Mais perguntas

Querubim Silva
Padre. Diretor

 

O clima de desconfiança generalizou-se e atingiu profundidades difíceis de avaliar. Quem é que falhou? Quem ou o quê é culpado? Quem distribui com transparência as ajudas? Que dividendos se pretende colher com a mediatização das visitas?… Um sem número de questões, as quais, num país em choque, geram um clima de suspeita difícil de superar.
Aliás, há uma sucessão de factos por explicar: Tancos, houve roubo ou não houve roubo? Santa Margarida, o que se passou? Longos processos judiciais, para quando o termo e o esclarecimento da verdade? Licenciaturas por equivalência?… Em determinadas alturas, a “mulher de César tem de ser séria, mas também tem de parecer séria”. E tem havido demasiadas circunstâncias em que assim não é.
A reforma da Proteção Civil foi feita por elementos da atual governação e falhou, mesmo com nomeações feitas em cima da “época” dos incêndios. Será que o “Vigilante da Missão” agora nomeado, embora com todas as competências académicas, inspira confiança, sabendo-se que vem de ligações à indústria da celulose?
A contratualização do SIRESP foi feita por elementos da atual governação. E falhou o serviço. Será a nova estrutura, agora tendencialmente estatizante, que vai garantir uma desinteressada qualidade de serviço? O Estado é o único “gestor” capaz?
A tornada pública aplicação de verbas, doadas para as vítimas, em equipamento de material hospitalar é um estímulo à generosidade solidária das nossas gentes? Quando as pessoas nos dizem que querem saber onde vai parar a sua ajuda, não estarão a velar pela transparência dos circuitos?
Um sem número de perguntas que me fazem pensar e, em última instância, concluir que estamos num país em anarquia, que hipotecou a sua condição de estado de direito, cuja governação e classe política em geral não inspira segurança aos cidadãos. Para mais sabendo que o poder instalado não tem a legitimidade do voto, mas resulta de um arranjo por ambição e obsessão do poder.
Razão tinha Jesus para nos recomendar que nos deixássemos possuir por critérios diferentes: de humildade e desinteressado e incondicional espírito de serviço aos outros. Assim o fizeram tantos “heróis anónimos”, bombeiros ou não, que, nos dias da tragédia, não se pouparam a esforços para acordar vizinhos, permanecer ao lado dos frágeis idosos, gastar todas as suas energias na tentativa de salvar vidas – de pessoas, de animais, do tesouro da natureza.
Pelos vistos, está no horizonte serem privados, mais dia, menos dia, dessa capacidade de doação, uma vez que há “vozes de comando” que projetam profissionalizar, com batalhões de sapadores, o ataque aos incêndios florestais. Mais uma forma de descredibilizar o voluntariado. Mas quem vai pagar é o contribuinte!