Gn. 2,2 “Ao sétimo dia, Deus tinha terminado a sua obra e descansou de tudo o que tinha feito”. Gn 2,3 “E Deus abençoou o sétimo dia e declarou-o dia Santo, porque nesse dia Deus descansou de toda a sua obra criadora”.
Assim está escrito na Bíblia, o livro que nós cristãos consideramos o livro dos livros.
Assim nasceu o nosso domingo. Jesus volta a sublinhar a importância do domingo, porque, afinal, é neste dia que comemoramos a sua ressurreição. Passou muito tempo e estamos agora no ano 2024 d.C. e as pessoas continuam a desfrutar do domingo como um dia de folga, mas o contexto mudou. Vivemos na sociedade do lazer e descobrimos o domingo como o dia para ser preenchido com múltiplas atividades. A sociedade do lazer não tem tempo, afinal, para o lazer e o descanso. Não há tempo a perder, cada hora de lazer conta. “O tempo despendido na celebração da Eucaristia ameaça tornar-se uma ameaça à minha liberdade”, pensarão provavelmente muitos. A ida à igreja tem de dar lugar à pista de atletismo ou ao campo de futebol.
Por outro lado, há já alguns anos que se constata que a sociedade do lazer está a tornar-se cada vez mais orientada para o consumo. O consumo está a tornar-se a forma superior de lazer, o que é do interesse de certas grandes empresas, porque as lojas que não estão abertas ao Domingo não podem vender. Qual é a conclusão a tirar deste facto? A conclusão é que as pessoas devem poder ir às compras ao domingo, devem poder satisfazer as suas necessidades materiais sem restrições, em nome da realização pessoal e da liberdade de escolha pessoal.
Muitas organizações católicas, evidentemente, têm uma visão diferente, como as mulheres da Associação de Trabalhadores Católicos do Sul do Tirol, na Itália, que redigiram a declaração deste ano do MTCE, o Movimento de Trabalhadores Cristãos da Europa. O domingo deve continuar a ser um dia para a família, um dia sem frenesim consumista, simplesmente um dia em que se pode desligar e orientar-se para Deus. Sem obrigação, é claro, mas como uma oportunidade para nos orientarmos, para sermos espirituais. Mesmo que isso não corresponda ao espírito dos tempos atuais.
As mulheres da KVW (Associação Católica dos Trabalhadores) estão empenhadas nesta questão há muitos anos e sublinham repetidamente a importância de um domingo livre para a nossa existência. “Deem à alma um domingo e ao domingo uma alma”, terá dito um escritor de contos do século passado. Encontrar um sentido para a vida não deve ser guiado pelo consumo, mas sim por pausas, por interrupções nos desafios em constante mudança da vida humana. “Queremos continuar a trabalhar para sensibilizar as pessoas para a importância de um domingo com sentido e estamos a fazê-lo através de várias campanhas”, afirma Heidrun Goller, presidente da KVW, sabendo bem que a tendência para a abertura de mais centros comerciais ao domingo já não pode ser travada. “Queremos também chamar a atenção para o facto de cerca de 70% dos empregados serem mulheres, algumas das quais com empregos precários, e temos de as proteger também”.
Entre as campanhas promovidas pelo KVW destaca-se o calendário de proteção dominical, que foi criado em colaboração com crianças em idade escolar e famílias durante anos. Também se publica regularmente comunicados de imprensa sobre a proteção ao domingo. A última campanha consiste em recompensar as empresas do sector retalhista cujos proprietários mantêm deliberadamente as suas lojas fechadas ao domingo com um certificado de honra, expressando assim o reconhecimento pela sua decisão de renunciar aos lucros e pela sua gestão empresarial favorável à família. “O domingo é um feriado e eu apoio-o”, é o mais recente lema do KVW, Que assim seja para todos os Trabalhadores e Trabalhadoras da Europa.