O Papa Francisco veio a Fátima, em maio último, com o tema mobilizador: “Com Maria, Peregrinos na Esperança e na Paz”. A Pastoral Penitenciária de Portugal levou a Fátima no domingo, dia 16, pessoas ligadas ao sistema penitenciário, naturalmente centrada nas pessoas em privação de liberdade, e com o mesmo tema escolhido pelo Santo Padre.
A peregrinação não é uma boa caminhada, nem um passeio para manter o equilíbrio físico, ou para apreciar paisagens… É bem mais do que isso!
Temos consciência de que a nossa vida é uma caminhada permanente, com um convite a nunca parar, a nunca desistir. Ninguém é da terra onde habita: os nossos horizontes atiram-nos para bem mais Longe, para bem mais Alto. Somos, realmente, peregrinos, em caminhos nunca totalmente percorridos, e muitas vezes cheios de surpresas… nem sempre as mais agradáveis! Que o digam as pessoas que experimentam a privação de liberdade…
Gosto de dizer que peregrinar é um “estado”: não somos sedentarizados, quietos, parados, à espera do que aconteça, mais ou menos ao sabor do acaso. Os nossos pés não têm raízes para nos fixarem à terra; e a nossa posição mais normal é de nos apresentarmos de pé, bem levantados, e de olhar para a frente, tentando olhar, sonhar e atingir futuros!
Temos o direito de sonhar, de recriar o tempo, de alimentar esperanças. E disso ninguém nos pode impedir: nem as grades mais fortes, nem qualquer tipo de privação de liberdade, nem qualquer ameaça, porque ninguém pode nem tem o direito de calar a voz silenciosa e profunda da consciência, que nos leva a subir degraus, a dar elegantes saltos de verdadeiros trapezistas, ultrapassando muralhas, aproximando o ideal da realidade, onde queremos e temos direito de estar. O nosso estado normal de viver é em liberdade!
Por isso fomos a Fátima. Porque Fátima é lugar de chegada de muitas dores, sofrimentos e angústias! Quantas interrogações, medos e desesperos nos levam até à Cova da Iria… e quanta Paz levamos de regresso a nossas casas, com um alívio e uma alegria que não se podem descrever!
Porque “TEMOS MÃE!”. Ali a encontramos melhor, de um modo tão próximo, que só o silêncio o pode dizer, e com que força o faz! Não temos vergonha de deixar que vejam a nossa lágrima correr pelo rosto; nem que nos julguem por pormos os joelhas em terra: estamos com a MÃE, e essa é a nossa grande riqueza!
Fomos a Fátima com pessoas presas, privadas de liberdade, outras acabadas de sair da prisão, para alimentar em todas elas a ESPERANÇA, que as leve, a todos nós, a viver em estado de ESPERANÇA; só ela pode alimentar a vida sofredora, e cheia de interrogações, que estão em todos os cantos, os mais íntimos, da vida de uma pessoa em reclusão. Só em esperança, e em permanente estado de peregrinos, poderemos olhar e sonhar futuros de realidade e de possibilidade de verdadeira inserção e de paz…
TEMOS MÃE! Com Maria, Peregrinos na Esperança!
Esta foi a convicção que levámos, e que trouxemos de volta, ainda mais reforçada.
P.e João Gonçalves
Coordenador nacional da Pastoral Penitenciária