O comentador das notícias sobre o último atentado terrorista em São Petersburgo relembrava que “a mediatização da criminalidade incendeia no coração o terrorismo”. E a conversa com um amigo e colega recordava que Aristóteles, a propósito da tragédia, dizia, na sua Poética, que embora se possa fazer alusão à violência, ela não deveria, de modo nenhum ser presente aos espectadores.
E, a propósito da violência no desporto, com manifestações bárbaras entre nós, há poucos dias, um sábio dessa área do lazer referia que isto resulta da falta de valores. Possuídos por uma cultura das emoções, depaupera-se a pessoa humana, acontecendo que, nas horas de tensão, falham os valores que acordem e estimulem a inteligência e a vontade. Eu acrescentaria que a mercantilização dos atletas, do desporto em geral, gera uma intrínseca rivalidade, a qual torna obsessivo o desejo de vencer a qualquer preço, dentro do terreno de jogo com todo descarregar descontrolado de energias e todo o jogo de simulações, e, fora dele, com a corrupção e os jogos de interesses.
A par com isso, delicia ver o olhar positivo, o exemplo construtivo daqueles atletas privados de parte significativa das suas capacidades físicas os quais encontram, por exemplo no ténis adaptado, um motivo de realização, uma capacidade de superação entusiasta, apelando a quantos se deixam esmagar pela angústia das suas limitações para não desistirem de tentar.
Estas situações tão contrastantes fazem-me cair em mim e mergulhar no mistério destes dias que vivemos. As insídias de tanto fabricador do mal povoam o nosso mundo, é verdade! Mas desliza, subtil, por entre esses espinhos, chicotadas, pesados madeiros, cuspidelas e insultos, um ténue mas crescente raio de esperança, permitindo divisar já, ao fundo do longo túnel, uma radiosa aurora de ressurreição: “a primavera vem depois do inverno; a glória virá depois da cruz”.
Carregamos a Quaresma, muitas vezes, com demasiado roxo: são as cores litúrgicas, são as cenas dolorosas da Paixão (procissões dos Passos, Via Sacra…) multiplicadas à exaustão. E não podemos iludir essa realidade. Mas a ressurreição acontece todos os dias e em todos nós: morrem células, nascem células; contamos fracassos, mas há de haver sempre de permeio alguma vitória; pululam as doenças graves, mas acontecem diariamente novas conquistas da ciência; gastam-se fortunas em banalidades, mas multiplicam-se também gestos, iniciativas, organizações de solidariedade e caridade… A própria natureza morre e ressuscita: caem as folhas, podam-se as árvores (que, às vezes, até choram), mas brotam novos rebentos, surgem as folhas, desabrocham as flores e vêm os frutos…
A ressurreição de Jesus é um acontecimento situado na história, mas que envolve toda a história! Não a guardemos só para a lembrança na manhã de Páscoa! Suscitemo-la, ponhamo-la a descoberto neste dia a dia às vezes tão coberto de nuvens! Porque, uma vez ressuscitado Jesus Cristo, “já ninguém viverá sem luz da fé, já ninguém morrerá sem esperança; o que crê em Jesus venceu a morte!” Esse é o Evangelho da Alegria, que urge viver e testemunhar.