Foi sem dúvida um grande espetáculo, aquele a que mais de quatrocentas pessoas assistiram nas noites de 19 de 20 de maio, no auditório do Seminário de Aveiro. Em cena, “Fracassos da Corte”, uma peça escrita por um frade dominicano no final do século XVII, em Veneza (Itália), e pela primeira vez, tanto quanto se sabe, traduzida e representada em Portugal. Traduziu-a o P.e Júlio Franclim e representou-a a Oficina de teatro Capitão Grancho, com uma dezena de excelentes atores amadores e encenação da professora Teresa Grancho, numa ação organizada pela Comissão Diocesana da Cultura.
“Fracassos da Corte”, com a jovem de origem ucraniana Dárya Plotnyska no papel de Joana de Portugal, retrata a opção de “santa” Joana, que prefere “os silêncios do claustro” aos prazeres da corte, perante as seduções de Henrique de França e a oposição inicial do pai, D. Afonso V, e do irmão, futuro D. João II.
Embora uma ou outra vez seja difícil acompanhar totalmente os diálogos da peça, dada a linguagem barroca original, a representação, que durou mais de uma hora, foi muito viva, muito profissional, com jogos de luzes, sons e imagens que lhe deram grande modernidade. É de lamentar se a peça não tiver mais representações.
Por outro lado, o texto, publicado em livro pela Editora Tempo Novo, poderá renovar a linguagem com que habitualmente é contada a história de santa Joana, aproximando-a de um tipo que religiosidade que era o da sua época, baseada no sacrifício pessoal e na “fuga do mundo”. Como exemplo, fiquemos com a última frase da peça (que tinha começado com Joana com um manto de ouro – realeza – num braço e um chicote de autoflagelação – vida religiosa – na outra mão): “Eu, para viver dias de ouro, considero uma grande fortuna gozar dias de ferro. Assim deve viver quem, morrendo bem, deseja gozar eternamente”.
J.P.F.