Jesus vive

Na nossa assembleia do clero, falou-nos, entre outros, o Sr. Bispo de Lamego, D. António Couto. Apesar de conhecermos muito bem a essência da pregação do Evangelho, por vezes parece que um novo anúncio sabe a novidade. O que sabemos apresenta-se como novo outra vez, e é aí que somos atingidos por essa boa notícia, ou Boa Nova, ou Evangelho: Jesus Vive.
Toda a pregação inicial dos Apóstolos consistiu em dizer que Ele morreu mas ressuscitou e está no meio de nós. Levar a certeza de que os homens não caminham sozinhos. Ele vive. E não é lá no Céu longínquo, sem se interessar pelos homens e suas vidas. Vive no aqui e agora de toda a história e na história de cada um.
Vive na eficácia da Sua Palavra, que é Ele mesmo, Verbo do Pai, lançado à terra desde o momento da criação, para fecundar, qual semente, o coração de cada ser. Vive na Sua Igreja, Povo de Deus que caminha no meio de provações e esperanças, em cada dia renovado pela força da Fé. Vive na Eucaristia, que a Igreja confeciona para ser comunhão entre Deus e os homens, Corpo e Sangue que se fazem “carne da nossa carne e ossos dos nossos ossos”. Vive no coração de cada pessoa, de todos os credos ou fora deles, de todas as raças. Se houver alienígenas, até neles vive o Senhor. Vive, silencioso e misterioso, no corpo que sofre e nos olhos que choram, no sorriso que brilha, nas mãos que acolhem, no abraço que revigora, no beijo que trai ou atrai.
Ele vive connosco, tal como prometeu: Atá ao fim dos tempos e mais além. A Boa Nova que devemos levar ao mundo e que os Atos dos Apóstolos sublinham tão bem vai exatamente nessa linha. Foi essa realidade que deu força aos apóstolos e discípulos para enfrentarem um império, os mares e os flagelos. Deu força para que não tremessem sob o rugido dos leões nas arenas, como ainda hoje anima as vítimas, sempre presentes, das perseguições contra a fé.
Saber que Ele vive de mãos e coração colado a nós estimula a abraçar a cruz como Ele abraçou, tenha ela a forma de uma câmara de gás ou de um leito de hospital. Sabemos que vive, hoje e agora, mas também no hoje sem ocaso, onde nos convida a sentar, com Ele, na mesa do Pai.
Jesus vive para vencer a morte, a doença e o pecado, os muitos demónios da existência, sejam eles o demónio ou Satanás, ou os muitos demónios que o homem carrega na sua mente e no seu coração, frutos de sua condição de fragilidade e livre pecador. O que é anunciar o Evangelho, que fez S. Paulo tremer ao dizer: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho!”? É dizer a todos os homens que Jesus vive. Por isso, nada a temer deveras, ainda que a natureza vacile diante do medo do imprevisível. Ele está. Ele cuida. Ele providencia. Ele sara. Ele cura. Ele ama. Ele veio para dar vida em abundância. Não é Deus de mortos, mas de vivos, que promete Vida Eterna, paraíso sereno, depois de leve prova, depois de nos experimentar como ouro no crisol. Não está, portanto, surdo aos nossos queixumes e gritos de angústia, nem à nossa agonia, quando moribundos…
Ele está… Ele é… Ele vive. Foi assim que assentou em mim o anúncio renovado que ouvimos da boca de um bispo e que nos leva a pensar se vivemos, de facto, envolvidos por essa consciência. Se a nossa vida é gasta a levar esta Boa Nova, já tão antiga, ao coração de todos e de cada homem, a tempo e fora de tempo, certos de que Ele assiste a tudo, amorosamente do nosso lado. Melhor ainda: Dentro de nós, sem se confundir connosco, sem deixar de ser Ele e de eu ser eu. Não há fusão em Deus que apague o indivíduo. Há comunhão que une num imenso e eterno abraço de amor. Porque Ele vive. E está vivo para sempre.
Vitor Espadilha