As nossas ruas encheram-se, por estes dias, de “bruxinhas”, chapéus bicudos, aranhas… Pior que isso, as nascentes dessas movimentações são as nossas escolas, que acolhem gente da infância à juventude. Projeto educativo? Aprendizagens necessárias?…
Inofensivo?… Talvez não! É que se invertem os papéis: desenha-se todo um aparato como se de uma tradição cultural do nosso país se tratasse, quando, na realidade, o não é. E confunde-se o conhecimento de hábitos culturais de outros povos com a adoção (ou mesmo imposição) destes, em detrimento do património cultural português. Que a disciplina de inglês assinale a data, entende-se. Que se globalize o que é tão particular, não posso concordar.
Noutra direção, celebram os cristãos a festa de Todos os Santos e a comemoração dos Fiéis Defuntos. Também aqui, às vezes, se misturam hábitos muito pouco esclarecedores ou até mesmo nada edificantes.
Festa de Todos os Santos é manifestação de alegria, gratidão a Deus, que a todos nos chama a sermos “nação santa, povo resgatado”. Reconhecimento de que uma multidão imensa, incontável, de pessoas de todas as raças e línguas, de todas as cores e culturas, “lavaram as suas túnicas e as branquearam no Sangue do Cordeiro”. E, seguramente, entre eles se contam milhões e milhões daqueles de cujos restos mortais nos aproximamos nestes dias. Dia 1 de novembro, dia desta festa de alegria e esperança para toda a Igreja!
Não impede certamente – mas distingamos as coisas – que aproveitemos a facilidade do feriado para visitarmos os cemitérios, sabendo que o dia próprio é o dia 2 de novembro. E ainda aqui precisamos de purificar – e muito – os nossos hábitos e atitudes.
Reconhecer que somos pó e ao pó havemos de voltar não é uma circunstância de pessimismo miserabilista. É apenas a constatação humilde da precaridade desta vida, da sua mortalidade; todavia, plenamente convictos de que “a vida não acaba, apenas se transforma”. Alavancados na certeza da ressurreição de Jesus Cristo, possui-nos a certeza da vida em abundância, que o Senhor nos reserva para além dos limites do espaço e do tempo, que marcam este mundo.
Assim, também o dia 2 deverá ser um dia de serena alegria, de esperança confiante, envolvidas na proximidade confidente, na saudade afetuosa. A simplicidade das nossas flores e a moderação das nossas velas são a expressão mais genuína destes sentimentos. Deveriam, por isso, estar bem longe todas as formas de exibicionismo, até da rivalidade, que afrontam o espírito destes dias e radical igualdade que os cemitérios representam.
Celebremos a vida, que passa pela morte, para chegar à Vida!