A bibliografia já disponível sobre D. Manuel Martins e outros textos do seu legado facilitarão o esclarecimento do seu compromisso social, particularmente enquanto Bispo de Setúbal. No entanto, algumas perguntas exigem o contributo da nossa reflexão e pesquisa. Registo apenas duas, respeitantes ao nosso compromisso laical: Existe uma efetiva intervenção sociopolítica dos leigos, em Portugal? Como é que ela pode melhorar?
A resposta à primeira pergunta pode ser afirmativa e negativa: afirmativa porque, em geral, os leigos atuam cristãmente na sua vida pessoal, familiar, profisssional, associativa, cívica…; e muitos participam ativamente na vida sociopolítica. No entanto, a resposta pode também ser negativa porque, em geral, os movimentos e organizações de leigos ainda estão bastante marcados pelo monolitismo (cf. Evangelii Gaudium, EG, nºs. 40 e 98), pelo clericalismo (EG, 102) e pela ausência de diálogo plural (EG 226-228 e 238-239). Com efeito, ainda escasseiam bastante: (a) O reconhecimento da contingência das diferentes concretizações dos princípios da doutrina social da Igreja, DSI («Compêndio da DSI», CDSI, 568 e 571, e «Gaudium et Spes», GS, 43); (b) A inserção laical na «autonomia das realidades terrestres», donde também emanam valores e princípios que são compatíveis com os da DSI (GS, 36 e CDSI, 74-78); (c) A complementaridade fraterna de posicionamentos sociopolíticos diferentes; (d) A prática do diálogo social no interior da Igreja; sobretudo o diálogo, em cruz, de conciliação entre as realidades terrestres e as celestes, e entre aqueles posicionamentos (CDSI, 569); (e) A moderação da tendência para a proclamação de grandes princípios e graves denúncias, menosprezando as concretizações dos princípios e a solução efetiva dos problemas. Muitos leigos esmeram-se na imitação do discurso e posições de D. Manuel Martins… mas esquecem, por vezes, que não são bispos… nem precisam de o ser. (Continua)