Talvez seja necessário começar a explicar tudo de novo. O Filho de Deus feito homem, nascido no mais pobre dos espaços disponíveis, numa manjedoura, anunciou: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João.10:10)

O mundo de hoje, naquilo que mais diretamente diz respeito à vida dos trabalhadores e aos pobres, está cheio de más notícias. Problemas como os salários baixos e perda do poder de compra, a precariedade do trabalho, os longos e desregulados horários de trabalho, os acidentes de trabalho, as más condições de trabalho, cada vez mais difícil o acesso à habitação, as convulsões na saúde, a carestia de vida, um rasto enorme de migrações forçadas por razões financeiras e devido a catástrofes climáticas. Tudo isto após uma pandemia seguida de guerras e as suas nefastas consequências em perda de vidas e de bens essenciais para as suas vítimas, com todas as suas consequências a espalhar-se pelo mundo. É onde o sofrimento é palpável que o Natal está mais presente. Há tristezas tão profundas, silêncios que clamam justiça, que tocam os corações.

Com passos muito lentos foi-se ganhando terreno à pobreza, pequenas décimas de melhoria. Presentemente em algumas regiões do globo, regredimos para situações de extrema pobreza e escassez de bens essenciais para a sobrevivência das populações. Tudo isto se torna ainda mais grave, estando-se perante uma crise climática, neste mundo que nos alberga, a nossa casa comum. Acreditamos que, “os esforços das famílias para poluir menos, reduzir os esbanjamentos, consumir de forma sensata estão a criar uma nova cultura”. (L. D. 71) Na certeza, porém, de que “as soluções mais eficazes não virão só dos esforços individuais, mas sobretudo das grandes decisões da política nacional e internacional”. (L. D. 69)

O Deus menino, que celebramos em cada Natal, veio para “anunciar uma Boa Nova aos pobres”. Os que o acolheram e propagam os seus valores, não se conformam; “não vos conformeis com as estruturas deste mundo, mas transformais-vos: renovando a vossa maneira de pensar e julgar” (Rom 12,2) e dizemos nós, renovando a maneira de agir, atuar no meio, ser cidadãos ativos e intervenientes pela transformação das injustiças deste mundo.

O NATAL, traz-nos uma mensagem de amor e de paz, de encontro de homens e mulheres, para aprendermos a viver de forma fraterna, a sermos cada vez mais humanos, acolhedores e restauradores da dignidade e da justiça, cuidadores uns dos outros com amor incondicional, em especial dos mais excluídos, os que caíram para últimos da sociedade. Animados pelo Espírito de Deus, procuramos agir nos locais de trabalho e de convivência humana, por melhores condições sociais para todos, contribuindo para sermos Igreja em saída, expressão de sinodalidade.

NATAL, uma frágil criança veio assumir a condição humana, a partir do último dos últimos, para denunciar os males da sociedade e demonstrar o poder que todos têm de praticar o bem, ser solidários, criar comunidade, ser força no conjunto. Comemorar o Natal de Jesus Cristo, filho de Deus que se fez humano, que partilha o caminho da humanidade, é algo muito belo.

Os Cristãos e todos os seres humanos com valores éticos, ao celebrar o Natal, devemos estar abertos a realizar uma profunda reflexão pessoal de como sermos continuadores dos valores e da mensagem de Cristo. Vamos cultivar a arte de compreender, de ver mais a fundo, de ver além do papel de embrulho e das luzes de Natal. Sermos interpretadores da vida quotidiana à luz da fé, retirar significado das experiências, dos acontecimentos da vida de todos os dias, até dos mais difíceis de compreender. “Levanta-te e caminha” (Jo 5,8) é a chave da vinda de Jesus para os pobres. Vivemos atentos ao sofrimento dos outros ou de costas voltadas para a realidade? Preparemo-nos para enfrentar o futuro, sempre novo e desconhecido.

Que neste Natal nos deixemos levar pela entrega generosa dos que sabem que Deus nasce em nossos corações e nos motiva a alcançar uma vida radicada no Amor. Todos os dias, em algum lugar do mundo, há um presépio vivo. Grande desafio para todos nós!

Feliz Natal!