Uma ultreia

Há tempos, fui visitar o pároco de uma das paróquias da cidade de Gijón, no norte de Espanha. Homem dedicado à sua paróquia, criou a paróquia de São João XXIII, uma das primeiras do mundo consagradas a este santo. A igreja está num bairro novo da cidade e resulta da recuperação de um antigo barracão que pertenceu ao Carmelo que estava naquele terreno antes de as irmãs terem mudado para outra casa. Nesse terreno também tem uma linda e concorrida ermida de Nossa Senhora de Schoenstatt, onde se sonha construir um quarto santuário de Schoenstatt espanhol (há dois em Madrid e um em Barcelona). Ele também é o responsável diocesano do Apostolado de Fátima.
As nossas paróquias de Moita e a de Vila Nova preparam para a sua paróquia a conquista espiritual de uma imagem de Fátima de metro e meio, que já está nas igrejas para o povo rezar, e que vai sair à rua das nossas terras no dia 10 de maio e viaja para Gijón, com uma embaixada nossa, no dia 17 de maio.
(Há uns anos também o fizemos com a paróquia de Muret, em Toulouse, na França, com o milagre de o pároco, francês ter tido a possibilidade de a partir daí conseguir reunir a grande comunidade portuguesa que andava dispersa da fé… e também nos situamos numa continuidade diocesana, lembrando que D. Manuel de Almeida Trindade ofereceu, com os bispos do centro, a imagem de Fátima que está na catedral de Compostela com uma história muito linda, contada pelo nosso Monsenhor João Gaspar, que implica a libertação de um preso em Padron….).
Padre mariano e eucarístico, com o cheiro das suas ovelhas, o padre Jose Juan Hernandez acolheu-me na sua casa e fez-me conhecer recantos paradisíacos dessa região de Espanha, que, para mim, é a mais bela do país. Era uma terça-feira quando cheguei e ele tinha o seu programa paroquial, no qual participei. No final do dia, havia na cidade, no centro, na belíssima basílica do Coração de Jesus, uma ultreia dos Cursilhos de Cristandade, dos quais ele é responsável diocesano, também. Eu fui. Muita gente, sobretudo nova. Quem dirigia era uma jovem perto dos trinta anos. Começaram com uma oração e um jovem da paróquia deu o seu testemunho. Admirou-me a atenção das pessoas, a maneira organizada do decorrer da sessão, que é semanal, e sobretudo a advertência de que não ultrapassariam os 60 minutos. Vibrei.
Tirando certas circunstâncias, compreensíveis, sempre considerei – e considero – que uma reunião, para ser bem feita, não deve ultrapassar os 60 minutos. Fala-se muito e diz-se pouco quando se ultrapassa este tempo. E por vezes parece-me que há gente que não quer ir para casa, ou que tem quem lhes faça as coisas… Uma vez estive seis horas num conselho pedagógico de uma escola, três das quais a discutir se a palavra “autoridade” deveria entrar no regulamento interno… E eram professores. Não colapsei nesta reunião por milagre.
Ali, em Gijón, foram mesmo 60 min. E ainda falei eu a pedido deles. Depois do testemunho ou “rollo”, falava cada um, com palavras de estímulo, enfim, família. Nada de trabalhos de grupo, que é outro método alternativo e válido. E, aos 60 minutos, já saímos alegres da sala. No caso dele, por se terem encontrado no calor da fé e da amizade que os cursilhos proporcionam tão bem. Mas, o tema do jovem também me impressionou, pois ele falava sobre como tinha descoberto a fé depois de uma busca incessante, de como nunca encontrou uma rapariga que partilhasse o namoro com a fé, o que o limitava na vida de matrimónio, e, sobretudo, como nos advertia de que só se pode ser católico cultivado, não só indo a Missa, mas participando na sua comunidade paroquial: fazer da sua paróquia a sua comunidade de vida e de fé. Ir à Missa, podemos ir a qualquer lado e dá-me pena quando vejo pessoas que vão, mas desvinculadas das suas paróquias, embora haja motivos que o justifiquem e não nos cabe julgar. Mas, ele dizia que os traços e o desenvolvimento e a dedicação do seu amor para com Deus só os entendia serem possíveis na autenticidade, vinculação, dependência e dedicação à sua família paroquial e, claro, diocesana. Gostei. Caso para dizer: “De colores…”

Vitor Espadilha