Poço de Jacob – 147 Enquanto, no dia de Lourdes (11 de fevereiro), Bento XVI anunciava que se retirava para sua vida de Papa orante, apesar de emérito, no dia 13 de março, dia que nos lembra Fátima, a Igreja foi abençoada com um novo Papa. Momento único, o que nos é dado a viver, de termos vivos dois Papas em unidade. Normalmente, quando isso aconteceu na História, havia cisma.
Francisco de nome. Sabemos que é por causa dos pobres. Ainda que haja muitos santos de nome Francisco, trata-se de o de Assis, o pobrezinho, como era conhecido. Gerou-se na semana seguinte uma onda de observações sobre o seu romper dos protocolos, o seu sorriso, o seu ir de encontro ao povo, os seus sapatos, se andava ou não de carro, metro ou autocarro, se era simpático ou mais simpático que o Papa emérito… e, sobretudo, fala-se de mudança. Só que as mudanças de que ouço falar estão naquilo que ele nunca vai mudar porque não pode mudar: aceitar casamentos gays, mulheres sacerdotes, preservativos…
Por muito que cada um de nós tenha opinião formada, mesmo contrariando o que a Igreja pensa, e mesmo que sejamos sacerdotes ou bispos, a verdade é que a Igreja não segue as modas. Creio que veremos mudança na maneira do Papa agir, pois há coisas a que ele terá de atender para sua própria segurança e até no campo da improvisação. Ele é homem de regras, ainda que não pareça, e governar a Igreja não é como governar uma diocese. Ele o sabe. É extremamente inteligente e sabe como começar para poder governar.
O mundo vive, mesmo aí, na superficialidade das observações dos gestos, roupas e atitudes que nada dizem de modo absoluto. O Papa do Sorriso II vai surpreender-nos pela sua firmeza e muita gente não vai gostar. É que temos de acreditar que falar dos pobres é fácil quando eu ando de carro de alta gama e vivo no meu palácio com tudo pronto, roupa lavada, comida na mesa, casa limpa, roupa vistosa, ainda que seja padre ou bispo. Um padre meu amigo diz que, quando a Igreja não tem assunto, fala dos pobres… mas pouco se faz por eles de verdade. Mas um homem que anda de metro podendo andar de carro caro, ainda mais na belíssima Buenos Aires, que é a Paris da América Latina, que vive só e cozinha para si, usa cruz de ferro e sapato velho, e será capaz de muito mais pela pobreza, esse não precisa de discursos, pois vive o que prega e prega com a vida. Por isso, ele vai exigir muito da Igreja, não na mudança superficial que todos reivindicam sem saber o que dizem, mas na mudança de corações e atitudes, a começar na hierarquia da Igreja de todo o mundo, a acabar com os príncipes da Igreja e a levar-nos todos a sermos servos uns dos outros como foi Jesus e como ainda hoje é na Eucaristia.
Conheço gente da Argentina que me conta coisas maravilhosas da abnegação deste homem, nosso Papa, que os meios de comunicação não sublinham, desde seu cuidado coerente pela pobreza efetiva, até à firmeza de atitudes e observações para com a política do seu país e com movimentos reivindicativos de uma igreja que nunca existirá. Se atacar a pedofilia é necessário e parece que começou já a fazê-lo, exigir fidelidade e autenticidade aos seus não será menos necessário. Ele vai surpreender-nos. E como bom discípulo de Cristo, não duvido que não vai demorar muito para vermos as televisões a atacá-lo ferozmente, pois se ser popular agrada aos homens, ser verdadeiro e inalterável nos princípios agrada a Deus e isso faz-nos falta, hoje, nesta crise de valores em que vivemos.
Com ele vamos aprender o equilíbrio entre estas duas realidades. Não acredito que o tenhamos por muitos anos, pois tem 76 anos e já se nota a andar com dificuldade por problemas de saúde que já tem, mas espero que, quando ele partir, seja como for, eu esteja convertido pelo exemplo da sua vida em autenticidade. E os que estiverem na Igreja, que sejamos mais autênticos também, dando mais valor ao essencial do que ao supérfluo. Rezemos por ele, pois temos de o amar como pessoa e pontífice e obedecer-lhe no seu magistério. Deus abençoe o Papa Francisco!
Vitor Espadilha