Notícias boas e más

Querubim Silva
Padre. Diretor

1. A sabedoria popular normalmente é bastante acertada. Neste caso, o que o povo diz é que “quem não deve não teme”. Muito triste será se o interesse nacional se tem de estribar em ocultação de verdade. Se o senhor Ministro mentiu, que o admita e ponha a claro a teia dessa trapaça; se não mentiu que o prove e liberte de suspeição o senhor Primeiro Ministro e o senhor Presidente da República. Sem discutir o seu mérito, dele depende que o povo português fique esclarecido e confie nas instituições da República. Tão simples quanto isso!
Rezamos, com frequência, cumprindo a sugestão bíblica, por aqueles que têm o encargo de gerir a “coisa pública”. E o que pedimos não é que se convertam a uma determinada fé. É, isso sim, para que orientem a sua gestão com honestidade, sempre em favor do bem comum, acima de quaisquer interesses, sejam eles pessoais, partidários ou ideológicos. Só desse modo, mesmo que não tenham o voto de toda a população de um país, cumprem o dever de serviço a toda a nação.
Sabemos que é grande a tentação da submissão a subtis filões de interesses, que ditam “disciplinas” de atuação. Todavia, o dever de todos os gestores da “coisa pública” é resistir, resistir… e desmascarar tais interesses. O povo é pacífico, mas não é destituído de perceção crítica. E a paciência esgota-se, quando se multiplicam as desculpas esfarrapadas. Talvez o povo não caia no pantanal da confusão de comunicação e saiba decifrar perfeitamente o conteúdo das mensagens trocadas. Portanto, é simples: ponham as cartas na mesa e submetam-se ao veredicto do senso comum.

2. Cerca de 50 jovens voluntários muçulmanos no Iraque estão atualmente empenhados no restauro de uma igreja dedicada a Nossa Senhora, em Mossul. De acordo com informações avançadas pela agência Fides, do Vaticano, o grande objetivo é ‘passar uma mensagem de paz para o mundo inteiro”. É exemplar esta abertura de coração, que varre preconceitos, que lança pontes em vez de erguer muros, talvez como pequena semente de mostarda, mas capaz de fazer germinar arbusto sobre o qual possam vir a encontrar repouso os escorraçados da guerra e privados da liberdade.

3. Soa mal, numa sociedade em que Estado e Igreja vivem o respeito da separação de funções, num clima de cooperação e complementaridade, que os políticos se aproveitem da Igreja para difundir “perfumes” de propaganda política, como também pessoas ou comunidades cristãs bajulem os poderes para alcançarem, por favor, o que lhes é devido por direito. Toda a atenção é pouca para se manter este respeito e distância adequados.
Mas ouvir a palavra do Papa e fazer dela elemento importante na formação da consciência para atuar retamente, não fica mal a ninguém. No domingo passado, o Santo Padre foi claro, referindo-se ao evangelho do dia: “É-nos permitido reclamar justiça; é nosso dever praticar a justiça. Ao contrário, é-nos vedado vingarmo-nos ou fomentar qualquer forma de vingança”. Quem tem ouvidos para ouvir, que oiça!