A partir do próximo ano, António Guterres, como Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, e o Papa Francisco partilham altas responsabilidades mundiais. Ambos são cristãos e preconizam o diálogo consequente na solução dos problemas da humanidade, mas nenhum detém poder político para os resolver.
O Papa, na Exortação Evangelii Gaudium, nºs. 227-228 e 239, propõe três linhas de rumo perante os conflitos, semelhantes à que A. Guterres adotou ao longo da sua vida: (a) A primeira consiste em «enfrentar o conflito», suportando-o e procurando resolvê-lo (nº. 227); (b) A segunda, em praticar o «diálogo como forma de encontro (…)» (239); (c) E a terceira, em levar à prática os acordos conseguidos, desenvolvendo uma verdadeira «comunhão nas diferenças» (nº. 228). Nesta filosofia de diálogo, nenhuma corrente sociopolítica é excluída, nem sequer as fundamentalistas; tal exclusão seria, aliás, uma prática de fundamentalismo.
A falta de poder de A. Guterres, para a solução dos problemas da humanidade, pode constituir uma vantagem relevante para o cumprimento da sua missão: com efeito, assim despojado, não se identificando com nenhuma força, entrará mais facilmente em contacto com todos elas (embora sujeito a mal-entendidos); poderá valorar as potencialidades positivas de cada uma, contribuir para a atenuação das posições negativas e estimular os entendimentos possíveis, mesmo que sejam parciais e provisórios. É de notar que a ambição precipitada, a favor de entendimentos completos e definitivos, pode constituir uma séria ameaça à paz, na medida em que não respeite o amadurecimento das decisões das partes envolvidas.
Todos nós, concidadãos de A. Guterres, poderíamos cooperar ativamente com ele: não tanto mediante o acesso à sua esfera de ação, mas sobretudo mediante a prática do diálogo incondicional, que é tão indispensável à escala internacional como na vida familiar e em todos os domínios da nossa vida pessoal e coletiva (cf. o movimento referido no artigo anterior).