Vamos procurar usufruir este período de férias políticas e governativas perscrutando o país com olhar límpido, sem a poluição das causas fraturantes que tanta celeuma trouxeram ao nosso quotidiano, perturbando a vida simples do nosso povo, criado e educado com princípios e valores, que agora se pretende defenestrar, extirpando-os do coração dos portugueses.
Em vez de nos proporem discutir e legislar sobre eutanásia, barrigas de aluguer, coadoção, eliminação do ensino privado, nacionalizações e outros temas com que se entretiveram durante a “saison” política, levemos antes, para férias, como temas de reflexão, as causas opostas e de verdadeiro interesse nacional: aumento da natalidade, iniciativas de cuidados a ministrar aos idosos, incremento dos níveis de educação e literacia, gestão e poupança familiar, criação de emprego, integração dos jovens na vida ativa.
Peguemos em dois ou três destes temas e reflitamos sem peias ideológicas.
Comecemos pelo tema da natalidade. Todos sabem que hoje nascem muito poucas crianças. Os números indicam que, cada mulher em idade fértil tem, em média 1,2 filhos, quando o índice de substituição de gerações é de 2,1 (cada mulher da família deveria gerar pelo menos 2 filhos para substituir os pais que morrem, mas como nascem mais rapazes do que raparigas, este índice é de 2,1).
O significado puro e simples desta situação é o de que, com os anos, os nascimentos são insuficientes para repor os falecimentos e a pirâmide etária tende a inverter-se, com muitos mais idosos do que jovens.
As estatísticas dizem-nos que em 1961 havia 27 idosos por cada 100 jovens e hoje já são 144 idosos para os mesmos 100 jovens, isto é, a nossa sociedade já comporta um número de idosos maior do que o de jovens.
As consequências são inimagináveis: há famílias que vão desaparecer por falta de descendência, há escolas que vão fechar por falta de alunos (este ano encerrarão dezenas de turmas), há povoações que vão ficar desertas, há igrejas que ficarão sem fiéis, creches que serão encerradas por falta de crianças, empresas que não terão mão de obra para poderem funcionar.
Mas há outras consequências: os trabalhadores ativos que descontam para sustentar a segurança social são hoje cerca de 50% da população jovem e idosa, mas daqui a 25 anos serão 33% os ativos para suportar os custos da população não ativa. E de duas uma: ou se reduzem as pensões para níveis compatíveis com as contribuições ou se aumentam gravemente os impostos.
As consequências do envelhecimento da população são previsíveis: aumento das necessidades em cuidados de saúde (já hoje não temos serviços que bastem, quanto mais quando forem muito mais numerosos os idosos), aumento do volume de pensões e forte incremento das necessidades de prestação de apoio em centros de dia, lares e domicílio.
Perante este quadro realista, claro e previsível, que medidas foram tomadas pelo Governo, pela Assembleia da República, pelo Senhor Presidente da República, pelos poderes públicos e pelos partidos, para ajudar a resolver, na génese, o problema futuro e evitar a catástrofe social projetada no nosso horizonte?
Uns e outros entretiveram a discussão, nomeadamente, à volta das barrigas de aluguer (vão resolver o problema da natalidade?), da coadoção e da eutanásia (eliminar idosos resolve o problema?).
Que medidas foram propostas e discutidas, chamando à razão e à participação os cidadãos, de quem depende a solução, a única solução, que é aumentar o número de filhos por mulher, por casal, por família?
A cegueira dos que hoje governam e influenciam a governação e não querem perceber que o problema reside na família, nos casais, nas condições que proporcionem emprego, habitação, estabilidade, educação, princípios e valores, conduzir-nos-á ao abismo.
Temos, pois, de pensar, organizar-nos e reagir contra este estado de coisas. Temos de rejeitar os que nos estão a conduzir ao precipício, com palavras melífluas e sedutoras de falsas miragens libertárias das estruturas retrógradas, como a família tradicional, que consideram hoje desajustada e aberrante, numa sociedade pretensamente progressista.
Há uma instituição fundamental da sociedade portuguesa, também considerada caduca e decrépita, pelo mesmo grupo de progressistas avançados, que está há muito tempo, incompreensivelmente, em silêncio, como que paralisada e acomodada a esta onda de choque de frentismo político e social, que é a Igreja Católica, melhor dizendo, as Igrejas Cristãs, que tem em comum os princípios civilizacionais que fundam nas famílias tradicionais a evolução da população, a sua educação e formação para os valores comuns da sociedade e da nação.
Onde está a voz e a ação das Igrejas e dos seus fiéis, cujo peso no contexto das comunidades locais e da população do país é percentualmente elevado, em defesa da família e promoção de iniciativas inovadoras e criativas que levem os jovens e os adultos a pôr as mãos na massa e dar a volta ao problema crítico da procriação e da vida, para a construção de uma sociedade nova e renovada, não apenas com as ideias frívolas e virtuais dos progressistas, mas com crianças lindas e pujantes, nascidas de casais amorosos, que os querem e criam para a felicidade?
Onde está a voz mobilizadora da Conferência Episcopal Portuguesa, dos Bispos das nossas Dioceses e dos Sacerdotes, apelando para uma sociedade nova, de gente nova e bem formada, esclarecendo, formando e informando, nas suas homilias e comunicações?
Ou será que só se houve e sobressai a voz do Papa Francisco, escrevendo, falando, doutrinando, criticando e apelando para uma sociedade nova?
Seremos nós, já hoje, uma Igreja de terceira idade, sem espírito nem chama, que se vai apagando com os ventos desse progressismo falsamente libertador, incapaz de reagir?
Ou, pior do que isso, estaremos a ficar manietados por dependências comprometedoras, como as que vemos nas nossas terras, em que o religioso tem a mão estendida ao civil, sempre à espera do donativo para sobreviver?
Não é verdade. Nós temos vida e muita vida, que nos vem de Jesus e do Evangelho e, por isso vamos lutar para que as nossas famílias e as nossas comunidades rejuvenesçam com novos rebentos nascidos de casais que querem contribuir para uma sociedade e um país precisa da juventude para crescer!