Há dias alguém me perguntou por que é que, sendo eu diocesano, coloco tantas fotos de santuários de Schoenstatt na minha página do Facebook. Não tenho de falar de mim nestes artigos, a não ser que julgue que possa servir para elucidar uma mensagem que devo e sinto que devo transmitir. Pôr os olhos em nós é o princípio de uma boa atuação, embora corra o risco do egocentrismo que caracteriza tanta gente que trabalha na Igreja. Infelizmente, há muita gente que assume cargos eclesiais para poder sobressair, as vezes até sem a licença direta do seu superior, como acontece em algumas comunidades religiosas que conheço. E não é de todo desconhecida a corrida por postos altos em algumas dioceses, sobretudo no Vaticano, para ver se chegam ao que consideram altos cargos, esquecendo que um dos títulos do Papa, ao qual querem alcançar viver de perto, é “servo dos servos de Deus”. Cargo, na Igreja, quanto mais alto, mais deveria ser para servir o pequenino. Assim era o Mestre que veio para servir.
Pois, como julgo interessante discorrer um pouco sobre a questão do “porquê santuários?”, eu vou dizer o seguinte. Primeiro, um padre diocesano tem espiritualidade própria: obediência ao Bispo, vivência de um presbitério, voto de castidade e continência, espírito de pobreza e de serviço, vida de oração, não só pessoal, mas em missão. Liturgia das Horas e Missa são para a salvação do povo, da Igreja que ele serve, e não só, no caso das missas para sufragar mortos. E quem dera que a Missa fosse por intenção de vivos e defuntos, sem ser particularizada no que “mandou dizer” e, no fim, como no mercado, vem perguntar “quanto é?”. Continuando a espiritualidade do padre diocesano: Amor pelos homens sem acepção de pessoas pelo exercício da caridade pastoral, desempenho da missão que lhe foi confiada pelo bispo diocesano, seja ser pároco, secretário, professor…
Mas, como ser humano, o padre precisa de defesas para orientar sua afetividade, economia, bem-estar, saúde, conhecimentos, intimidade com Cristo, sendo Jesus a única razão primordial da sua missão. Daí ter cursos, retiros, estudo, férias, viagens, amigos, convívio, hobbies, desporto, cultivo da família e do convívio com os colegas…
Todo o ser humano precisa de ter os seus rituais, desde o modo como prepara o seu pequeno-almoço e faz a sua higiene matinal até à sua agenda e à organização do seu tempo ou dia livre. Se para muitos homens existe o fim de semana, os padres que podem e desejam também têm o seu dia livre. Muitos sacerdotes organizam a sua agenda, ainda que saibamos que somos mais livres nos horários que uma pessoa sujeita ao emprego, a não ser que seja professor ou a paróquia o veja, como acontece em alguns países, como um funcionário…
Daí, o Espírito Santo suscitar na Igreja movimentos que apoiam a vivência da espiritualidade do sacerdote diocesano, uns mais exigentes e fechados do que os outros, mas todos muito belos.
Nem todos os sacerdotes sentem falta deste apoio, mas outros sim. Daí ser oferecido o serviço, para quem quer, nos Focolares, no Opus Dei, em Schoenstatt, entre outros. Desde que a pertença não desvie o padre da sua missão diocesana, mas antes, sim, o ajude a ser melhor. E tamb´+em é preciso realçar que cada um tem seu modo de ser sacerdote na diocese. Todos somos diferentes. Deveríamos ser complementares. Acontece o mesmo com o casamento ou com as profissões. De facto, não há dois sacerdotes iguais. E viver juntos exige a elasticidade própria de quem tem de saber que há limites de respeito nas opiniões e na originalidade pastoral. Também fui aprendendo que essa originalidade, num pároco, tem de ser prudente para não criar problemas à unidade pastoral de um arciprestado e de uma diocese, o que nem sempre é fácil, sobretudo para quem caminha só.
O Santuário de Schoenstatt funciona assim, como abrigo, refúgio, lugar privilegiado de encontro e de convívio, com uma família espiritual que a Igreja nos oferece como complemento do ser diocesano. Por isso, o movimento, como outros, tem ramos fundados pelo padre Kentenich de maior ou menor vinculação. Eu ocupo o menor, pois me consagrei a Maria na Liga dos Padres. Mas isso significa simplesmente que o santuário é tão meu como de qualquer um que ali vá, tanto mais que é o único lugar da nossa diocese onde a adoração do Santíssimo é diária.
Precisamos de lugares para nos vincular. Digo: lugares onde, quando tudo parece confuso, nos possamos refugiar para readquirir forças, ou chorar no silêncio do nosso coração. Penso que o primeiro vínculo está no sacrário das nossas igrejas paroquiais, nas contas do nosso rosário, na meditação silenciosa e atenta da Liturgia das Horas e no momento único de consagrar, além do ombro de um amigo do coração. Mas sair para fora de onde vivemos e encontrar o paraíso que se oferece faz um ser humano mais forte quando regressa para continuar a luta. E como esta descoberta não é igual para todos, pois posso vincular-me a Fátima, à Sé de Aveiro, à Senhora de Vagos ou à Senhora do Socorro, quem descobre comunica para que na mesma liberdade de escolha outros possam descobrir. D. António Marcelino dizia que as propostas devemos sempre anunciá-las, pois se não servem para mim, podem servir para outros que as ouçam. Se não ouvirem, não descobrem e isso pode fazer a diferença entre a vida e a morte.
O santuário é meu refúgio, meu cabo que me une ao que de mais valor encontrei na terra, meu céu, meu hobbie, meu lazer. E apaixonei-me pela aventura de descobrir os que existem por este mundo fora, pois são mais de duzentos espalhados pelos cinco continentes. Pude visitar todos os da Europa, ao longo de trinta anos, e à volta de cada um, há cidades para descobrir, com belos museus, belas paisagens e amigos que fomos adquirindo. Porquê santuário? Porque sim, para mim. Por amor, também por necessidade, para ser mais fiel… e mais feliz.
Vitor Espadilha