebida a lição de pacifismo daquele outro pai, o qual, levando o seu filho de quatro anos junto dos sinais de homenagem às vítimas, pedagogicamente o conduziu, da inquietação, da condenação e do medo, à serenidade, à compreensão, à confiança: “as flores, as velas são o antídoto contra as pistolas”, a forma de vencer os maus… “As flores e as velas são para nos proteger” – foi a convicção que calou no mais íntimo do pequeno e que o deixou melhor, que o deixou tranquilo.
Os malfeitores pessoais e sociais devem ser descobertos e justamente castigados, numa perspetiva de regeneração e reintegração, em busca de uma paz desejada e necessária. Mas os corações educam-se, as gerações futuras preparam-se para o respeito, a convivência e a cooperação, com estes exemplos heroicos dos construtores de paz, que são, em verdade, bem aventurados, são expressões visíveis da Misericórdia divina.
Famílias, catequeses, grupos de toda a ordem, escolas…, aí está um dos desafios emergentes e urgentes, ao qual é indispensável dar respostas simples, testemunhais, convincentes, que entrem no intelecto e desçam ao mais profundo do coração humano.