Visto que, uma vez mais, Senhor,
agora não nas florestas do Aisne,
mas na estepes da Ásia,
não tenho nem pão nem vinho nem altar,
eu me elevarei acima dos símbolos
até a pura majestade do Real,
e vos oferecerei, eu, vosso padre,
sobre o altar da Terra inteira,
o trabalho e a fadiga do Mundo.
O sol começa a iluminar, lá em baixo,
a franja extrema do primeiro Oriente.
Uma vez mais, sob a toalha movente de seus fogos,
a superfície viva da Terra desperta, estremece
e recomeça o seu espantoso labor.
Colocarei sobre a minha patena, ó meu Deus,
a esperada messe desse novo esforço.
Verterei em meu cálice a seiva de todos os frutos
que hoje serão esmagados.
O meu cálice e a minha patena são as profundezas
de uma alma largamente aberta a todas as forças
que, num instante, se vão elevar
de todos os pontos do Globo
e convergir para o Espírito.
— Que venham a mim, portanto,
a lembrança e a mística presença
daqueles que a luz desperta para uma nova jornada!
Teilhard de Chardin (França, 1/5/1881 – Estados Unidos, 10/04/1955) foi padre jesuíta e cientista de renome. Nos seus escritos cria pontes entre a fé católica e o pensamento científico.
A imagem que ilustra este texto é conhecida por “fotografia 22 727” ou “The Whole Earth” (A Terra Inteira) e foi tirada, em Dezembro de 1972, pela missão Apolo 17. Trata-se de uma das imagens do nosso planeta mais reproduzidas. Nela sobressai o continente africano.