Os populismos e os nacionalismos estão a emergir, de novo, em países com regimes e cultura democrática consolidada, gerando fundados receios e justificada apreensão, em relação às consequências que poderão advir dos que integram a Europa Comunitária.
Para não recuarmos muito no tempo recordemos o que se passou na Grécia, com a subida ao poder da coligação de esquerda radical Syriza, que logrou colher o voto popular, em manifesta consequência da falência governativa dos partidos tradicionais, que conduziram o país a uma profunda crise económica e financeira.
Em junho passado, a culminar o processo tumultuoso da campanha, deflagrou a tempestade política provocada pela decisão xenófoba do Reino Unido, ao decidir, em referendo, a saída da UE, fechando e voltando-se para dentro de si próprio, com consequências futuras ainda imprevisíveis.
Mais recente e inesperadamente, em novembro, o mundo foi abalado pelo terramoto provocado pela eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos da América, depois de uma inacreditável campanha populista, exacerbada e nacionalista, com a promessas de construção de muros na fronteira mexicana, de expulsão em massa de imigrantes ilegais e de denúncia de tratados internacionais.
Já em França, pátria dos direitos civis fundados na Revolução, vê-se crescer um partido extremista, racista e xenófobo – a Frente Nacional de Marine Le Pen, ganhando terreno à custa da sua política anti-imigração, anti-europeia e anti-islâmica e aqui, mesmo ao nosso lado, na vizinha Espanha, assiste-se à implosão do sistema bipartidário reinante, com o aparecimento e subida meteórica do Podemos, partido populista de esquerda, radical e eurocético.
Há uma semana, ocorreram no seio da Europa, dois acontecimentos da maior relevância política e social, com consequências difíceis de avaliar, sobretudo para os países que, como Portugal, tem sistemas e economias mais débeis – a eleição do presidente da República da Áustria e o referendo sobre as reformas do sistema político em Itália, com resultados bem diferentes um do outro, mas ambos com sintomas muito preocupantes.
Nas eleições austríacas venceu o candidato do partido ecologista, Van der Bellen, com 53,6% dos votos, derrotando o candidato ultra radical de direita, Norbert Hofer, que obteve 46,4% (mesmo derrotado teve uma votação muito expressiva do povo austríaco).
Na Itália, o chefe do governo, Matteo Renzi, propôs a reforma do sistema político, para evitar a instabilidade governativa e a situação de crise permanente (em 70 anos houve 67 governos), que foi recusada, tendo logo os partidos nacionalista e populista Cinco Estrelas (fundado pelo comediante Beppe Grillo), que cresceu à custa do descrédito dos partidos tradicionais e o partido de extrema direita Liga do Norte (que alinha pela Frente Nacional de Marine Le Pen), reclamado eleições antecipada, com o propósito de referendar a permanência da Itália na União Europeia, à semelhança do que aconteceu no Reino Unido.
Se nos lembrarmos de que Hitler e o partido nazista subiram ao poder precisamente através de eleições, realizadas em julho de 1932, depois da grande depressão, parecem reunidos todos os ingredientes para que este fenómeno se possa repetir algures num país europeu, face ao recrudescimento dos populismos e dos nacionalismos, não só na Europa, mas noutras regiões do globo.
A história mostra isso mesmo: que os populismos e os nacionalismos vingam mais facilmente, quando o povo se cansa dos partidos do sistema democrático, que prometem tudo em eleições – mais e melhor emprego, mais rendimento, menos impostos, melhor saúde, melhores escolas e melhor educação, mais célere e melhor justiça, mais equidade na aplicação dos impostos, maior coesão territorial, esperança e fé num futuro melhor para as pessoas, os jovens e as famílias, mais e melhores cuidados para os doentes, sobretudo para os mais débeis e idosos – e depois, nada do que foi prometido, ou muito pouco, acontece.
E é isto, infelizmente, o que hoje temos no nosso país: um ilusionismo governativo anestesiante, que promete e não cumpre, que cria no povo, através da comunicação e da propaganda, a ilusão de lhe estar a retribuir, a devolver o que lhe foi tirado, sempre neste contraponto de que “nós damos o que os outros, os que governaram antes, tiraram”, fazendo crer que estão a encher os bolsos aos que têm menos, com o que vão tirando aos que têm mais – porque sim, isto é que é justiça e socialismo – ir buscar o dinheiro onde ele está.
Ao mesmo tempo sobem-se impostos, diretos e indiretos, que vão tirar rendimento ao bolso de todos: sobre os combustíveis, sobre os automóveis, sobre o consumo de vários bens, sobre os imóveis. Porque para se dar com uma mão tem de se tirar com a outra, até porque a dívida aumentou (mais de 130% do PIB), os juros continuam a subir e todos temos de pagar, afinal, a dívida de 700 milhões da empresa pública CARRIS que o Governo quis dar, em mão, ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, para ele poder oferecer passes sociais ao povo da sua cidade e, assim, mais facilmente, ganhar as próximas eleições autárquicas.
Como é que um dia o povo português não há de dizer basta aos abusos dos governos do sistema, como ocorreu noutros países, quando o desplante governativo vai ao ponto de prometer que aumentará em 10 euros as pensões entre 275 e 628 euros, no mês de agosto do próximo ano, em véspera de eleições?
Se a minha avozinha fosse viva, estivesse a receber a pensão mínima (que nunca recebeu, coitada), e lhe dessem esta notícia, ela diria uma coisa que eu aqui não posso reproduzir, mas que se pode traduzir assim: vão fazer pouco de quem vos… deu à luz!
O ilusionismo governativo anestesiante, em que a maioria do povo português está mergulhado, tem um handicap muito grande: ao senhor Presidente da República convém um país morno, em sauna húmida, temperada, sem solavancos, que os partidos que apoiam a geringonça garantem, através da mordaça consentida das centrais sindicais e dos movimentos reivindicativos controlados, a troco de decisões compensatórias que o governo vai prodigalizando. E o senhor Presidente sanciona magnanimamente, continuando sem sobressaltos, para chegar em beleza ao final do seu primeiro mandato.
Mas, e como vai o estado da Saúde, melhorou? E as listas de espera foram eliminadas? E a qualidade da educação e do ensino? E a aplicação da justiça, morosa e cara? E a economia a crescer muito abaixo do previsto e do necessário, sem poupança, sem investimento, com as exportações a cair?
Que vozes se levantam? Onde estão as críticas dos media? E dos partidos radicais de esquerda? E dos sindicatos? A quem compete questionar o governo, em nome do povo, senhor Presidente, senhores deputados?
Amanhã pode ser tarde!