Túmulo de Santa Joana Princesa: santuário de cristãos, riqueza de Aveiro

NUNO GONÇALO DA PAULA
Provedor da Irmandade de Santa Joana Princesa

Peça de arte preciosa, o Túmulo onde repousam desde 1711 os restos mortais da Princesa Santa Joana, nossa Padroeira, constitui uma harmoniosa unidade entre o labor artístico e a realidade espiritual.
De facto, a encomenda real que concebeu o Túmulo da Infanta aprimorou o que de mais belo existe nos mármores embutidos, numa profusão de elementos e efeitos magníficos. É natural que ele se insira no percurso monumental do nosso Museu de Aveiro. Mas a colocação dos vários locais de veneração aos restos mortais de Santa Joana no Coro de baixo do antigo Mosteiro, revelam que, independentemente da matéria, há nítida intenção e disposição do espaço para o recolhimento e oração junto do que entre nós ainda se conserva da Padroeira.
Não é efetivamente fácil criar um clima propício à dimensão espiritual numa unidade museológica. É um desafio que a capacidade de adaptação foi concretizando ao longo dos anos.
Há já alguns anos, por esforço da Comissão Administrativa da Irmandade, foi possível a todos a visita ao Túmulo, sem isso incluir necessariamente o pagamento de uma entrada normal no Museu. Assim se mantém até hoje. Quem quiser permanecer naquele espaço é acolhido com simpatia pelos seus funcionários e pode ali realizar um momento de recolhimento, dentro do horário de funcionamento da instituição.
Mais recentemente, uma voz atenta sugeriu a disposição de um genuflexório para quem, numa atitude humilde, queira aproximar-se do mausoléu de Santa Joana. Ele lá está discreto e disponível.
Um vaso com água receberá igualmente, para quem desejar, uma flor: esse elemento que desde a morte da Padroeira tão ligado está ao seu culto.
De forma muito discreta se depositou igualmente uma caixa, que sabe guardar o segredo da nossa esmola. O seu produto, junto com o Óbolo dos Irmãos de Santa Joana, concretiza, na sua totalidade, uma ação de solidariedade social anual pela Irmandade.
Finalmente e correspondendo a um donativo particular, passará a existir, por estes dias e por oferta de uma mão amiga, pagelas que contém as principais efemérides da Infanta e da oração pro-canonização composta pelo Bispo de Aveiro. Estarão à disposição em língua portuguesa, espanhola e inglesa.
A uma visita piedosa só não é permitido acender uma vela, dado o revestimento de madeira e cujas regras museológicas desaconselham.
Certa vez, que acompanhei um grupo de visitantes ao Museu, chegados ao Coro de baixo, alguém me fez notar a “desproporcionalidade” do Túmulo de Santa Joana em relação ao espaço. Quem sabe se inspirado pela Padroeira, respondi de imediato que talvez isso significasse a grandeza da presença duma mulher num espaço tão pequeno e pobre como Aveiro e tão humilde e rigoroso como o Mosteiro de Jesus.
O lugar de sepultamento de Santa Joana, em campa rasa – como era seu desejo – ou em monumento mais sumptuoso, é espaço há mais de 500 anos disponível à oração, recolhimento, agradecimento, súplica ou tudo isso. Poderemos visitar o espaço, como turistas, analisar estilos, descobrir pormenores, atentar em datas. Tudo isso está bem. Mas para um cristão, ali estão, diante de nós, o que para a terra ficou quem nós acreditamos ser nossa intercessora no Céu; ela que foi nossa irmã na fé e, como reconheceu a Igreja, cumpridora das bem-aventuranças. Quantos santuários não têm como peça fundamental um túmulo? Para um Aveirense significará unir-se a uma constante peregrinação que ao longo dos séculos se tem abeirado da Padroeira de Aveiro.
Que bom seria que grupos organizados das nossas áreas de intervenção pastoral, antes das suas atividades, ali rezassem, em dia determinado, e depusessem os seus projetos e concretizações; que belo seria que crianças de catequese soubessem começar a ultrapassar a frieza daquele espaço, trouxessem na mão uma flor ou apenas formassem um cordão de fé de mãos dadas em volta do Túmulo; que reconfortante seria que nas atividades externas dos idosos e doentes em instituições da Igreja confiassem as suas dores, lágrimas e momentos de solidão a uma mulher que morreu após grande sofrimento, no esplendor da juventude.
Oxalá estes pequenos detalhes e possibilidades despertem uma aproximação maior, uma familiaridade crescente de devotos, aveirenses e visitantes junto do Túmulo de Santa Joana Princesa. A Padroeira estará certamente atenta e solícita às nossas preces. Tão mais será nossa irmã na fé quanto mais nos aproximarmos da sua vida, a imitarmos e soubermos hoje interpretar as suas ações corajosas e transcendentes.