Querubim Silva
Padre. Diretor

O Natal genuíno, o único Natal que é o nascimento de Jesus Menino, confunde e perturba as nossas sociedades, as nossas civilizações. A serenidade e humildade que emanam de Belém, a partir daquela noite venturosa, a paz experimentada e proclamada como a Boa Nova essencial para a Humanidade, embatem fragorosamente contra o estilo de vida que se enraizou nas sociedades ditas civilizadas, ciosas de poder e prazer, de luxo e consumismo, eivadas de ganância e materialismo.
Por isso, explodiu toda esta onde de “comércio natalício”, desde a gastronomia à infinda multiplicidade de artigos para oferecer, aos símbolos “mágicos” para cegar crianças e adultos e os engolir na voragem do desejo espevitado. Afoga-se o Amor, com essas partículas de aparente e volátil!
A mensagem do Presépio fala por si. Tardiamente – é verdade! – a tradição, isto é, a transmissão da realidade salvífica, encontrou uma encenação eloquente. Afinal, o Filho de Deus, verdadeiro Homem, nasce numa gruta de animais em vez de nascer em palácio; reclina-se sobre simples palhinhas, envolto em paninhos, e não em cama fofa com dossel de damasco; aproveita o bafo dos animais, para se proteger do frio, sem despesismos de sistemas de aquecimento; abre os olhos sorridentes, aconchegado na ternura de José e de Maria, em vez de despertar nos braços de uma ama…
Se pensarmos bem, esta simplicidade e humildade é o essencial da vida dos pobres, dos libertos de amarras de inveja, de ciúmes, de inquietações e inseguranças que os teres acarretam, de conveniências e atitudes “politicamente corretas”… É a liberdade das aves do céu, que não semeiam e colhem, e dos lírios dos campos, que não fiam nem tecem mas se revestem de beleza.
Tantas tragédias que vive a nossa época, porque se escorraçou o presépio das nossas vidas, porque se ergueram árvores e penduraram estrelas, que dão luz, mas não eliminam as trevas da mente, nem iluminam os corações. Só o Amor faz Natal, porque o Natal, o Presépio, é o início visível desse inesgotável e incansável Amor que Deus nutre por cada um de nós. Só o Amor dá glória a Deus nas alturas; só o Amor semeia a Paz por que as pessoas tanto anseiam.
Esse será o Natal Feliz: abrir o coração ao Amor, saboreá-lo no encontro com os outros, com a história que é a vida de cada dia, com a comunidade. Porque só aí se encontra Deus, só desse modo tornaremos o Natal realidade para nós.