Padre Georgino Rocha

Há figuras em todas as dioceses, cidades, comunidades, movimentos, que se tornam emblemáticas, características e imprescindíveis, por mostrarem a cara do que conhecemos nessa cidade, diocese, movimento… Os padres de cada diocese e presbitério são o rosto ministerial especial, pois, ao vê-los, identificamos a diocese a que pertencem. E também o Cristo e a Igreja que representam.
Cada um, único, é insubstituível na sua singularidade, embora, verdadeiramente, Deus não precise de ninguém e queira precisar de todos, e todos acabamos por ser dispensáveis. Quando um desaparece, outro ocupa o seu lugar, mesmo no coração dos que o amam. Isto acontece com todas as pessoas, mais tarde ou mais cedo. O tempo preenche o vazio. Fica a saudade que se vai diluindo em memória e, um dia, quando os que nos conheceram partirem, também podemos virar notícia. Os anos cobrem a nossa passagem por este mundo com o pó do esquecimento, ainda que tenhamos ruas com o nosso nome, livros publicados e estátuas em praças da cidade. Só Deus não nos esquece, pois nele somos chamados para a vida… Pobres dos que lutam pelo reconhecimento do mundo. Aspiram a muito pouco e a muito de transitório. Os aplausos do mundo duram o tempo em que acontecem e logo uma outra estrela ofusca o brilho que pensamos ter. Se não for em Deus e para Deus que vivemos, pobres de nós, até porque os homens tem memória curta. Passa a fama e a difamação…
Mas há pessoas que é gostoso sublinhar. Se colocasse aqui a lista de padres que nestes trinta anos de sacerdote conheci em Aveiro e já partiram, alguns verdadeiramente admiráveis, se não todos, e os muitos que temos hoje, cada um com a sua riqueza e singularidade, que lista!
As memórias de padres como Leonardo, Fernando Pinto ou Arménio Júnior enchem o Céu diocesano de estrelas-guias que brilham continuamente no nosso céu. Falar dos padres António de Ouca, José Henriques de Avanca, José Camões, Costa Leite, Franclim, Joaquim Rocha, entre tantos, é sentir o estímulo de homens de diferentes idades que marcam a nossa terra com a beleza da sua entrega diária, hoje, no meio de nós. Já falei do Monsenhor João Gaspar. Lembro o P.e João Gonçalves, doente no momento que escrevo isto, e falaria de cada um dos quase cem padres, com um sublinhar do muito que nos dão em cada dia do exercício do seu ministério. O mesmo se diga dos bispos que passaram e estão entre nós, vivos ou já no Céu.
E tudo isto para falar do Padre Georgino. Uma figura que vai passando silencioso no meio de nós, e que, de tão acostumados de o ver, talvez passe despercebido uma vez por outra, aliás, como é o seu desejo. Marca algumas gerações de padres que foram seus alunos ou o tiveram por mestre de vida espiritual, companheiro de viagem ou confessor e, sobretudo, grande amigo. Perguntei a uma pessoa que conhece o padre Georgino melhor do que eu o que sublinharia sobre ele, se eu escrevesse algo em sua homenagem: De família humilde e imensamente cristã, tem como herança dos seus pais uma enorme firmeza na fé, sobretudo, um grande respeito pela sua condição sacerdotal. Imensamente sério no que faz. Homem de fé prática na Divina Providência. Um espírito incrível de obediência ao Bispo, ao Papa e à Igreja. Nunca se viu ele falar mal de ninguém. Uma vida de pobreza exemplar. Homem do pensamento. Homem de profundo espírito de oração e adoração, portanto, eucarístico e amante da liturgia, que também celebra fielmente no seu breviário, já gasto de tantos momentos de intimidade, simples como as flores do campo, em nada ostentando o muito que é e sabe.
Foi isto que apontei, e concordo plenamente, e que me ajuda a seguir em frente, muitíssimo atrás dele e de outros, claro, mas sem os perder de vista, pois com eles o caminho é seguro; a fidelidade, garantida; e o Céu, uma certeza.
Vitor Espadilha