Introdução
A proposta de Linhas de Orientação, que se apresenta, pretende estimular a vida e fomentar a ação da LOC/MTC nos próximos três anos. Apoiada no slogan “Humanizar e Evangelizar o Mundo do Trabalho”, foi elaborada a partir dos contributos das Revisões de Vida Operária feitas pelas Equipas de Base e Diocesanas e pelas conclusões do Encontro Nacional de Coimbra. Reflete o olhar atento e conhecedor de quem vive e sente as angústias e as esperanças destes tempos difíceis. Está fundamentada no Evangelho e no Ensino Social da Igreja que nos anima na nossa missão evangelizadora do mundo do trabalho, na certeza de que é pelo testemunho de vida e pelo envolvimento cívico nas organizações culturais, sociais, sindicais, políticas e eclesiais que materializamos a nossa vocação. Durante os últimos 3 anos, em que a LOC/MTC assumiu como prioridade de ação a procura de uma “Sociedade Justa e Sustentável, com trabalho para todos”, foram muitas as mudanças na vida dos trabalhadores e das suas famílias, infelizmente, na generalidade, para pior. A desvalorização e desumanização do trabalho com a consequente destruição de postos de trabalho tornaram-se nas principais causas dessas mudanças. A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) no seu comunicado sobre Desafios éticos do trabalho humano de novembro de 2013, nº 1, já afirmava: “Um dos problemas mais graves que hoje atingem o nosso País diz respeito à situação do mundo do trabalho… Sobressai a elevada taxa de desemprego dos jovens, muitos dos quais escolheram a emigração como forma de obterem o que não encontram no seu País. Também muitas pessoas de meia-idade vivem situações complicadas de adaptação laboral num período repleto de encargos económicos, devendo merecer uma solicitude particular por parte da sociedade e do Estado”. Esta realidade, que ofende a dignidade humana, tem graves consequências para as famílias, como se pode confirmar, pois muitas perderam a habitação e deixaram de poder alimentar os filhos, assegurar o acesso à educação, à cultura, à saúde ou à justiça. Por isso afirmamos que é necessário e urgente investir na humanização e evangelização do mundo do trabalho.
 

VER

 

Desvalorização do trabalho, desemprego e trabalho precário
Foram relatadas muitas e diversas situações que identificam a grave situação que se vive no mundo laboral e que vincula a desvalorização e falta de dignidade no trabalho:
1. Uma jovem que foi despedida por fazer perguntas; Um homem de 55 anos que aceitou trabalhar sem descontos, depois de um tempo desempregado; Uma jovem que tinha de estar sempre disponível, apenas com o ordenado mínimo; Enfermeira que expôs o que tem de horroroso o desemprego, naquele que o vive e na sua família; Empregada de limpeza humilhada porque lhe colocam piriscas de cigarros de propósito para o chão onde trabalha: Jovens, muitos jovens, desempregados.
2. Empregos precários em serviços desajustados da sua preparação técnica e em estágios, remunerados ou não; Trabalhadores controlados e ameaçados de desemprego, com recurso a Câmaras de Vídeo; Trabalhadores obrigados a fazer horas extras, mal pagas, quando o são, ou para o Banco de Horas, avisados no próprio dia; Trabalhadores em, permanente, sobressalto, mesmo na função pública que parecia apresentar maior estabilidade laboral. Muitas situações de medo.
3. Famílias que, por lhes ter caído o desemprego em casa, passaram a viver com dificuldades e sem rendimentos que suportem as suas necessidades primárias e honrem os seus compromissos; Avós e pais, com pequenas pensões, com filhos e netos desempregados, que têm que dar de comer a toda a família; Horários de trabalho descontrolados no agregado familiar, por vezes incompatíveis com os horários das Instituições onde estão os filhos mais pequenos; Muitas crianças retiradas dos infantários e muitas há, que vão para a escola com fome.
4. Jovens a trabalhar em contratos precários e com salários baixos, mesmo com formação superior: ao dia, à semana, ao mês, depois ficam sem nada. Mais tarde encontram outro contrato num serviço diferente. Isto torna-se frequente durante anos! Trata-se de uma realidade fomentada sobretudo por empresas ditas de “trabalho temporário” e falsos contratos de prestação de serviços a atingir também muitos outros trabalhadores, mas sobretudo os trabalhadores migrantes.
5. Os trabalhadores estão cada vez mais pobres e sem condições de vida digna. Há claramente uma desvalorização do trabalho, que leva à destruição de postos de trabalho e consequentemente à pobreza. Essa desvalorização leva também a que muitos sejam pobres, mesmo tendo trabalho e emprego, dado que o salario que recebem, o mínimo ou menos, mantem a sua família abaixo dos níveis de pobreza.
6. Todos os indicadores falam de aumento da insegurança na família, no posto de trabalho, nas ruas, nos bens. Aumentam as doenças do foro psiquiátrico provocadas pela insegurança permanente, pelos medos acumulados, pela incapacidade de cumprir compromissos assumidos, pelo sentimento de inutilidade. Aparecem mais problemas de álcool, prostituição, roubo, violência, desprezo pela vida e até de suicídio.
7. Há descrédito pelas instituições públicas e seus dirigentes e pelo associativismo que se junta a um sentimento de impotência e revolta, que resulta em acomodação, admitindo a instabilidade como situação normal.
8. O desemprego é muito elevado, mesmo o de longa duração, que deixa uma grande percentagem de desempregados sem subsídio de desemprego e sem proteção social, empurrados para a precaridade e exclusão.
9. Os trabalhadores estão sob grande pressão nos seus locais de trabalho, devido às exigências que lhes são impostas e à sobrecarga de horários de trabalho, o que os desmotiva e deprime, e que se acentua mais nos jovens.
10. O direito ao trabalho é cada vez mais ameaçado. “Andámos tantos anos a lutar pela redução do horário de trabalho e pelo aumento dos salários e agora de um momento para o outro tiram-nos quase tudo”. Em muitas empresas é escandalosa a diferença salarial entre os gestores de topo e o comum dos trabalhadores das mesmas empresas.
11. Estes anos de crise financeira e económica tiveram repercussões devastadoras sobre o mundo do trabalho. O fomento da economia especulativa, tipo casino, o oportunismo e a corrupção, a acentuada desregulamentação das leis do trabalho, o desincentivo à participação dos trabalhadores na vida das suas empresas, a redução abrupta do valor do trabalho, o aumento do desemprego e da precaridade do emprego, reformados com pequenas pensões e com dificuldade em fazer face às suas necessidades tendo de fazer restrições na sua alimentação nos gastos com a saúde e na sua integração social, são algumas das marcas deixadas pela crise. Face a esta situação como pensar a Segurança Social para ser resposta e garantia das pensões no futuro?
 
Falta de humanismo e de Trabalho Digno
12. A realidade que mais salta à vista nas RVO apresentadas são situações de MEDO. Medo de perder o emprego; Medo dos colegas; Medo das chefias intermédias; Medo de fazer perguntas, Medo de ser sindicalizado. Esta realidade embrutece as pessoas, cria ansiedade, provoca estados depressivos, desumaniza. É preciso muita coragem para combater o medo e não esperar pelo pior.
13. Outra situação referida é o trato desumano. Falta de educação, de civismo, de respeito. Predomina a arrogância, os subordinados são tratados como coisas. A humilhação atinge também os desempregados que são obrigados a procurar empregos onde não existem.
14. A frieza, a falta de pudor e de respeito pela dignidade das pessoas por parte de muitos empresários e governantes é uma das notas mais relevantes da atual situação social, agravada pela aprovação de leis desfavoráveis aos mais fracos e desprotegidos.
15. A crise não se instalou só na economia, mas, também, no coração de muitos seres humanos que se resignaram à sua condição social precária, desenvolvendo um processo de discriminação social, de angústia, de tristeza até de infelicidade, que tem levado à desistência de uma vida ativa e de cidadania.
16. O trabalho, pelos vínculos laborais cada vez mais frágeis e pelos abusos de toda a ordem, em vez de realizar, dignificar, trazer alegria, tem-se transformado em castigo e frustração.
17. Ao mesmo tempo, entregam-se os recursos naturais e produtivos a privados e a multinacionais, que cilindram pequenas e médias empresas, desenvolvem a corrupção, os “paraísos fiscais”, a especulação financeira, a deslocalização de empresas, provocando aumento da precaridade, da pobreza e da exclusão social. Para além disso exigem dos trabalhadores disponibilidade permanente, vinte e quatro horas por dia e em qualquer parte do mundo.
 
Razões de Esperança
18. Constituir família estável, ter filhos, vê-los crescer com alegria, fazer planos para o futuro e ter uma velhice tranquila, não será este um direito muito humano? Apesar da família estar a ser atacada de muitas maneiras, especialmente pelas condições de trabalho, não deixemos que nos roubem o direito de sonhar.
19. Assiste-se a algum acordar das pessoas a olhar para o seu semelhante, a combater o egoísmo, tomando consciência de que não estão sós e que fazem parte de um todo, que também são responsáveis pelos que estão ao seu lado. Vai-se notando um maior sentido ético e de indignação contra as injustiças e a corrupção. Tem-se tomado alguma consciência da importância e da necessidade da unidade, acreditando que outra sociedade, justa e sustentável, é possível, tornando mais fácil a vida dos trabalhadores.
20. Aos efeitos da crise a sociedade política está a responder com critérios assistencialistas, tentando amaciar os estragos de uma economia sem rosto humano. Não está a enfrentar as causas nem interessada em libertar as pessoas da pobreza. Mas as pessoas e instituições civis têm sido mais solidárias; têm manifestado a sua indignação, sem violência; existe maior solidariedade familiar; têm desenvolvido a economia social e aumentado o cultivo de pequenas hortas, para ajudar nas despesas e na alimentação, notando-se uma maior procura de alternativas à austeridade e a esta economia, que mata, como diz o Papa Francisco.
21. Em alguns países já está em discussão a possível implementação de um Rendimento Básico que coloque todas as pessoas acima do limiar da pobreza, e que lhes permita viver com dignidade. Esta ideia visa uma melhor repartição da riqueza e defende a superioridade moral do homem sobre o capital, dando resposta aos três pilares básicos do Magistério Social da Igreja: a dignidade da pessoa, o bem comum e o destino universal dos bens.
22. A solidariedade ainda não morreu. Nem tudo está perdido. A humanidade tem ainda capacidade para reconstruir a casa comum. A Fé em Jesus Cristo, a Doutrina Social da Igreja e o testemunho que o Papa Francisco está a dar ao Mundo, são as principais razões da Nossa Esperança.
 
JULGAR
Estes anos de crise financeira e económica têm tido repercussões devastadoras sobre o mundo do trabalho. Diante do sofrimento de tantas pessoas e impotentes face ao poder económico que domina tudo, incluindo as decisões políticas, que continua a esmagar e deitar fora pessoas, temos de nos interrogar: Que quer Deus de nós neste momento concreto da história? Que quer da Igreja, da nossa militância cristã? Como anunciar e irradiar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe? Qual o nosso futuro? Existe futuro? Como resistir à expansão do sistema neoliberal? Vislumbramos alguma possibilidade de o David vencer o Golias (1Sam 17)? De os milhões dos ricos valerem menos que as duas moedas da pobre viúva (Mc 12, 43-44)? De os cinco pães e dois peixes poderem saciar a multidão (Mt 14,17-21)? Jesus manda-nos fazer “impossíveis humanos”: “Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10,3) e para isso dá-nos o seu Espírito. Só assim podemos amar como Ele nos ama. O que é que o Espírito diz à Igreja de hoje e ao mundo de hoje? E a nós, militantes?
 
23. A Igreja, nos últimos séculos, apresentou-nos predominantemente um Deus em si mesmo, infinitamente perfeito, Criador e Senhor de todas as coisas, um Deus alheio ao mundo e ao homem. E os filósofos colocaram o homem contra Deus tomando-O como concorrente e mesmo inimigo da sua liberdade, da sua dignidade. Agora vamos tendo a reação: um mundo, uma ciência, uma política, uma economia, um homem, uma sociedade sem Deus. E pior do que isso: uma sociedade sem homem, sem humanismo. Mas Deus é Deus com o homem. Cada manhã, através da sequência dos dias e das noites, ele nos fala ao coração. A certeza do nascer do sol não depende dos poderes deste mundo, é pura gratuidade, expressão do bem-querer do Criador. É promessa que não falha.
24. Uma nova experiência de Deus, em pequenas comunidades, feita à volta de Jesus Cristo, descobrindo os seus gestos e palavras, especialmente para com os pobres, revelar-nos-á um Deus próximo, comprometido com a sorte de todos e de cada um. Dar-nos-á uma nova imagem de Deus. Deus é Pai (Is 63,16; 64,7), é Mãe (Is 46,3; 49,15-16; 66,12-13), é Marido (Is 54,4-5; 62,5), é o parente próximo (goêl ou irmão mais velho) (Is 41,14; 43,1). Javé, o Deus que antes estava ligado ao Templo, ao culto oficial, ao sacerdócio, ao clero, à monarquia, agora está perto de nós, “em casa”; casa pequena, frágil e, humanamente falando, sem futuro, mas Casa. Quando se fala em casa, não se trata só da casa de tijolos ou de pedra, nem só da família pequena, mas da comunidade. As primeiras comunidades cristãs reuniam-se nas casas. A “casa” é principalmente expressão de fraternidade, hospitalidade, acolhimento dos diferentes.
25. A história não começou com a revolução industrial nem vai terminar com a revolução tecnológica, reino, poder e glória nas mãos dos ambiciosos. Deus também faz história a partir dos pobres e dos indefesos. O homem está chamado à comunhão com Deus (GS 19) e dessa comunhão surgem os “impossíveis humanos”, que Jesus nos manda realizar. O mundo pode ser diferente. Todos podem viver com dignidade. A justiça e a paz são possíveis. Precisamos escutar e acreditar no que o Espírito tem a dizer ao nosso tempo.
26. Os cristãos têm uma missão a realizar no seio da criação, que brota da sua fé: juntar justiça com amor. Ao mesmo tempo que se presta atenção às vítimas acudindo às suas aflições, promove-se o compromisso de torná-las protagonistas da sua própria libertação. A ajuda não pode asfixiar a sua capacidade de ser sujeitos, protagonistas da sua própria luta contra a pobreza. É necessário colocar os pobres no interior da Sociedade e da Igreja, não permitir que permaneçam na margem, que sejam sobras,… mas dar-lhes a palavra.
27. Para se compreender o nosso tempo, não se pode ignorar que a reivindicação da justiça e a exigência de participação ganharam um lugar central nas nossas sociedades democráticas. A democracia não pode reduzir a participação dos cidadãos ao exercício do voto e à intervenção partidária, antes deve permitir a multiplicação dos lugares de afirmação cívica e de cidadania, possibilitando desse modo a integração de muitos que hoje são excluídos. De modo mais concreto, não podemos iludir quanto a justiça e a participação foram postas em causa numa área de grande centralidade para a vida social: o trabalho.
28. Neste contexto, é urgente que a Igreja proceda a uma renovada reflexão antropológica e teológica sobre o trabalho numa sociedade e numa economia que, em nome da competitividade e do “deus mercado”, desvaloriza económica e socialmente o trabalho – de tal modo que o trabalho, em muitos casos mal remunerado, já não é garantia de superação da pobreza, mas manutenção dessa condição e de aviltamento com situações de grande sofrimento. “O trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal. Neste sentido, ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho. (…) A diminuição dos postos de trabalho tem também um impacto negativo no plano económico com a progressiva corrosão do “capital social” (…) Renunciar a investir nas pessoas para se obter maior receita imediata é um péssimo negócio para a sociedade” (Louvado sejas nº 128 – Papa Francisco).
29. “Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de proteção social” (artº23 da Declaração Universal dos Direitos do Homem); “Todos têm direito ao trabalho” e “à assistência material, quando involuntariamente se encontrem em situação de desemprego” (artº58 e 59 da Constituição da República Portuguesa). O Trabalho é para a pessoa e não a pessoa para o trabalho. Por isso, a pessoa nunca deve ser instrumento mas sempre o sujeito e o fim do trabalho. O trabalho digno, que respeita os direitos dos trabalhadores faz de cada ser humano um ser mais feliz, um agente de esperança, da inovação e da partilha de saberes que, completando a Obra do Criador, o coloca ao serviço de um mundo novo, onde possam jorrar a paz, a justiça e a fraternidade.
30. Temos de voltar a interrogar-nos sobre se é aceitável e sustentável uma sociedade em que apenas se garante trabalho a uma parte reduzida da população ativa. Será que caminhamos para uma sociedade fraturada entre os que têm trabalho, e portanto algum rendimento, e os que nunca conseguem emprego? Não será a pergunta de Deus: “Caim, onde está teu irmão Abel?” (Gn 4, 9) hoje traduzível por: “Como podemos conviver com uma realidade em que uma minoria tem bons empregos e a maioria vive sem trabalho remunerado, sem estabilidade, sem condições de dignidade?” E não será que a lógica cristã da partilha se deve também estender à partilha do trabalho, desse modo garantindo, ao mesmo tempo, a realização de cada pessoa e uma sociedade mais solidária e coesa?
31. Para a pessoa que vive machucada e triste, desempregada, não servem as estatísticas da análise da realidade, para que ela levante a cabeça e comece a ver a sua situação com esperança renovada. É necessário, antes de tudo, cuidar do pão para a boca e das feridas do coração, acolhendo-a com muita ternura e bondade. Os discípulos de Jesus têm de prestar os primeiros socorros e ter uma conversa atenciosa, cheia de ternura e consolo, de acolhimento e encorajamento. Indignados com as injustiças, mas sem ódios no coração, agem numa atitude de ternura nunca vista antes, que funciona como bálsamo e dispõe as pessoas para olhar a realidade com mais objetividade. “O comportamento da pessoa é plenamente humano quando nasce do amor, é manifestação do amor e é orientado ao amor. Esta verdade não é socialmente reconhecida: é necessário que os cristãos sejam testemunhas profundamente convictas e saibam mostrar, com a SUA vida, como o amor é a única força (cf. 1 Cor 12, 31-14, 1) que pode levar à promoção pessoal e social e mover a história rumo ao bem" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja 580).
 
A LOC/MTC quer viver um projecto de evangelização do mundo laboral, e do trabalho no seu conjunto, propondo a forma de ser e de viver profundamente humana que nos oferece Deus, em Jesus Cristo, para colaborar na construção de uma realidade pessoal, familiar e social mais de acordo com o plano de Deus.
 
AGIR
Precisamos:
• Motivar através da palavra, dos contactos, da solidariedade, com os outros, as estruturas políticas, os movimentos e redes sociais, fazendo a crítica, a denúncia das injustiças e das suas causas, da má repartição da riqueza criada, e reivindicando – tomando posição do lado dos trabalhadores – uma sociedade mais justa e fraterna, numa economia ao serviço da pessoa humana, na qual os bens materiais e espirituais sejam acessíveis a todos.
• Dar maior relevo à partilha em grupo e entre grupos, que permita alimentar a motivação de cada um de nós para compreendermos melhor o mundo que nos rodeia e qual o nosso papel enquanto Cristãos, para podermos, através do Movimento, chegar a outros;
• Interiorizar e assumir o nosso compromisso com o Movimento e com a sua missão evangelizadora e profética de denúncia e anúncio.
• Fazer pressão em conjunto com sindicatos e outras organizações para que surjam e se apliquem leis que acabem com todos os tipos de precariedade e de pobreza (recibos verdes, banco de horas, trabalho clandestino,…). O ser humano sem trabalho digno não se realiza, não tem independência económica, não pode contribuir para o desenvolvimento social. O trabalho digno, justamente remunerado é, pois, pilar fundamental do progresso, centrado na pessoa, que prioriza a justiça social, a distribuição da riqueza e respeita a sustentabilidade dos recursos naturais. “O Papa Francisco identificou três instrumentos fundamentais para a inclusão social dos mais necessitados: a instrução, o acesso à saúde e trabalho para todos”.
 
Para isso, nos comprometemos a:
32. Estar atentos e a acompanhar com sentido de serviço, a vida das nossas comunidades e grupos, a ouvir as vítimas do desemprego, da precariedade, dos espoliados da dignidade, no sentido de cuidar, de ir ao encontro de cada um, praticar a terapia do afeto de que o Papa tanto nos fala, a terapia do cuidar, que acolhe e cura.
33. Defender e valorizar o trabalho digno, como um direito e fonte de realização humana e a negociação coletiva de trabalho, por salários mais elevados como forma de distribuição mais justa da riqueza; lutar pela redução do tempo de trabalho, para que este bem precioso possa ser distribuído por todos, defendendo que as precariedades e inseguranças não podem ser normalidade. E valorizando as organizações de defesa dos trabalhadores.
34. Acompanhar e estimular outros a perceber os acontecimentos da sociedade, a saber interpretá-los e a dialogar, de modo a fomentar a participação na vida social.
35. Lutar contra o individualismo e a indiferença provocando conversa, mesmo nos espaços espontâneos de café, de transportes, filas de espera, sobre as causas públicas, o bem comum, a defesa da dignidade humana.
36. Acreditar que cada um é portador de Esperança, que somos agentes ativos, capazes de transformar e renovar os nossos ambientes, de dar o nosso contributo. Valorizar as mudanças que acontecem a partir do envolvimento e da atitude/agir de cada um de nós e incentivar ao associativismo na procura de respostas para os problemas.
37. Valorizar a participação em parcerias e o trabalho em rede, abrir-nos a outros e ver o que de bom têm, aumentar o sentido de comunidade. Em conjunto, construir novas dinâmicas para tentar encontrar novas respostas.
38. Desenvolver mais abertura a novas culturas, maneiras diferentes de viver, de pensar, de fazer, acolhendo os novos grupos de refugiados e imigrantes que vêm até nós e fazer o que está ao nosso alcance para a sua integração. Pensar que com eles temos a aprender e a ensinar. Nós, também, ao longo da história fomos um povo emigrante. Jesus Cristo também foi um emigrante na terra do Egito. A Bíblia pede especial atenção para os grupos mais vulneráveis que são: os emigrantes, os órfãos e as viúvas.
39. Assumir a responsabilidade do compromisso Cívico e Cristão na aproximação de vários grupos e diferentes gerações e na sensibilidade à proteção do meio ambiente.
40. Apostar e investir mais na formação pessoal ao longo da vida. Aguçar mais o interesse pelo que se passa nos nossos locais de trabalho e pelos diferentes saberes de modo a melhorar o nosso envolvimento e a nossa maior formação e emancipação.
41. Ter consciência de que hoje a realidade é global, pensa-se à escala global. O que acontece em qualquer parte do globo afeta direta ou indiretamente a minha comunidade, pode implicar com o mundo todo, e o contrário também. Isto exige que o nosso olhar também seja à escala global e abra o nosso horizonte de conhecer e saber.
42. Aprofundar, dialogando e debatendo, no Movimento e com outras associações e grupos, a ideia de um Rendimento Básico Incondicional.
43. Denunciar as injustiças, tanto do meio laboral, como social, com tomadas de posição públicas e locais.
44. Dar visibilidade às preocupações e ações dos Movimentos de Trabalhadores Cristãos a nível mundial, europeu, nacional, diocesano e de grupo. Aproveitar essas ações e temas para abrir diálogo com outros movimentos sociais e com as pessoas.
45. Motivar os militantes para um maior uso e valorização dos meios do Movimento, o Boletim de Militantes, o jornal Voz do Trabalho, as Redes Sociais e as ações que o Movimento promove, fazendo eco delas nos nossos meios de vida, divulgando-as junto das pessoas com quem convivemos e contatamos.
46. Continuar a trabalhar para a expansão da LOC/MTC, procurando sempre novas maneiras de chegar a outros; cativar, convidar e envolver nas nossas causas, nossas ações e preocupações.
47. Implementar nos grupos de militantes e de iniciação a prática da Revisão de Vida Operária como fortalecimento da nossa fé e do nosso agir militante. Motivar cada militante, cada grupo a definir o seu campo de ação e agir no seu meio, com quem convive.
48. Valorizar em cada grupo o sentido da amizade, da união fraterna. Que o “Vede como eles se amam”, dê sentido e fortaleça os nossos ambientes e grupos.
49. Ousar defender sempre em todos os nossos meios de vida, os princípios da dignidade, humana que constrói e dá força.
50. Fomentar e investir no estudo da palavra de Deus e descobrir em cada momento razões da nossa Esperança fundamentada no estudo do Evangelho, na DSI, e na formação da Fé.
51. Continuar a articulação com os Movimentos da Pastoral Operária no sentido de se fortalecerem uns aos outros e poderem projetar para fora novas iniciativas comuns e encontrar formas de maior visibilidade dos Movimentos.
52. Despertar para a importância da educação financeira, do consumo responsável, do discernimento do que é essencial para viver com dignidade e qualidade, e do que é supérfluo, no respeito pelo meio ambiente, pelos recursos naturais e pelos bens universais da nossa casa comum.
53. Continuar a celebrar o Dia Mundial do Trabalho Digno – 7 de Outubro -, em conjunto com os Movimentos Europeu e Mundial, com ações viradas para o exterior, questionando e levando a pensar, envolvendo e cativando outros.
 
Não ficaremos indiferentes e comodamente instalados perante as injustiças cometidas contra os mais desfavorecidos da sociedade. Vamos ser cidadãos mais ativos e empenhados na denúncia das causas que provocam uma sociedade tão desigual. Não nos vamos demitir dos nossos deveres cívicos e políticos, e seremos agentes de transformação no implementar de uma nova vivência social, baseada nos valores cristãos.