A luta pelo poder

FLAUSINO SILVA Empresário

FLAUSINO SILVA
Empresário

Latente e subterrânea em períodos de acalmia, na política entre períodos eleitorais, nas instituições sempre que as dificuldades se avolumam e apenas se esperam trabalhos e obstáculos a vencer.
Mas quando cheira a PODER a luta emerge, vem ao de cima.
Acontece na sociedade civil, mas também na Igreja, como sabemos. Quando Bento XVI foi eleito e começou a mexer nas estruturas, foram visíveis as movimentações dos poderes instalados, mais intensas e ostensivas com as reformas empreendidas pelo Papa Francisco.
Também nas estruturas diocesanas, sobretudo em tempos de mudança de lideranças, se vislumbram, não raro, movimentações e influências para acesso a lugares de maior relevo ou de menor responsabilidade e esforço.
No mundo da economia, onde a maioria dos agentes vem resistindo, estoicamente, à crise, persistindo no caminho da recuperação e do emprego, emergiram situações gravíssimas de mau exercício do poder, em grupos empresariais, abrindo espaço para obtenção de resultados catastróficos, com prejuízos e consequências muito graves para os accionistas e para o país.
O PODER está onde estiverem pessoas, grupos, comunidades e sociedades estruturadas.
Atrai, mobiliza, motiva, mas também desgasta, degrada-se e corrompe, quando não está ao serviço do bem comum.
A figura de José Alberto Mujica, homem simples, que foi Presidente da República do Uruguai até 28 de Fevereiro passado, tornou-se um ícone mundial pela humildade e sabedoria no uso dos poderes presidenciais e dos bens do Estado. Em vez de se mudar para o palácio presidencial quando foi eleito, continuou a habitar a sua casa simples, de tecto coberto por zinco, a 15 km da capital. Em vez de usar o carro presidencial com motorista, continuou com o seu velho carocha, de 1987 e, dos 12 mil dólares da sua remuneração, prescindiu de 87% e, em cinco anos de mandato, doou mais de 600 mil dólares para construir casas para os mais carenciados. Exerceu os seus poderes, sobretudo, em favor dos menos favorecidos e praticou a sobriedade e o desprendimento das coisas materiais.
É, sem dúvida, na acção política que se torna mais visível a luta pelo poder. Numa democracia representativa, pluripartidária, ela começa dentro dos próprios partidos, nem sempre com ética e respeito pelos valores sociais. Aproximando-se eleições vislumbram-se, desde logo, movimentações estratégicas de posicionamento dos candidatos a candidatos, afunilando o processo para os repetentes sem abertura nem espaço para outros, independentemente de critérios de qualidade, competência social e capacidade para o desempenho das funções.
E a luta pela conquista do poder a nível do governo aí está, a acender-se entre os partidos, havendo já evidentes sinais de que passará muito mais pela procura e narrativa de factos da vida pessoal dos seus líderes, sobretudo dos aspectos menos positivos, em detrimento da análise e do debate dos principais temas e opções que tem a melhoria das condições e da qualidade de vida das pessoas e da sociedade como um todo.
Continua a surpreender e a desagradar, profundamente, ao comum dos cidadãos, que os políticos se degladiem por dá cá aquela palha, seja a nível nacional ou local, pautando as intervenções públicas pelo maldizer, pelo ataque pessoal, pelo bota abaixo.
Esta forma enviesada e torpe de fazer política é replicada, frequentemente, por acções de grupos e associações, contribuindo ainda mais para o seu descrédito.
E este panorama, negativo e belicista, da luta pelo poder, é apresentado, quotidianamente, aos cidadãos, pelos media, em doses maciças de informações e comentários, a maioria deles de modo derrotista e depressivo.
Falta, notória e clamorosamente, evidenciar, construtivamente, o lado positivo de tantas e tantas iniciativas e realizações meritórias e positivas, em todas as áreas da vida colectiva, económica, social e mesmo política, levadas a cabo, quotidianamente, por pessoas e instituições. As poucas notícias boas são facilmente engolidas pela avalanche do negativismo e do pessimismo repetido, do mal dizer e do dizer mal, numa interminável narrativa de velhos do restelo.
Mas não tem que ser assim, se nós quisermos, se rejeitarmos ser destinatários dos predadores da esperança, da ética e dos valores.
É tempo de verdade! Mudemos!