A impressão que passa, em geral, para o grande público é a de que, nestes tempos de apresentação e discussão do Orçamento de Estado, ninguém fala verdade, passam muitas coisas sob o tapete, não se tem em vista o bem do País nem, como consequência, o futuro. O discurso é de artimanha política, em vista de alardear otimismo e granjear simpatia, tendo como horizonte umas eleições autárquicas que se aproximam, importantes para creditar o poder instituído ou, desacreditando-o, abrir perspetivas para outros o conquistarem.
Não sou anarquista. Mas começo a cansar-me de sistemas partidários cuja atuação se pauta pela busca a todo o preço do benefício para as respetivas clientelas, estratégias de poder, carradas de promessas balofas e desprezo disfarçado pelas grandes questões que afetam toda a população: trabalho, saúde, educação, apoios sociais…
Se não fosse doloroso nem parecesse ridículo, seria divertido brincar com os tostões e os milhões. Bem sei que muitos treinadores e muitos jogadores de futebol ganham imensamente mais do que um gestor do banco público. Que eu saiba, entretanto, não é dos nossos impostos que auferem esses monstruosos salários – o que lhe não atenua a monstruosidade. Mas pensemos só nisto: esse salário que anda nas bocas do mundo, acumulado com a pensão, com pagamento de catorze meses, daria para pagar quase oito turmas numa escola com contrato de associação, o que significa garantir um ano de formação para duzentos a duzentos e quarenta alunos. E as corporações agora não falam!…
Em absurda contradição com isto, acena-se à miséria com o máximo de trinta e três cêntimos por dia! É assim que se promove a justiça social? Não fazemos contas, é o que é! E deixamo-nos embalar pela sereia do fim da austeridade, pelas promessas de uma “crise” ultrapassada, pelo encanto de um crescimento dito consolidado… Até quando?… Para o povo português, orçamento é uma ficção. O que há é um des (orçamento) continuado!