Linhas de Orientação 2019/2022
Introdução
As Linhas de Orientação, pretendem estimular a vida e fomentar a ação da LOC/MTC nos próximos três anos. Apoiadas no slogan “Dignificar o Trabalho na Era Digital”, foram elaboradas, a partir dos contributos das Revisões de Vida Operária, feitas pelas Equipas de Base e Diocesanas, dos Encontros Diocesanos e Interdiocesanos de Formação e das Conclusões do Encontro Nacional de Leça do Balio.
Refletem o olhar atento e conhecedor de quem vive e sente as angústias e as esperanças destes tempos difíceis. Fundamentam-se no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja que nos anima na nossa missão evangelizadora do mundo do trabalho, na certeza de que é pelo testemunho de vida e pelo envolvimento cívico nas organizações culturais, sociais, sindicais, políticas e eclesiais que materializamos a nossa vocação.
Nos últimos três anos, a LOC/MTC assumiu como prioridade de ação “Humanizar e Evangelizar o Mundo do Trabalho”, foram relatadas muitas e diversas situações que identificam a situação que vive o mundo laboral, onde se verificaram muitas mudanças que dificultaram a vida dos trabalhadores e das suas famílias. A desvalorização e desumanização do trabalho e o avanço das tecnologias, fortes alterações de trabalho, o desemprego, a precariedade, a flexibilização, o assédio moral e os medos, a instabilidade, o baixo valor de salários e pensões, tornaram-se nas principais causas dessas mudanças.
Ainda assim, ressaltaram razões de esperança que demonstram que as pessoas e instituições têm sido solidárias na promoção da dignidade humana numa forte afirmação destes valores.
Dizia o Pe Abel Varzim, que “ninguém transforma coisa alguma neste mundo se primeiro não se transforma a si mesmo”. Acreditamos que cada um é portador de Esperança, que somos intervenientes, capazes de nos transformar e renovar os nossos ambientes, dando aí o nosso melhor contributo.
Um VER que desassossega
- As novas tecnologias
As novas tecnologias da era digital, da inteligência artificial, da robótica estão aí, são uma realidade. Estamos numa nova era. A sua aplicação no âmbito do trabalho, traz também muitas interrogações: Ameaça de desemprego, dificuldade de acompanhar a velocidade da sua implementação, fomento de empregos “em casa”, com algumas vantagens, para os trabalhadores mas também com isolamento e individualismo, facilitando melhor controlo social e dificultando a organização dos trabalhadores. As novas tecnologias também proporcionam a criação de novos tipos de trabalho, novos empregos e novas funções laborais mas, por norma, não se destinam aos que ficam desempregados, porque exigem grande especialização, estar conectado e sujeitar-se à concorrência feroz. As melhorias não chegam a todos e excluem muitos outros, pois estão a ser usadas para aumentar as desigualdades. Desigualdade de oportunidades que dificultam e mesmo impedem o acesso à cultura, ao ensino, à educação e à saúde e até aos serviços públicos oferecidos pela Internet, que muitos ainda não sabem usar. Além disso as novas tecnologias dão aso a conquistas de poder através da utilização de dados pessoais que se tornaram uma matéria prima de compra e venda.
No nosso meio, os trabalhadores, ainda não estão sensibilizados para a era digital e para as suas consequências ao nível do trabalho e do emprego. Os grandes empresários vão pensando nos lucros chorudos que podem obter com os robots, mas não se preocupam com o número elevado de desempregados que esta situação pode provocar. Acham que isso é com o Estado.
É necessário pensar a função e sentido das novas tecnologias e o que significa progresso, porque “a orientação da economia favoreceu um tipo de progresso tecnológico cuja finalidade é reduzir os custos de produção com base na diminuição dos postos de trabalho, que são substituídos por máquinas” (LS 128).
- A precariedade
Produziram-se desregulações no mercado laboral que tiveram um efeito muito negativo sobre a vida socioeconómica, política e cultural e, em particular, sobre as famílias e os trabalhadores jovens. Frente a percursos laborais previsíveis e a horizontes mais claros de acesso ao trabalho fixo, quase como única situação, os trabalhadores de hoje, não só viram esfumar-se a espectativa de um trabalho fixo, como passaram a realizar um conjunto de atividades remuneradas em diversos lugares, numa ampla quantidade de empregos instáveis, sem relação uns com os outros que, em nenhum caso, são geradores de uma trajetória laboral.
Custa-nos muito entender as profundas mudanças que estão a acontecer no mundo laboral. Ao precarizar-se o emprego, precariza-se a vida, a família, a participação associativa, sindical e política. Aumentam as desigualdades, a insegurança e a exclusão. A falta de continuidade e perspectiva de futuro nos vínculos laborais mina qualquer tipo de associativismo. A precaridade dos vínculos laborais, especialmente entre os jovens, é a maior preocupação para os trabalhadores e suas familias. Mas também há adultos que ficam desempregados pelos 40/50 anos que não voltam a encontrar estabilidade profissional nem o nível salarial que tinham. Há quem afirme ser uma vantagem para os jovens, não estar “amarrados” a um posto de trabalho e poderem “saltitar” de um trabalho a outro. No entanto o que se verifica é que os jovens continuam a ter dificuldade em encontrar emprego, em fazer projectos de vida, a adiar casamento, filhos e outros compromissos.
As leis existentes facilitaram às empresas a flexibilidade dos trabalhadores, levam ao desemprego, a maior rotação dos trabalhadores na busca de rápida rentabilização dos investimentos, a juntar à concentração da riqueza, fenómeno que se tem vindo a tornar “normal”. Alem disso a proliferação de empresas de trabalho temporário. Muitas delas escondem verdadeiras relações laborais permanentes. A justa distribuição da riqueza produzida em Portugal ainda não preocupa as elites empresariais. De tudo isto, para os trabalhadores, o que sobra é vida precária, é incerteza permanente.
- Vencer os medos e criar uniões
Muitos trabalhadores experimentam represálias diversas por ser sindicalizado, medo de fazer greve, de deixar de ser útil, de ficar desempregado. Ou, como consequência, medo de não poder satisfazer os seus compromissos, de constituir família, de ter filhos, de ser deslocado para longe, de deixar de ser pessoa para se tornar numa “coisa” que produz e consome, numa coisa que “vende trabalho”.
O medo inibe a liberdade e a ação, debilita, desequilibra, destrói as defesas psicológicas e espirituais, anestesia diante do sofrimento, desumaniza. Como desumaniza a frieza nas relações laborais ou a falta de educação e a arrogância de muitas chefias. Há muitos governantes, empresários e chefes com falta de formação humana e moral e com mentalidade de poder e domínio sobre os outros, o que leva à frieza, falta de humanismo, de pudor e de respeito pela dignidade dos trabalhadores.
O assédio moral também já chegou ao trabalho. Reflete-se muitas vezes de forma um pouco encoberta, mas que origina situações de permanentes perseguições, humilhações e sofrimentos de vária ordem, tal como o stresse. Uma pressão enorme é exercida sobre as pessoas para as “obrigar” a despedir-se, o que dá lugar a depressões, alimenta psiquiatras e farmácias e, a muitos, conduz ao suicídio. E não escolhe idades: acontece tanto em jovens como em adultos.
O medo, os alarmes sociais de muito desemprego, são estratégias que os detentores do dinheiro usam para continuar a dominar. O medo é provocado, alimentado e manipulado e muitos trabalhadores ainda não descobriram a importância da missão dos sindicatos, procurando-os apenas quando há problemas. Não podemos sucumbir perante as estratégias do medo impostas por quem só vê lucro, oportunidade, ganância. “Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso” (2Tim 1,7). Por isso é preciso enfrentar os medos! Com a coragem que vem das nossas convicções humanas e cristãs. Com a união e a solidariedade dos trabalhadores e dos pobres. Com organização e com o Evangelho no coração. Agir sozinho não é o caminho.
- A dignidade do trabalho
O trabalho ocupa demasiado as pessoas, não lhes dá tempo para a família, para o descanso e não está organizado para dignificar o ser humano, descurando as reais necessidades das pessoas sejam ao nível familiar e social, ou mesmo ao nível comunitário do bairro ou da localidade como ainda os impactos ambientais as energias renováveis, os transportes, as redes sanitárias e de águas, etc.. A questão do descanso, da festa, da família são realidades cada vez mais ameaçadas pela flexibilização das leis do trabalho, pelos horários e pelo mundo tecnológico. A realidade social do trabalho ao domingo, fomentado a partir dos anos 90, com muito mais incidência em Portugal do que em outros países europeus, em sectores de actividade onde só há motivos económicos, como o fabrico de automóveis, a transformação de cortiça, comércio, está essencialmente centrada no lucro.
Apesar de o risco de pobreza estar a diminuir entre nós, pela redução do desemprego, a pobreza persiste mesmo entre trabalhadores empregados. No entanto muitas empresas estão a fazer do salário mínimo o salário mais comum e assim muitos trabalhadores apesar de terem emprego, não conseguem o salário justo que permita ao seu agregado familiar viver dignamente, assegurando a educação dos filhos, o acesso à cultura e à formação, à alimentação e à habitação. A busca de lucro é, em si mesma legítima, mas não pode conduzir ao sacrifício dos direitos fundamentais da pessoa trabalhadora, nem a colocar o trabalhador numa situação de mendigar aquilo que devia ter por direito, nem esquecer os nossos direitos e deveres enquanto filhos da “Mãe Terra”.
O sistema de segurança no trabalho é outro fator de grande risco que tem levado à morte muitos trabalhadores. Nos utimos 5 anos o numero de mortes por acidente de trabalho, aumentou de 133 em 2014 para 149 em 2018, segunto estatisticas da ACT, o que corresponde a um aumento de 12%. Estes acidentes têm consequencias nefastas no plano material e moral. Para alem dos sofrimentos fisicos e morais que causam, são perdas irreparáveis para as familias e para a sociedade em geral. Os acidentes de trabalho, na maior parte das vezes, acontecem porque as empresas não agem preventivamente e não cumprem as normas de segurança, pelo que é necessário atuar para que cesse este flagelo.
Nós, militantes da LOC/MTC, não nos conformamos com esta situação e muito menos com uma visão da Igreja de costas para a realidade da vida destes trabalhadores ou com uma visão do Estado meramente assistencialista. É preciso agir nas causas da injustiça e da desigualdade e o Estado tem aqui um papel decisivo pelo que faz com os seus trabalhadores, pelo que legisla e pelo que fiscaliza.
- O caminho da LOC/MTC
Estar na LOC/MTC é um dom na medida em que ao partilharmos a nossa vida em grupo e reflectimos sobre a nossa condição de trabalhadores. Temos desenvolvido uma atenção à realidade que nos desperta para uma solidariedade activa e permanente. Também neste Movimento realizámos formação que nos ajudou a compreender melhor as mudanças laborais e a aprofundar, à luz da fé, a nossa missão junto dos trabalhadores nossos colegas ou nossos filhos e netos. Como militantes da LOC/MTC e cristãos conscientes, temos acolhido pessoas cujas experiências de vida como trabalhadores nos têm tocado profundamente. Às vezes ficamos sem palavras.
Verificamos que a LOC/MTC se tem empenhado na defesa e promoção do trabalho digno. As campanhas que tem desenvolvido pelo trabalho digno têm em vista sensibilizar trabalhadores, empregadores, a Igreja e a Sociedade. O compromisso pelo trabalho digno engrandece a DIGNIDADE DA PESSOA. Esta preocupação tem estado sempre presente no movimento ao longo da sua história, ainda que nem sempre com este nome. O mais significativo tem-se realizado a partir dos grupos de base, em acções de grupo ou de cariz individual, com destaque para a venda do Jornal Voz do Trabalho pois este meio coloca-nos em contacto com muitas pessoas, os artigos que traz tornam-se assuntos de conversa e cresce a consciência dos trabalhadores.
JULGAR à luz do Evangelho e da DSI
No XVII Congresso Nacional da LOC/MTC queremos reafirmar algumas das nossas convicções:
- A dignidade da pessoa humana, e consequentemente a dignidade do trabalhador. Esta dignidade, para nós, encontra o seu fundamento e a sua defesa em Jesus Cristo, verdadeiro homem, sem deixar de ser verdadeiro Deus, e na Boa Nova que nos deixou. E os trabalhadores nem sempre têm essa perceção. Por isso todas as realidades que os afectam são desafios à nossa missão de levar o Evangelho da dignidade ao mundo do trabalho.
- Afirmamos, com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e com a Doutrina Social da Igreja (DSI), que o trabalho não é uma mercadoria. O trabalhador não é um vendedor de serviços. O que define o trabalho não é a máquina, nem o digital, a automação ou a inteligência artificial, mas a pessoa trabalhadora.
- As novas tecnologias estão a revolucionar tudo e todos. A humanidade tem vindo a usufruir muito com os avanços tecnológicos. Está aqui o melhor do ser humano, criador, inventor, inovador. Em muitos casos a tecnologia tirou um “fardo pesado” a muitas profissões, permite chegar onde não se imaginava e gerou novas profissões. Melhoram as tecnologias,… mas as tecnologias, boas em si mesmas, têm de ser colocadas ao serviço dos trabalhadores e não contra eles, como o dinheiro e todas as ferramentas sociais da acção política. Além disso as melhorias não chegam a todos e excluem muitos outros, estão a ser usadas para aumentar as desigualdades e por isso é necessário repensar em função de quem está a Tecnologia e o que significa Progresso.
- Queremos afirmar que os trabalhadores têm direito a poder planificar a sua vida para além do trabalho. A flexibilidade e a precaridade bloqueiam qualquer projecto de vida a médio ou longo prazo, porque o trabalho marca e determina a vida pessoal, familiar e social. Tem a ver com o afeto, com o desenvolvimento da inteligência, com a capacidade de acolher as fraquezas, com a maturidade. Tem a ver com a construção da família, com a decisão de ter ou não filhos, com o relacionamento familiar esponsal e paternal/maternal. Tem a ver com a construção da democracia, com a participação nas diversas coletividades, com a cultura.
- É necessário conciliar o trabalho com a vida familiar. Congratulamo-nos com o esforço de algumas empresas que implementam medidas para este efeito, sobretudo para o cuidado e acompanhamento dos filhos ou dos idosos. Esquecemos, no entanto, o valor da família reunida: para comer, para passear, para a participação eclesial ou de outra religião. Continuam a existir muitos trabalhos ao domingo que não são indispensáveis: Comércio, fabrico de automóveis, transformação de cortiça e outros, que impedem muitas famílias de usufruir, juntos, o mesmo dia semanal de descanso.
- Os Evangelhos transmitem-nos a importância de caminhar juntos: Jesus enviou dois a dois. Mas também construiu uma equipa de doze, e as primeiras comunidades cristãs eram conhecidas pela sua relação de amor e entreajuda: “Vede como eles se amam” (cf. Act 2,42s). A acrescentar a isto a preocupação em cuidar dos mais pobres, das viúvas, dos órfãos, dos estrangeiros. Ninguém era deixado para trás. O associativismo em geral, e o sindicalismo em particular, estão próximos deste ideal, pois a força dos fracos é a união. Num tempo de tendência individualista, onde parece que cada um se basta a si mesmo, esta realidade torna-se campo aberto para leis mais permissivas e atentatórias dos trabalhadores, de manipulação ideológica e o fomento de relações individuais de trabalho. A participação organizada dos trabalhadores vai sempre mais longe.
- Ligados aos Movimentos Europeu e Mundial. Os encontros continentais e mundial do MMTC, que aconteceram em Ávila, em julho de 2017, denunciaram claramente as grandes desigualdades verificadas por todo o mundo, também em países da Europa, onde as condições de vida digna, para todos, pareciam asseguradas. Entretanto, na mensagem que enviou ao Encontro Mundial, o papa Francisco refere que “Terra Teto e Trabalho significam lutar para que todo o mundo viva conforme a sua dignidade e ninguém se sinta descartado”, e exorta “a perseverar com renovado impulso os nossos esforços para aproximar o Evangelho ao mundo do trabalho e também para que a voz dos trabalhadores seja ouvida no seio da Igreja”.
AGIR pela dignificação do trabalho
- Como Movimento de trabalhadores cristãos precisamos de fazer uma permanente, correta e colectiva «leitura dos sinais dos tempos» (cf. GS 4 e 11), valorizando e promovendo um maior diálogo com os trabalhadores, evitando de todo a rotina e as repetições ou simplesmente usar as frases feitas da comunicação social. Temos que interiorizar mais a mística da Ação Católica. Partindo da vida dos trabalhadores e das suas famílias, tentando perceber as dinâmicas da realidade e deixando-nos iluminar pelo Evangelho, podemos transformar-nos e transformar a realidade, levando a sério o compromisso militante.
- Implicar cada militante pelo seu testemunho, como cristão batizado, na missão de evangelizar os meios em que vive e, prioritariamente, o seu mundo de trabalho, tendo em conta que o plano de Deus para a humanidade é que cada ser humano seja feliz, contribua para a sua realização e a do seu semelhante.
- Envolver os militantes na missão do Movimento, o que supõe encontrar pessoas para realizar a Iniciação e encontrar as melhores respostas para assegurar o seu funcionamento a nível diocesano e nacional, sem perder de vista que somos um movimento em que acreditamos, desde as nossas origens, que são os trabalhadores “os protagonistas da sua própria libertação”.
- Comprometer cada militante na defesa dos “direitos sagrados” da “Terra, Teto e Trabalho para uma vida digna”, unindo-nos ao compromisso universal do Papa Francisco e do MMTC para fazer da “Casa Comum” caminho de humanização e de evangelização.
Comprometemo-nos:
- A valorizar, em todo o Movimento, o agir, sempre baseado na Revisão de Vida Operária (RVO). Fazer da RVO no grupo de base o motor do nosso ser militante, tornando-o um espaço de partilha e crescimento conjunto, pela atenção à vida dos trabalhadores e os seus problemas, pela escuta da Palavra de Deus e pelo sentido missionário e evangelizador que nos move. As equipas de base hão-de transformar-se em pequenas comunidades de partilha de vida, de acão e de comunhão. Devem ser reconhecidas pelo seu amor fraternal e solidário. Se o grupo de base for uma foça viva e der razões da sua Esperança na comunidade onde se insere envolverá outras pessoas neste projecto e dará continuidade ao Movimento.
- A investir mais na formação de animadores da fé para que cada equipa de base tenha um ou uma pessoa responsável pela animação na fé. Ao mesmo tempo desenvolver diálogo com a Comissão Episcopal, Bispos das Dioceses, padres, diáconos e seminaristas sobre o movimento, divulgando o seu trabalho, vida e ação e a forma como os militantes vivem a sua fé cristã.
- A prosseguir o aprofundamento da vida no mundo do trabalho, no concreto da vida, com as pessoas que vivem e trabalham ao nosso lado. Estas preocupações devem estar, prioritariamente, nas reflexões dos grupos. Mas também devem ser prioridade nas formações e nas acções que se desenvolvem a favor da humanização e dignificação dos trabalhadores e das suas famílias.
- A atuar no trabalho, nas organizações de trabalhadores e nas associações, com transparência e em espírito de serviço, procurando ser «luz do mundo e sal da terra» (cf. Mt 5,13s) e «fermento no meio da massa» (cf. Mt 13,33). A vida, com todas “alegrias e esperanças, angústias e sofrimentos” são a massa que temos para “levedar, dar sabor e iluminar” a partir dos desafios das Bem-aventuranças. A toda esta massa é preciso dar um sabor novo com persistência e sem aspirações de poder.
- Exigir políticas sociais justas no campo do Trabalho, da Educação, da Saúde, da Habitação e Segurança Social.
- A promover formações e debate sobre as novas tecnologias no mundo do trabalho e o uso das redes sociais, possibilidades e limites, especialmente quando deixam pessoas para trás. Precisamos desenvolver uma atitude critica de forma a discernir as notícias verdadeiras das falsas, Precisamos reflectir sobre a utilidade e o abuso das novas tecnologias, bem como a aprender a usar estes meios em beneficio das pessoas. São as pessoas que devem dominar as tecnologias e coloca-las ao serviço do bem de todos.
- A defender o trabalho digno, com direitos, com segurança e com justa remuneração como pilar fundamental duma sociedade democrática e inclusiva. Um dos princípios da Doutrina Social da Igreja defende que todos os seres humanos estão em pé de igualdade em relação à propriedade dos bens da Terra. Cada pessoa recebe o mandato do trabalho no ato da criação, mas esse trabalho tem de ser digno, livre, criativo e servir a todos. Por isso continuaremos a dinamizar a Jornada Mundial pelo Trabalho Digno, alargando sempre a mais espaços e grupos: Igreja, movimentos sociais e grupos da sociedade civil, alertando e implicando sempre os outros para estas causas. E continuaremos a divulgar a mensagem do MMTC para este dia, lembrando todos os movimentos de trabalhadores cristãos que, noutros países e continentes, estão connosco nesta celebração.
- A fortalecer a relação e articulação com os outros Movimentos, nomeadamente da Pastoral Operária (PO) e do Compromisso Social Cristão (CSC), a fim nos ajudarmos mutuamente a viver mais intensamente o compromisso social de crianças, jovens e adultos no ministério pastoral de cada um e na construção do bem comum.
- A alargar o debate à sociedade civil sobre o justo equilíbrio da vida familiar e profissional, sobretudo na defesa do «Domingo Livre», a fim de valorizar a família reunida, a dedicação às associações, à cultura e à comunidade que normalmente ocorrem ao domingo. Mas também é preciso debater os horários, as horas extras e o direito a desligar (não estar conectado), bem como a redução do horário de trabalho para o redistribuir.
- A dar atenção ao debate e às propostas para uma melhor protecção social, especialmente dos que são forçados a reformar-se mais cedo, dos cuidadores e daqueles que pouco descontaram para a Segurança Social porque não terem tido emprego ou que viveram de empregos precários. Aqui se insere também a questão de um Rendimento Básico ou de outras formas de sustentação dignas para todos, porque a introdução destas novas tecnologias também levanta questões de sustentabilidade da Segurança Social.
- A valorizar no seio do trabalhadores e no seio da Igreja a missão sindical, a sua importância na defesa dos trabalhadores e o seu contributo para o diálogo social.
- A reforçar os valores da Economia Social e Solidária que conjugam economia com solidariedade, perspectiva ecológica, diversidade cultural, reflexão crítica, democracia participativa e desenvolvimento local, regional e nacional, aumentando o sentido de comunidade. Em conjunto, construir novas dinâmicas para tentar encontrar novas respostas.
- A dinamizar o estudo e aprofundamento da Laudato Si, treinando as competências de reconversão a uma ecologia integral, incluindo o trabalho. Promover debates e partilhas de experiências sobre novos estilos de vida, que privilegiam a simplicidade e o desprendimento, que respeitam o meio ambiente e os recursos naturais, como meios de alcançar mais equidade e oportunidades de acesso a bens e serviços a todas as pessoas e povos.
- A despertar os militantes, os cristãos e os trabalhadores em geral, para a importância da educação financeira, do consumo responsável, do discernimento do que é essencial para viver com dignidade e qualidade, e do que é supérfluo, no respeito pelo meio ambiente, pelos recursos naturais e pelos bens universais da nossa casa comum. Não fazer compras ao Domingo pode ser uma forma de sensibilizar.
- A ajudar a que cada militante tome consciência da urgente missão de cuidar da «casa comum»; promovendo uma cuidada educação ambiental e alimentar, tendo também em conta todos os estudos que hoje nos alertam sobre as consequências, na saúde de cada um e no meio ambiente, originadas pela produção intensiva e uso abusivo de pesticidas nos produtos alimentares.
Combatemos a indiferença perante as injustiças cometidas contra os mais desfavorecidos da sociedade. O Papa Francisco tem feito do Trabalho digno e justamente remunerado um pilar do seu Pontificado e com a sua reflexão, denuncias e propostas, tem os trabalhadores no centro das suas preocupações. Ligadas a estas, as questões da economia, da participação na construção da democracia, do papel das organizações dos trabalhadores, da distribuição das riquezas, do cuidado e da dignidade dos pobres. É no meio de tudo isto que está a missão dos cristãos no mundo e para nós, em especial, a missão da LOC/MTC no mundo do trabalho.
Queremos participar de uma Igreja profética, denunciando esta economia que exclui e mata, e aqueles que a protagonizam, bem como os processos usados para amedrontar e continuar a alimentar um tipo de sociedade de acumulação das riquezas nas mãos de muito poucos, à custa da miséria e privações de tantos.
Queremos continuar a ser um movimento de Ação Católica, vivendo e desenvolvendo a nossa espiritualidade, encarnada na vida do mundo do trabalho, dos trabalhadores, das suas famílias, e principalmente, das vítimas das injustiças e da pobreza laborais.
Queremos ser atores numa igreja viva e atuante, continuamente desafiados a viver as Bem-aventuranças, integrados nos dinamismos duma sociedade que é capaz de acolher, proteger, promover e integrar todas as pessoas, dando corpo ao projeto Libertador de Deus para a Humanidade e à construção do Seu Reino já entre nós.