Loucos

QUERUBIM SILVA
Padre. Diretor

“Os loucos vencem os grandes” – parece uma sentença fatídica do jornalista, face à surpresa que nos têm trazido ultimamente as loucuras políticas. De tal forma que a insegurança alastra, desde os mercados financeiros às pessoas, desde os grupos étnicos minoritários às confissões religiosas. Todavia, a história comprova que muitos “loucos” venceram grandes – Ghandi, Luther King, Nelson Mandela… – com benefícios inquestionáveis para diversos povos, para distintas raças, para toda a Humanidade.
E por que não citar os “loucos” por Jesus Cristo, que venceram a tirania do poder, pela fidelidade à sua fé ou que venceram a própria resistência de uma hierarquia eclesial apodrecida pela sua genuína humildade e convicta fidelidade à pureza do Evangelho? Tantas e tantos reformadores da vida da Igreja, entre os quais pontifica, sem dúvida alguma, Francisco de Assis!
Para gáudio e esperança da Humanidade continuam a emergir estes “loucos” pelo bem comum e pela alegria do Evangelho. Com relevo, por exemplo, nestes dias, o cônsul português Aristides de Sousa Mendes, pelo filme que relata a sua vida, marcada pela heroica atividade em benefício dos judeus. E a “loucura” diária do nosso Papa Francisco, surpreendendo tudo e todos com a sua tenaz batalha de purificação da Igreja, o seu hercúleo esforço para derrubar muros e procurar construir pontes, a sua simplicidade e proximidade para superar desigualdades, a sua candura de gestos e palavras para que ninguém se sinta excluído…
Vamos, dentro de duas semanas, acompanhar e acolher a canonização de duas crianças – os Pastorinhos Francisco e Jacinta – dois “loucos” por Jesus e por Maria, “loucos” pela saúde espiritual de todos os perdidos, “loucos” pela comunhão eclesial na pessoa do Papa…, que ousam enfrentar de cabeça erguida as autoridades da época e mesmo os eclesiásticos que pressionavam para que desdissessem a sua experiência mística.
Afinal, a sentença “os loucos vencem os grandes” não é sempre um fatalismo para a Humanidade, não é sempre prenúncio nem confirmação de catástrofe eminente. O Senhor, no Evangelho, ousa prevenir-nos de que Deus escolhe os fracos para confundir os fortes. Graças a Deus que essa palavra se cumpre com bastante frequência na vida da Igreja e dos povos! A brisa refrescante que atravessa a história, purificando-a do bafio das ditaduras, é essa loucura vivida por batalhões de homens e mulheres, que ousam confiar, que não recuam um passo diante da força do poder, que se ajoelham só diante de Deus e nunca se vergam às ameaças dos homens.
Expressão mais fiel do Mistério Pascal, que acabamos de celebrar!