A tendência das ideologias para adoçar a pílulas dos temas fraturantes é mascarar a dureza, a crueldade desses temas, tratando-os com eufemismos aliciantes.
Foi suficientemente escalpelizada, na altura do referendo, a máscara criada para a legalização do aborto. Mas vale a pena recordar. Chamaram-lhe Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG). Todos sabemos que interromper uma coisa significa suspender o seu desenvolvimento, para se retomar em tempo oportuno ou, porventura, para posteriormente se dar como terminada. A vida não se suspende para se retomar. Se se interrompe, é irreversível a decisão.
Portanto, nada de ocultar o que constitui um atentado contra uma vida frágil e indefesa. A Constituição da República Portuguesa, no seu artigo 24.º, diz sem rodeios que “A vida humana é inviolável”; e, no artigo 25.º, que “A integridade moral e física das pessoas é inviolável”. Ninguém é dono da vida de ninguém, nem para a interromper, nem para violar a sua integridade. O Papa, ainda no passado domingo, voltou a referir-se ao acolhimento aos nascituros, como sinal do amor de Jesus, que “não é um sentimento superficial”.
Estamos, agora, envolvidos na discussão à volta de outro tema fraturante, designado por “Morte Medicamente Assistida”. O nome próprio é Eutanásia, o qual, curiosamente, significa “boa morte”.
Aqui, a questão coloca-se de outro modo: se eu decido acabar com a minha vida, medicamente assistido ou não, o nome único para este ato é suicídio. Mesmo que eu queira implicar subtilmente na responsabilidade aquele ou aquela que vai ministrar os produtos químicos a usar, se a decisão é minha, continua a ser suicídio. Se são outros a decidir por mim, estamos perante o mesmo problema – a violação do direito primordial, que é a vida, o atentado contra a integridade física da pessoa em questão.
Assustam-se já muitos idosos – e com razão – receando que, um dia, alguém os venha a considerar descartáveis e decida o assassinato, mesmo que medicamente assistido. Começa a ser tenebroso, para muitos, este angustiante horizonte de incerteza.
“Que a vida seja sempre tutelada e amada, desde a sua conceção ao seu fim natural. Isto é amor”, disse o Papa Francisco, no domingo passado, perante os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, para a recitação da oração do ‘Regina Coeli’. O pontífice prosseguiu dizendo que a fé católica propõe o amor para com todos, “especialmente os mais fracos”.
E especificou: “Eis por que somos chamados a guardar os idosos como um tesouro precioso e com amor, ainda que criem problemas económicos e dificuldades. Eis por que devemos dar aos doentes toda a assistência possível, ainda que estejam no seu último estádio”.
Os católicos têm a indicação do caminho. Estas não são questões em que se possa dizer: “Eu penso assim…”. Discutir as questões é importante, para perceber o seu sentido profundo. Dar suporte a decisões que vão contra a fé é heresia!