A expressão é conhecida de todos nós: “De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens”. E serve para caracterizar a coerência, a verticalidade, a coragem, a ousadia de uma pessoa que bebe a sua construção interior da inspiração divina e se afirma, sem presunção, mas também sem receios, diante das pessoas, das comunidades, das autoridades.
Apesar de alguma fragilidade física, é assim que se apresenta e se comporta o atual sucessor de Pedro, o Papa Francisco. É assim que se apresenta, diante dos fiéis, diante das estruturas da Igreja, a começar pela própria Cúria romana, diante das Autoridades Religiosas de outras crenças, diante das Autoridades civis, diante dos “grandes deste mundo”.
As suas convicções de Fé, as suas reflexões teológicas e pastorais, as indicações preciosas de comportamentos morais e sociais, a sua preferência pelos preferidos do Evangelho, a sua proximidade sem reservas nem aceção de pessoas, os seus gestos… – tudo isto é um caudal de anúncio profético, uma interpelação à intimidade com Cristo, único caminho de salvação.
Alguém comentava, há uns dias a sua ternura, na visita a uma unidade de neonatologia, apresentando-se com um bebé ao colo (e com que habilidade!): “aquele gesto valeu mais do que mil discursos contra o aborto”. É esta identidade intrínseca e transparente que se ergue, que se agiganta, diante de toda a gente, como uma referência provocadora e iluminadora.
Anunciou o Vaticano a visita próxima – já de sexta a domingo – à Geórgia e ao Azerbaijão. E é o próprio Papa que indica os motivos dessa visita. “Acolhi o convite para visitar estes países por um duplo motivo: por um lado, valorizar as antigas raízes cristãs presentes nessas terras, sempre num espírito de diálogo com as outras religiões e culturas; por outro, encorajar esperanças e caminhos de paz”.
O programa é bem explícito. Não se trata de procurar banhos de multidão. Trata-se de ir ao encontro de comunidades cristãs diversas, de crentes de outras religiões, sobretudo de muçulmanos, de minorias católicas isoladas – os católicos no Azerbaijão são umas centenas. Trata-se de marcar uma presença que seja convite à paz, em territórios onde ela é frágil e incerta.
Pastor universal e paladino do diálogo, obreiro da paz! Será que não suscita nas nossas consciências a urgência de gestos proféticos, claros e simples, a ousadia de ficar de pé, diante de quem pretende aliciar-nos?…