Questões Sociais 1. O capitalismo tem resistido a todas as revoluções de esquerda e a outras mudanças no mesmo sentido. Os conteúdos e processos de tais mudanças foram marcados intrinsecamente pela prática e pelo espírito capitalistas.
O menosprezo do pobre e a glorificação do proletário, a importância atribuída a intelectuais (mesmo para a glorificação da ditadura do proletariado), as desigualdades de rendimentos, de poder e de saber dominador, a limitação de liberdades… tudo isto, e muito mais, se encontra nas revoluções e mudanças alegadamente de esquerda e anti-capitalistas.
2. À luz do humanismo social, particularmente o de orientação cristã, a erradicação do capitalismo implica alterações estruturais, a mudança (ou conversão) interior e um esforço permanente de investigação-acção.
As mudanças estruturais não se podem reduzir à colectivização dos meios de produção, e esta não se pode reduzir à estatização. Tais mu-danças deveriam situar-se, sem dúvida, na alteração socializante das relações de produção, mas também na respectiva democratização, hu-manização, e no respeito dos direitos e responsabilidades em presença.
A conversão interior deveria resultar não só das referidas mudanças estruturais mas também do esforço pessoal de verdadeira ascese. No fundo, trata-se de construir, livremente, o “homem novo” de que falam S. Paulo e as correntes marxistas, cada qual a seu modo.
A investigação-acção é a via através da qual se avalia permanentemente o trabalho realizado, se clarifica a realidade e se procuram novos caminhos. A investigação-acção deveria ser obra de todos os agentes sociais, económicos e políticos.
3. Ao contrário desta orientação recomendável, o capitalismo acha-se claramente vitorioso, por enquanto, à esquerda, tal como à direita e ao centro. Está vitorioso na falta de uma “escola”, de uma prática e de um corpo de profissionais, gestores e técnicos, vocacionados para o serviço público, independentemente de remunerações competitivas. Está patente na reivindicação sindical (tipicamente capitalista) a favor dos trabalhadores com emprego mais estável e salários mais altos. Está patente, enfim (e para além do muito mais que se poderia acrescentar), na aliança tácita de capitalistas e de consumidores contra empresas de produção agrícola e industrial e contra os trabalhadores mais precários e de salários mais baixos.
A vitória é inevitável?